O Ministério de Minas e Energia e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) realizarão nesta quinta-feira, 28 de março de 2024, o primeiro leilão de transmissão de energia elétrica do ano. A sessão pública está marcada para 10h, na B3 (Bolsa de Valores de São Paulo). Segundo apuração do Poder 360, o mercado prevê uma disputa acirrada e a participação de grandes empresas do setor, como a Eletrobras (ELET3).
Ao todo, serão disponibilizados 15 lotes no leilão de transmissão, sendo a maioria com objetivo de expandir a rede básica no Nordeste, facilitando o escoamento das usinas já contratadas na região e atendendo à expectativa de contratação de grandes quantidades de energia de novos empreendimentos de produção renovável, especialmente usinas eólicas e solares.
Os projetos estão distribuídos em 14 estados brasileiros, incluindo Ceará, Piauí, Tocantins, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Maranhão.
De acordo com o site Poder 360, o investimento em novas linhas de transmissão será custeado por todos os consumidores de energia, mesmo aqueles que não se beneficiarem diretamente, através de um aumento nas contas de luz. As empresas vencedoras do leilão terão até 72 meses para implementar os projetos e receberão uma concessão de 30 anos para operar as estruturas
A RAP (Receita Anual Permitida) máxima para as vencedoras do leilão será de R$ 2,98 bilhões, somando todos os projetos. Segundo o Itaú BBA, é esperada a participação de grupos tradicionais como ISA Cteep (TRPL4), Alupar (ALUP11), Engie Brasil (EGIE3), Eletrobras, Energisa (ENGI11), Neoenergia (NEOE3) e CPFL (CPFE3).
Neste contexto, o BBA prevê uma competição intensa, com a participação de grandes grupos de energia, tanto individualmente quanto por meio de consórcios. Apesar disso, alguns dos players tradicionais estão altamente alavancados. O banco acredita que há pouco espaço para novos entrantes devido às licitações agressivas e aos projetos desafiadores no setor.
A expectativa é de que a Eletrobras no leilão de transmissão apresente oferta para a maior parte dos lotes disponíveis, o que deve permitir que os descontos sobre a RAP sejam expressivos.
Eletrobras acumula alta de 21% no lucro após privatização
No primeiro balanço de um ano contábil “cheio” desde sua privatização, a Eletrobras teve lucro de R$ 4,395 bilhões em 2023 – 21% a mais do que em 2022. Segundo dados divulgados, a empresa encerrou o quarto trimestre do ano passado com ganho de R$ 893 milhões, revertendo prejuízo de R$ 479 milhões no mesmo período de 2022. A administração da empresa informou ainda que vai propor a distribuição de dividendos no valor de R$ 1,296 bilhão, uma alta de 39% ante 2022.
A Eletrobras foi privatizada em junho de 2022, durante o governo Bolsonaro. Assim como no caso da Vale, o governo Lula tem questionado a venda da Eletrobras e fala em tentar reverter o processo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliás, já chegou a dizer que “vai brigar muito” por isso.
Na apresentação dos números a analistas de mercado, o presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro, afirmou que a simplificação da estrutura da companhia influenciou o resultado do ano passado. Ele disse que a empresa não deve anunciar novos Programas de Demissão Voluntária (PDV), mas afirmou que a redução dos custos continuará ao longo de 2024. Ele citou também o esforço da companhia em simplificar sua estrutura societária, o que já se refletiu na redução de custos com pessoal e serviços de terceiros, entre outras rubricas.
“A companhia tem um cuidado muito grande e especial no segmento de operações, porque a segurança é o bem maior dessa empresa, e em nenhum momento a gente quer colocar em risco qualquer procedimento no dia a dia da operação no segmento da companhia”, afirmou ele.
O executivo disse ainda que, ao longo de 2024, será finalizado o acordo coletivo de trabalho. “Devemos ter uma nova interlocução com os sindicatos sobre esse tema.” Questionado, Monteiro respondeu que a empresa não tem em seu planejamento aquisições relevantes. Ele lembrou que, hoje, os dois maiores investimentos da companhia são o parque eólico Coxilha Negra, com 302,4 megawatts, e o linhão de Tucuruí, que é uma parceria com a Alupar. Ambos estão em execução.
Os projetos da Eletrobras ao longo deste ano também devem passar por oportunidades de crescimento via leilões – seja de transmissão ou de reserva de capacidade. Executivos da companhia foram taxativos na intenção de participar dos dois certames de transmissão agendados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em março e em setembro.
“A gente vai manter a disciplina que vem mostrando nos leilões de transmissão e replicar nos próximos processos”, afirmou o vice-presidente executivo de Estratégia e de Desenvolvimento de Negócios, Élio Wolf, que destacou a sinergia dos ativos da companhia com os lotes que serão oferecidos.
‘Direção correta’
O resultado operacional da Eletrobras no quarto trimestre de 2024 foi considerado “fraco” pela equipe de análise do Safra, que citou que itens não recorrentes, como provisões e “impairment” (deterioração de ativos), “obscureceram” o desempenho. No entanto, os analistas Daniel Carabolante Travitzky, Carolina Carneiro e Mario Wobeto afirmaram em relatório a clientes que a companhia “segue na direção correta, embora ainda sofra com problemas do passado”.
Na visão dos profissionais, os números ajustados foram bons, beneficiados por iniciativas de controle de custos, programas de demissão voluntária e novas negociações para redução de passivos, com destaque para a diminuição do estoque relacionado a empréstimos compulsórios.
Já o Itaú BBA avaliou que as provisões da Eletrobras, apesar de não serem recorrentes, tiveram impacto negativo nos resultados do quarto trimestre de 2023. Apesar disso, o banco também destacou que a empresa conseguiu reduzir seus empréstimos compulsórios e ter um “sólido” controle de custos.
Analistas do Citi, Antonio Junqueira e Guilherme Bosso afirmaram em relatório que há questões positivas que podem agregar valor à Eletrobras em áreas como gestão de ativos e passivos, recuperação de custos e processo de simplificação fiscal e organizacional.
Desempenho anual das ações da Eletrobras
Cotação ELET3