Uma das mudanças mais profundas que a crise do coronavírus (covid-19) deve trazer à sociedade talvez seja a forma como a educação será regida.
O novo coronavírus acelerou, em semanas, mudanças que o setor e a sociedade demoravam a aceitar, como a Educação a Distância (EAD).
Por outro lado, uma crescente pressão por redução das mensalidades se torna desafios aos gestores, principalmente em um momento de inadimplência também em alta.
O caso prático de como o setor deve ser afetado por essa combinação é o da Universidade Cândido Mendes (UCAM), que entrou com um pedido de recuperação judicial na semana passada.
De acordo com a universidade, a empresa atingiu o limite da sua capacidade “diante da pandemia do coronavírus e do cenário econômico de recessão dos últimos anos”.
Para Rodrigo Weinberg, analista da Suno Research, com a UCAM já endividada, o cenário se mostrou mortal à empresa.
“A empresa tinha uma dívida de R$ 400 milhões e a inadimplência chegou a 40%. Isso pressiona o fluxo de caixa de uma forma que fica inviável manter a operação”, disse ele.
EAD e caixa devem ser diferenciais
Portanto, em um cenário mais complexo e competitivo, as companhias que não tinham condições para oferecer EAD e caixa, para aguentar o tranco da inadimplência, devem largar atrás no setor pós-covid, segundo analistas ouvidos pelo SUNO Notícias.
“A principal vítima são as instituições muito endividadas, que trabalham com pouco caixa, e não tinham um EAD pronto”, disse Weinberg.
Além disso, o recorte de quem depende mais do ensino infantil deve ser prejudicial às empresas em caso de a crise econômica persistir pois se enquadra como um gasto que pode ser cortado.
“Mensalidade é receita fundamental dessas instituições e isso não deve mudar. O índice de cancelamento e inadimplência tende a ser maior no ensino infantil, dado que a depender da idade, as crianças não são obrigadas a irem à escola”, afirmou Weinberg.
Além do EAD, um caixa reforçado se mostra de extrema importância. Com movimentos espontâneos por redução das mensalidades, o setor ainda enfrenta a possibilidade de os governos e entidades se movimentarem para determinar a obrigatoriedade da redução.
Uma proposta do deputado Rodrigo Gambale (PSL-SP), por exemplo, determina redução mínima de 30% no valor das mensalidades durante o período de quarentena. Já o Procon-SP determinou as escolas de São Paulo ofereçam descontos nas mensalidades dos estudantes matriculados.
Assim, a principal fonte de receita do setor ainda pode ser afetada por medidas do poder público e, caso queira sobreviver e se destacar no mercado, a companhia precisará ter recursos para investir e ir às compras logo.
Anima e Ser podem se destacar no setor de educação
Nessa corrida em meio ao caos das mudanças repentinas, os especialistas ouvidos pelo SUNO Notícias afirmam que ao menos duas empresas se destacam: Anima (ANIM3) e Ser Educacional (SEER3).
De acordo com Rafael Almeida, analista da Safari Capital, a Anima conseguiu implementar o EAD de forma rápida e isso dá vantagem a ela no setor. Além disso, pelo tamanho atual, conseguiria adquirir concorrentes em dificuldade.
“Ainda está cedo para entender o impacto, mas você já vê a Anima com um discurso forte por conseguir manter a operação de pé e a adequação de um modelo híbrido, com EAD e presencial”, disse.
Segundo Almeida, a Estácio (YDUQ3), por exemplo, já fez grandes aquisições e precisa agora consolidar as novas empresas antes de partir para abocanhar mais mercado.
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“Acho que uma das coisas que vi era nessa agenda de M&A, a Anima teria um leque maior. A Estácio já tem compras grandes para digerir, então antes tem que fazer isso antes de comprar outras coisas”, afirmou.
Portanto, as empresas em dificuldade devem acabar sendo compradas por grupos maiores, com recursos em caixa, então há um cenário mais favorável para M&A.
Além da Anima, a Ser Educacional, portanto, possui caixa para aquisições de concorrentes que passarem por dificuldades em meio a crise, de acordo com Rodrigo Weinberg, analista da Suno Research.
“É o caso da Ser Educacional, que tem R$ 600 milhões captados mais R$ 300 milhões de recebíveis, e um passivo de R$ 400 milhões”, disse em relação ao setor de educação.