Eleições nos EUA: 10 ações americanas para ficar de olho
Em menos de 10 dias, eleitores irão às urnas para eleger o próximo presidente norte-americano. De forma oficial, as eleições nos EUA acontecerão no dia 3 de novembro, mas lá podem ser realizados votos antecipados — mais de 47 milhões de estadunidenses já votaram antecipadamente. Isso faz com que essa deva ser uma das mais agitadas nomeações de um presidente. A depender do resultado, diferentes setores tendem a ser beneficiados, e os investidores devem ficar de olho em algumas empresas.
De acordo com o site Fivethirtyeight, plataforma que usa como parâmetro todas as pesquisas de intenção de voto formuladas por jornais e instituições, compilando dados de todo o processo eleitoral e fazendo simulações diárias com novas perspectivas do mercado, o democrata Joe Biden possui 53,4% das intenções dos votos populares, enquanto republicano Donald Trump conta com 45,3%.
Segundo uma pesquisa recente do Wall Street Journal/NBC News, a principal questão eleitoral entre os votantes é a economia, e os eleitores deram a Trump uma vantagem de 13 pontos sobre Biden como melhor administrador econômico.
Entretanto, com Biden se consolidando na liderança nos últimos meses — o que não significa que já pode ser decretada a derrota de Trump, dada a reviravolta nas eleições de 2016 –, o mercado se pergunta: como se preparar para os próximos anos? Quais setores da economia, tanto interna como externa, serão estimulados pelas políticas econômicas dos candidatos?
Confira as principais ideias para a economia de ambos os candidatos, seguidas de cinco empresas que podem se beneficiar com propostas de cada plano de governo, com os comentários do analista em mercados internacionais da SUNO Research, Alberto Amparo. Vale lembrar que essa matéria não se trata de uma recomendação de investimento.
Biden promete impulsionar a energia limpa (criando empregos)
A proposta de Joe Biden para a economia se concentra em dois pilares: incentivo à permanência de empresas dentro do país, estimulando a criação de empregos, e um “Green New Deal“, que prevê investimentos de até US$ 2 trilhões (cerca de R$ 11,22 trilhões) para direcionar a economia dos EUA à uma posição menos danosa ao meio ambiente. Os recursos para tais investimentos viriam de maiores impostos sobre grandes fortunas e megaempresas (com a alíquota do imposto de renda saindo de 21% para 28%).
O mercado também espera que, ao menos no curto prazo, as tensões com a China, no âmbito da guerra comercial, possam arrefecer. Entretanto, Biden já disse que quer que a China “jogue pelas regras internacionais”, indicando que um resquício do conflito deve permanecer. Dessa forma, confira quais empresas tendem a se beneficiar com a vitória do democrata.
- NextEra Energy (NYSE: NEE)
- MCKesson Corp. (NYSE: MCK)
- Barrick Gold (NYSE: GOLD)
- Realty Income (NYSE: O)
- Martin Marietta Materials (NYSE: MLM)
Energia limpa e infraestrutura
O democrata quer aumentar significativamente a utilização de energia limpa nos setores de eletricidade, construção civil e transporte, ajudando a impulsionar a infraestrutura do país.
O plano estima zerar as emissões de carbono decorrentes da produção de energia elétrica em 15 anos. “Esses são os investimentos mais fundamentais que podemos fazer para a saúde e a vitalidade em longo prazo da economia, da saúde e da segurança física do povo americano”, disse Biden ao apresentar a proposta em julho.
Nesse sentido, ativos de empresas que possuem uma forte atuação nos setores de energia renovável, da indústria nacional e em pequenos negócios podem surfar as mudanças propostas por Biden, como é a NextEra Energy.
Sediada na Flórida, a companhia possui a maior capacidade de energia solar e eólica da indústria norte-americana. Em 2019, a empresa reportou uma receita operacional de US$ 19,2 bilhões.
Indústria nacional e serviços
Outras duas empresas citadas pelo analista são MCKesson e Barrick Gold. A primeira fornece serviços e gestão para a indústria de saúde, ajudado a melhorar a qualidade e a reduzir o custo do setor. A segunda é uma mineradora, majoritariamente de ouro.
“Biden tem uma tendência de elevar os gastos públicos maior que de Trump. Caso isso ocorra, o déficit nacional pode aumentar, com taxas de juros baixas e a remoção dos incentivos fiscais às empresas, colocados em vigor pela gestão de Trump, o que pode beneficiar o ouro e consequentemente a grande mineradora”, disse Amparo.
O analista ainda mencionou o Realty Income, REIT diversificado com milhares de propriedades alugadas para pequenos negócios, e a Martin Marietta Materials, empresa de materiais de construção baseada em recursos naturais. Ambas podem se beneficiar do processo de investimento em infraestrutura e manutenção das forças das empresas dentro do território norte-americano.
