Ícone do site Suno Notícias

Problemas à vista? Como identificar empresas em crise antes que seja tarde

Problemas à vista? Como identificar empresas em crise antes que seja tarde

Problemas à vista? Como identificar empresas em crise antes que seja tarde. Foto Pexels/Tima Miroshnichenko

A crise que levou a Americanas (AMER3) a pedir recuperação judicial pegou muita gente de surpresa e levantou uma questão importante: afinal, é possível ao investidor identificar empresas em crise antes que seja tarde demais?

Para ajudar, listamos aqui alguns pontos que ajudam a identificar que uma empresa pode estar passando por sufoco e também algumas companhias de capital aberto que vêm tendo problemas financeiros nos últimos anos.

Na última quinta-feira (19), a Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial, na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. A solicitação aconteceu após a empresa reportar “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões.

Como saber se uma empresa está enfrentando problemas?

Existem alguns indícios e características de empresas com riscos de falência. Confira alguns deles:

Endividamento alto

Um dos pontos de alerta é o aumento da dívida das empresas, segundo Vitorio Galindo, analista de investimentos CNPI e head de análise fundamentalista da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores.

Ele citou o exemplo das Americanas, em que o consumo de caixa e endividamento vinham crescendo há muitos anos. A Americanas alegou possuir R$ 800 milhões em caixa, e dívidas de R$ 43 bilhões. Com isso, a empresa aparece como a quarta maior recuperação judicial da história do país.

Mas, além de analisar o endividamento de forma isolada, é interessante verificar múltiplos específicos de endividamento e solvência do negócio, segundo Régis Chinchila e Luis Novaes, da Terra Investimentos. Entre eles estão:

O investidor pode analisar esses indicadores no momento atual em relação aos seus padrões históricos ou do setor. “Isso permite entender se a empresa está mais endividada, ou menos solvente, do que já esteve um dia ou quando comparado aos seus concorrentes”, afirmam.

Lucro operacional (Ebit) negativo

Quando combinada com um desempenho fraco ou negativo do lucro operacional (Ebit), os analistas também veem um sinal de alerta.

Por exemplo, a Springs Global, controlada pela Coteminas (CTNM4), teve lucro operacional (Ebit) negativo de R$ 64 milhões no segundo trimestre.

Já a dívida líquida ajustada era de R$ 627,3 milhões ao final do segundo trimestre de 2022, quando a empresa teve prejuízo de R$ 160,6 milhões. No primeiro trimestre, o prejuízo havia sido de R$ 64,8 milhões, mais que o dobro do prejuízo de R$ 28 milhões registrado no mesmo trimestre de 2021.

Em 14 de novembro, a Coteminas adiou a publicação dos resultados do terceiro trimestre, que ainda não ocorreu.

A alavancagem, medida pela relação dívida líquida ajustada/ EBITDA ajustado, estava em 5,7x no final do 2T22. No balanço, a empresa diz que continua negociando a venda de ativos para acelerar a sua desalavancagem.

Sobre os motivos que levam uma companhia a uma situação adversa, a equipe da Terra Investimentos diz que podem ser “externos ou internos”.

Segundo eles, “o ambiente macroeconômico pode estar exercendo uma pressão sobre o setor/empresa, acarretando uma deterioração da saúde financeira da empresa”.

Comparação com a concorrência

Outros sinais que podem ser considerados ao analisar se uma empresa está indo mal, segundo o Sebrae MS, são a rentabilidade abaixo do respectivo setor, o crescimento de queixas dos clientes da empresa e baixa produtividade, além de dívidas concentradas em curto prazo.

Avaliações das agências de rating podem ajudar?

As agências de rating ajudam a indicar a situação financeira, a projeção e expectativa para o futuro da saúde financeira das empresas.

A Americanas, por exemplo, chegou a ter sua avaliação rebaixada após a repercussão dos problemas financeiros. A agência Fitch foi uma das agências a cortar a nota de crédito da empresa, de “C” para “D”, na semana passada.

Vitorio Galindo, analista de investimentos CNPI e head de análise fundamentalista da Quantzed, destaca que, apesar da função dessas agências, nem sempre elas podem dar garantias.

“No caso de problema de fraude contábil, como na Americanas e IRB Brasil (IRBR3), coisas que não estão nas demonstrações auditadas não têm como alguém saber, nem mesmo as agências de rating”, afirma.

Ele explica que as agências de rating projetam e analisam o risco de acordo com o que foi reportado no resultado auditado.

Exemplos de empresas em crise

Existem empresas e setores que preocupam os analistas em relação à alavancagem superior à média histórica, caso das empresas aéreas, segundo a Terra Investimentos.

