A privatização da Eletrobras (ELET3) pelo sistema de capitalização divide a opinião dos analistas. Em entrevista exclusiva ao Suno Notícias, o professor e sócio-fundador da Daemon, Vitor Schirato, destaca que o processo de privatização da Eletrobras não é necessariamente positivo e depende de decisões do Estado.
“Privatização pode ser bom, mas pode ser ruim também. Depende da regulação e de outras ações que o Estado empreenda, que não simplesmente privatizar ou estatizar”, afirma.
“O lado bom é que a Eletrobras está engessada em termos de novos investimentos. Então, se a gente for olhar, a situação não é a mesma de tempos atrás. Ela não tem a mesma capacidade, principalmente depois da edição da Medida Provisória (MP) 579, em 2012. A Eletrobras apanhou muito”, acrescenta.
A MP que o especialista da Daemon se refere foi a ‘canetada’ da ex-presidente Dilma Roussef (PT), que instituiu uma antecipação da renovação dos contratos de concessão.
“Na verdade, em regra, a Eletrobras sequer deveria ter contrato de concessão. Mas essa é uma outra discussão”, aponta Schirato.
O especialista esclareceu os pontos e os detalhes do processo de capitalização da companhia, que deve movimentar bilhões com a oferta de ações na bolsa nos próximos meses.
Assista o vídeo abaixo para entender a privatização da Eletrobras:
Vale lembrar que, com o processo de privatização ‘batendo à porta’, grandes investidores demonstram interesse na companhia estatal. Informações da Bloomberg indicam que um grupo de investidores estrangeiros sinalizou interesse em comprar cerca de R$ 13 bilhões em ações da Eletrobras.
A transação deve ser lançada formalmente nos próximos dias, mas os bancos já começaram a entrar em contato com potenciais compradores.
A Eletrobras possui, atualmente, valuation de R$ 70,1 bilhões, segundo dados compilados pela plataforma Status Invest e com base na cotação das ações ELET6 e ELET3.
Especialistas indicam que o processo de capitalização tem potencial de ser uma das maiores oferta públicas de ações da história do Brasil.
Na semana anterior, um relatório do UBS-BB destacou a expectativa de R$ 30 bilhões a serem levantados, considerando a oferta primária e secundária de ações.
No mesmo sentido, a Ativa Investimentos defende que hoje os ativos da elétrica são negociados a preços descontados – especialmente no comparativo com outras companhias privadas. Esse ponto pode atrair ainda mais o interesse dos investidores.
“Embora o papel já tenha evoluído desde que o seu processo de capitalização começou a ganhar forma, ainda enxergamos espaço para o investidor obter ganho de capital com a valorização das ações ordinárias da Eletrobras”, afirmam Ilan Arbetman e Tadeu Lourenço, que assinam o documento.
O que mudou na ELET3 com o aval do TCU
Também na semana passada o TCU retomou o processo de julgamento da privatização da companhia e formou maioria para aprovar a continuidade do processo de privatização da companhia. O placar final do julgamento foi de 7 votos a 1 a favor da desestatização.
Nessa fase, o TCU julgou a segunda etapa do processo de acompanhamento da privatização. A discussão se concentrou no modelo de venda, incluindo os valores das ações a serem ofertadas na bolsa de valores para que a União deixe o controle acionário da empresa.
Ainda no mês de fevereiro, os ministros já haviam aprovado uma primeira fase. A discussão envolveu os montantes a serem pagos como bônus de outorga para a União pela mudança no regime de operação das usinas da estatal.
A empresa vendia energia por preços mais baixos que os praticados no mercado. Com a mudança, a Eletrobras passa a poder vender a preço de mercado.
O Governo Federal já aguardava o desfecho do julgamento para dar prosseguimento à operação, que diluirá o controle acionário da União na estatal.
A intenção da equipe econômica do governo é concluir a desestatização ainda no primeiro semestre deste ano, para evitar a proximidade com o calendário eleitoral e com as férias de verão no Hemisfério Norte, período de movimento menor de investidores na Bolsa.
Aliás, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, fez uma ofensiva nos gabinetes de seis ministros do TCU para garantir apoio para autorização da privatização da empresa e sanar possíveis dúvidas existentes.
Sachsida chegou a falar para um ministro da Corte que, se o processo passasse, a oferta de ações da Eletrobras deveria ocorrer em 25 de maio – um prazo mais curto do que vinha sendo indicado nas últimas semanas – e a liquidação em 9 de junho.