O encontro entre o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terminou sem êxito. A reunião, realizada em Hanoi, capital do Vietnã, tinha como objetivo resolver as tensões sobre o programa nuclear da Coreia do Norte.
Depois de um começo promissor, Kim e Trump não conseguiram chegar a um acordo. Tanto que o presidente dos Estados Unidos deixou Hanoi antes do previsto, acusando o ditador da Coreia do Norte de ter provocado o fracasso do evento.
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Segundo Trump, o problema foi que Kim pretendeu o fim completo das sanções econômicas e políticas. Algo que os EUA não podiam conceder. Além disso, o ditador não teria concordado com os termos da desnuclearização propostos pelos americanos.
“Eu teria conseguido um acordo hoje, mas não teria sido bom. Às vezes é necessário levantar-se da mesa e ir embora”, afirmou o presidente dos EUA. Na coletiva após a reunião, ele deixou claro que poderia “passar muito tempo” até um outro encontro com o coreano. Ou até não houver nenhum.
Segundo alguns observadores, esse desfecho foi uma vitória para Kim, e uma derrota para Trump. Mas as coisas estão realmente assim?
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Kim mantém as posições
O ditador norte-coreano apareceu relaxado e confiante no encontro com Trump. O presidente dos Estados Unidos tinha ameaçado apenas poucos meses atrás de querer destruir “como fogo e chamas” a Coreia do Norte se não tivesse abandonado seu programa nuclear.
Entretanto, o líder de Pyongyang não recuou, e o presidente dos EUA acabou aceitando de encontrá-lo. A mensagem que acabou passando foi muito clara: se possui a bomba atômica (e também mísseis para lançá-la) os Estados Unidos vão sentar para negociar.
Um incentivo claro para uma corrida nuclear e para a dissuasão atômica, em vez de uma mensagem de paz, desarmamento e estabilidade. Evidentemente o equilíbrio do terror da época da Guerra Fria continua funcionando até os dias de hoje.
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Além disso, a posição de Kim mostrou que ter uma bomba atômica é o melhor seguro sobre vida para os ditadores de todo o mundo. As armas nucleares são a melhor garantia para a segurança e também para a sobrevivência de um dos regimes mais tirânicos do mundo. Que deixa sua população em estado de desnutrição e mantêm cerca de 80 mil presos em campos de concentração.
O norte-coreano não quer fazer o fim de Saddam Hussein, que foi forçado a renunciar a seus programas nucleares em 1991, ou de Muamar Kadafi, que renunciou voluntariamente em 2003. Ambos respectivamente destronados ou diretamente, com uma invasão em 2003, ou indiretamente, com revoltas apoiadas por ataques aéreos ocidentais em 2011. E ambos mortos.
Essa visão é a mesma que está levando o Irã a construir sua própria bomba atômica. E a razão por qual Kim não aceitou destruir seu arsenal nuclear.
O fracasso da cúpula de Hanoi também será um sucesso de imagem para Kim. O ditador voltará para a Coreia do Norte podendo dizer para sua opinião pública que não cedeu de um milímetro as pressões dos EUA. Se mostrou firme mesmo com as promessas de retirada das sanções, de investimentos estrangeiros e de crescimento econômico. Um posicionamento muito importante para um líder jovem como ele, que está tentando se consolidar no poder.
A intransigência de Kim teria sido provocada também por ambientes militares norte-coreanos. Os generais não querem perder um ativo tão precioso como a arma atômica. Eles já tinham manifestado contrariedade após o encontro de Cingapura do ano passado. E para o ditador, o apoio das Forças Armadas é imprescindível para se manter no poder.
Sinal de fraqueza dos norte-coreanos
Por outro lado, há dúvidas se esse comportamento de Kim seja, na verdade, um sinal de fraqueza. Especialmente por causa da pressão da China, que é o principal parceiro comercial da Coreia do Norte. Se Pequim não garantisse para Pyongyang fornecimentos de petróleo e alimentos, o regime norte-coreano colapsaria em questão de semanas.
E os chineses não são favoráveis um acordo que pacificasse as relações entre a Coreia do Norte e os EUA. Seja como forma de retaliação política a guerra comercial iniciada por Trump. Mas também pelo temor de ter em sua fronteira norte um país próspero e potencialmente alinhado com Washington.
Um cenário muito parecido com o do Vietnã, que hoje é um país que cresce em ritmo intenso, tem laços sólidos com os EUA (mesmo após a guerra devastadora do século passado) e que tem atritos com a China. Não por acaso, antes de voltar para Pyongyang, Kim visitou algumas fábricas vietnamitas. Uma tentativa de entender o modelo de desenvolvimento local, onde a abertura econômica não exclui um rígido controle político do Partido Comunista do Vietnã.
Possível jogada de Trump?
Trump, por sua vez, é considerado pela imprensa internacional como o grande perdedor desse encontro. Ele volta para os EUA com seu prestigio manchado por essa ocasião perdida, e deverá redimensionar seus planos de ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Entretanto, as coisas poderiam não ser tão simples assim.
Nada impede que outra cúpula com os norte-coreanos ocorra nos próximos meses, ou até em 2020. Um ano eleitoral, onde um acordo que consiga pôr fim a Guerra de Coreia, após 61 anos de conflito, seria o melhor cartão de visita para uma possível reeleição. Até porque a Coreia do Norte precisa desesperadamente de alimentos, bens primários e combustível. Mais tempo passa, mais essas necessidades se tornam urgentes, pressionando o governo de Pyongyang em alcançar um acordo. E colocando os EUA em posição de vantagem estratégica.
Trump, famoso no mundo dos negócios por ser um mestre das negociações, poderia surpreender mais uma vez o mundo.
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