Este aumento ocorreu tanto pela pandemia quanto pela escalada da inflação com a guerra na Ucrânia.

“Para manter suas operações, aumentaram seus endividamentos e receberam aportes de capital”, afirmam os especialistas da casa. Segundo eles, o grande desconto das ações do setor aéreo nos últimos anos demonstra que o mercado está ciente da perspectiva desafiadora do setor.

No caso da Gol (GOLL4), a dívida líquida ajustada da companhia era de R$ 24,9 bilhões ao final de setembro de 2022, um crescimento de 39,5% na comparação com o mesmo período de 2021.

A alavancagem (dívida líquida/ Ebitda) da Gol ficou em 9,1 vezes, abaixo das 11,2 vezes do ano anterior, mas ainda elevada.

Já a Azul (AZUL4) apresentou dívida líquida de R$ 17,9 bilhões no final do terceiro trimestre, quase em linha com o trimestre anterior. A alavancagem está em 5,7 vezes.

Mas nem sempre a dívida é algo irreversível, pois pode se tratar de um momento adverso no setor ou recuperável com a geração de caixa da operação das empresas.

Setor de educação enfrenta desafios

Outro setor que chama a atenção por enfrentar maiores desafios nos últimos anos é o de educação, com alavancagem crescente. Neste sentido, os analistas da Terra citam a Cogna (COGN3), Yduqs (YDUQ3) e Anima (ANIM3).

Eles explicam que a instabilidade da economia inflacionou os custos e diminuiu o poder de compra da população, de forma a reduzir a demanda por ensino superior.

A pandemia de coronavírus também foi “responsável por acelerar a transição do presencial para o online, modalidade que é menos lucrativa para as empresas”.

“Isso torna o setor preterido na bolsa, tanto pelo momento de altos juros, quanto pela perspectiva incerta, tendo em vista que não se sabe se haverá o retorno de políticas públicas que favorecem o setor (FIES e Prouni), se a modalidade presencial vai retomar seu crescimento e outros”, finalizam.

Vitorio, da Quantzed, comenta que a CVC (CVCB3) também passou por um problema de fraude contábil em 2020. Ele cita que a empresa “fez diversos aumentos de capital, aumentou bastante sua dívida”.

O especialista afirma que o cenário de juros elevados “é ruim” para a CVC. Apesar disso, ele alega que “o operacional, com a nova diretoria, novos acionistas, vem melhorando”.

“A questão é assim: melhor o suficiente para resolver o problema ou não? Como vai sair lá para frente?”, complementa.

Veja os maiores casos de recuperação judicial do Brasil

A maior recuperação judicial do Brasil é a da Odebrecht, que começou o processo em 2019, com dívida de R$ 80 bilhões.

A segunda foi da Oi (OIBR3), com dívidas de R$ 65 bilhões, iniciada em 2016 e finalizada recentemente. Já a terceira foi da Samarco, de R$ 55 bilhões, que começou em 2021 e continua até então.

Nos últimos anos, também houve outros casos de recuperação judicial que chamaram a atenção do mercado. Um exemplo disso foi a da OGX, criada por Eike Batista, que entrou em 2013, com dívida superior a R$ 13,8 bilhões, e saiu desse processo em 2017.

Em 2020, o grupo Latam entrou em processo de recuperação judicial, com o objetivo de diminuir a dívida do empreendimento e assegurar novas fontes de financiamento. O encerramento aconteceu em novembro do ano passado, com uma redução na dívida de US$ 3,6 bilhões.

Um caso mais recente foi o da Paranapanema (PMAM3), que entrou em recuperação judicial em dezembro do ano passado, com dívidas de R$ 450 milhões, com o intuito de “reequilibrar o fluxo de caixa e garantir o abastecimento do mercado”.

Apesar de casos de empresas que conseguiram sair de um momento mais delicado, como foi o caso da Oi, ainda há situações de companhias que não se recuperaram.

Um exemplo é o Grupo Itapemirim. Em setembro do ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo decretou a falência da empresa de transporte, que tinha entrado em recuperação judicial em 2016, com dívida próxima a R$ 253 milhões.

Quando entrou com pedido de recuperação judicial, a Itapemirim tinha justificado que a medida foi tomada por conta do agravamento da “conjuntura financeira e econômica pela qual passa o país e considerada a melhor decisão em razão do quadro” na ocasião.

Entre as empresas em crise, a Ricardo Eletro também chegou a ter a falência decretada no ano passado. Apesar disso, neste caso, a medida foi suspensa após uma decisão judicial. Desde 2020, a companhia passa por recuperação judicial. Em julho do ano passado, a dívida estimada da empresa era de R$ 4 bilhões.

Sair da versão mobile