Veja como empresários repercutiram vitória de Lula (PT) na presidência
Após uma vitória de Lula (PT) no segundo turno das eleições de 2022, empresários divergem sobre o cenário, mas adotam um tom relativamente otimista.
Alguns empresários, que já apoiavam Lula previamente, reiteraram seu otimismo. “O Lula fez um ótimo discurso, de acolhimento, de abertura, de reinserção do Brasil na agenda mundial, também do ponto de vista ambiental”, disse à Folha de S. Paulo o empresário Fabio Barbosa, presidente da multinacional brasileira Natura&Co (NTCO3).
Semanas antes, já havia declarado o seu voto no petista no segundo turno. No primeiro, havia votado na senadora Simone Tebet (MDB).
A Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) fez um aceno institucional e ‘saudou o processo democrático brasileiro com a conclusão de mais um ciclo eleitoral’.
“O setor bancário, que tradicionalmente se posiciona com pautas voltadas para o desenvolvimento do país, está à disposição para colaborar com o novo governo”, disse a federação.
“Ao longo dos últimos meses, a FEBRABAN promoveu e participou de encontros com candidatos e suas equipes, expondo temas importantes para o crescimento sustentável da economia, maior justiça social e a melhoria do ambiente de negócios. Entre os temas discutidos, tratamos de controle da inflação, responsabilidade fiscal, manutenção da autonomia do Banco Central, priorização das reformas tributária e administrativa, atração de investimentos e medidas voltadas à redução do custo de crédito para os consumidores”, seguiu.
Sendo o maior doador da campanha eleitoral, com R$ 8,9 milhões – distribuídos entre PL, PT, Republicanos, PP, PSD, MDB e outros – Rubens Ometto, da Cosan (CSAN3), espera que Lula ‘alinhe rapidamente’ uma equipe econômica.
Nas cifras doadas, a maior parte ficou com o Republicanos, de Tarcísio – que foi eleito governador de São Paulo no pleito de ontem.
Ricardo Lacerda, do BR Partners, disse ao Valor que ‘nenhum dos cenários desastrosos temidos por analistas se materializou’.
“Isso mostra o amadurecimento das nossas instituições. Não há qualquer espaço para questionamento ou terceiro turno”, disse. Ele era filiado ao novo e, na ocasião do segundo turno, declarou voto em Bolsonaro (PL).
Roberto Klabin, da Klabin (KLBN11), disse que ‘foi importante Lula não ter vencido no primeiro turno’. Ele havia declarado voto em Tebet no primeiro turno e disse que ‘foi a primeira vez votou em Lula e no PT’ nestas eleições.
“Votei para garantir que o Brasil continue sendo uma democracia e consiga reverter a devastação do meio ambiente”, afirma.
Em eleições anteriores, o empresário vinculado à Klabin o PSDB, antigo partido do vice de Lula, Geraldo Alckmin.
Empresários ainda esperam nomes da equipe econômica
Sendo palco de uma apresentação de diretrizes, a Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) ainda não emitiu um posicionamento oficial. Um ex-presidente, contudo, disse à Folha que o desafio de Lula é de “reposicionar seu projeto ainda tão vago”.
Horácio Lafer Piva, que comandou a FIESP de 1998 até 2004, disse que espera ‘um crescimento sustentável’ do Brasil. “Temos um país rachado. Desafios na economia, mas enormes na pacificação, em um novo país que jogue junto para ganhar e não dividir para perder”.
Luiz Fernando Figueiredo, presidente do conselho da Jive/Mauá e ex-diretor do Banco Central, disse que ‘há uma incerteza no ar’.
“Vamos ver se, nos próximos dias, essa incerteza diminui. O grande problema é que nós temos uma vulnerabilidade, porque temos uma dívida muito grande. Não dá para brincar com isso. Essa é a grande preocupação. Foram feitas muitas promessas dos dois lados. Até se imagina algum gasto adicional no ano que vem, mas o importante é entender qual arcabouço virá daqui para a frente”.
Com a vitória do ex-presidente Lula, o mercado financeiro agora espera a indicação da pessoa que será responsável por comandar a economia a partir de 2023.
“O ideal é que um anúncio seja dado no curto prazo, para que a incerteza seja resolvida o quanto antes e para que o mercado possa tomar decisões com base em um cenário mais definido”, diz o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.