Trump quer mais do mesmo, impulsionando grandes empresas
O atual presidente, de forma geral, quer repetir a receita do primeiro mandato e retomar o crescimento da economia estadunidense observado antes da chegada da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Isto é, cortar impostos e reduzir (levemente) os gastos do governo, segundo analistas, embora não tenha apresentado um plano detalhado.
- Lockheed Martin (NYSE: LMT)
- ExxonMobil (NYSE: XOM)
- JPMorgan Chase (NYSE: JPM)
- Bank of America (NYSE: BAC)
- Facebook (NASDAQ: FB)
Indústria bélica em meio à guerra comercial
Uma das empresas que podem se beneficiar da vitória de Trump é a Lockheed Martin, da indústria bélica. Em 2019, a companhia obteve uma receita de US$ 59,8 bilhões, com lucro líquido de US$ 6,23 bilhões.
Desde a ascensão de Trump ao poder, em janeiro de 2017, os papéis da empresa se valorizaram 50%. Nesse período, o faturamento cresceu a uma taxa anualizada de 11,7% ao ano, enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) avançou 11,9% por ano. A empresa possui diversos contratos firmados com o governo dos EUA e, com a continuidade das tensões com a China, os investimentos na empresa devem se manter, segundo Amparo.
Commodities e grandes empresas
Outro setor que tende a se beneficiar de uma reeleição de Trump é a indústria de petróleo e gás. O presidente republicano retirou os EUA do Acordo de Paris, que visava regulamentar a atuação das grandes empresas e países do segmento com o intuito de combater as mudanças climáticas.
A saída foi confirmada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no fim de 2019 passará a vigor a partir de 4 de novembro deste ano — justamente um dia depois das eleições.
Nesse sentido, a maior empresa norte-americana do setor é a ExxonMobil. Todavia, a companhia, que já chegou a ser uma das maiores do planeta na década de 1980, com um valor de mercado de US$ 105 bilhões, não tem apresentado resultados positivos. Em 2019, a empresa apresentou uma receita bruta de US$ 255 bilhões e lucro de US$ 14,34 bilhões, queda de 8,5% e 31,19% na comparação anualizada, respectivamente.
Impulso para mercado financeiro
O analista da SUNO Research também mencionou duas instituições financeiras: JPMorgan Chase e Bank of America. Desde o início de seu governo, o republicano mostrou ser favorável às grandes empresas do país, e o setor bancário é um dos seus “queridinhos”. Em 2017, o mandatário atacou por vezes a Agência para a Proteção Financeira do Consumidor (CFBP), órgão criado para proteger os consumidores de abusos de instituições financeiras, em sua constante tentativa de eliminar as regulações do mercado.
Em função disso, dentre outras razões, as grandes instituições financeiras podem se destacar. JPMorgan e o BofA são dois dos maiores bancos dos EUA. O primeiro, mesmo em meio à pandemia, conseguiu crescer 20% no terceiro trimestre o número de depósitos de consumidores, enquanto o depósito de empresas atingiu US$ 1,9 trilhão. O segundo, por sua vez, detém US$ 1,4 trilhão em depósitos totais.
Amparo também citou o Facebook como uma das beneficiadas em uma possível reeleição de Trump. Aproveitando o fato do republicano ser favorável às grandes empresas, a gigante das redes sociais possui uma receita resiliente a crises, com um crescimento médio anual de 40,9% nos últimos cinco anos. Em 2019, a companhia faturou US$ 70,69 bilhões, lucrando US$ 18,48 bilhões.
O analista, entretanto, ressalta que os investidores de valor não devem adquirir ações pensando em quem pode ganhar as eleições, uma vez que a volatilidade de curto prazo pouco diz sobre a capacidade de geração de caixa das empresas no longo prazo.
Como investir nessas empresas?
Desde a última quinta-feira (22), as Brazilian Depositary Receipts (BDRs) passaram a ser negociadas a pequenos investidores na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Antes, o acesso a esse tipo de investimento era restrito a investidores considerados qualificados, ou seja, que possuíam mais de R$ 1 milhão em investimentos.
Basicamente, BDRs são ativos de empresas estrangeiras que acessam o mercado brasileiro por meio de recibos de ações, através de instituições custodiantes e depositárias, equivalentes aos papéis negociados fora do Brasil.
Das empresas citadas nesta reportagem, MCKesson Corp. (M1CK34), Realty Income (R1IN34), Martin Marietta Materials (M1LM34), ExxonMobil (EXXO34), JP Morgan (JPMC34) e Facebook (FBOK34) são negociadas no Brasil por meio das BDRs.
As demais têm suas ações listadas na Bolsa de Valores de Nova York, e o acesso é restrito a investidores em corretoras estadunidenses. No entanto, esse processo é muito simples! Se quiser saber mais sobre como investir diretamente no exterior — e se preparar para as eleições nos EUA –, clique aqui.