Editoras questionam no Cade venda do Grupo Abril a Fábio Carvalho
As editoras Globo, Ediouro, Panini, Três e EBR fizeram um pedido junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para que elas sejam consideradas partes interessadas no processo de compra do Grupo Abril pelo empresário Fábio Carvalho.
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As editoras alegam na petição que a aprovação da venda da Abril a Carvalho foi precipitada e “deixou de considerar (…) efeitos concorrenciais do negócio. O aceite foi dado pela superintendência-geral do Cade em 8 de janeiro.
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Desta forma, a petição será analisada pela presidência do órgão antitruste. Se acatada, as editoras poderão requerer a anulação da compra.
O pedido foi protocolado em 18 de janeiro. Nele, as empresas dizem que a Abril monopoliza a distribuição de revistas e que prejudica suas concorrências com atrasos nos pagamentos. Afirmam também que a relação de Fábio Carvalho e a Alvarez & Marsal, consultoria contratada pela Abril em 2018 para administrar o grupo, “justifica maiores indagações quanto a eventuais violações de regras contra a prática ‘gun jumping'”.
“Gun jumping” ocorre quando há troca de informações sensíveis entre as partes antes do fechamento de um negócio. Trata-se de um ato irregular e uma das formas de infringir a legislação.
“A operação já vem causando a saída ou o estrangulamento dos concorrentes do Grupo Abril“, dizem as editoras.
O grupo e Fábio Carvalho, por sua vez, veem a petição como uma tentativa de atrasar a aprovação total da aquisição, de acordo com fontes ouvidas pela Folha de S.Paulo.
Relembre o caso
O Grupo Abril foi vendido em dezembro do ano passado. A empresa, fundada em 1950 pelo italiano Victor Civita em São Paulo, chegou a ser a maior editora da América Latina. O grupo pertenceu aos Civita por 68 anos.
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Entretanto, nos últimos anos a Abril entrou em uma crise econômica profunda. A empresa chegou a acumular uma dívida de R$ 1,6 bilhão e acabou pendido recuperação judicial em agosto do ano passado. Dois terços da dívida da Abril, cerca de R$ 1,1 bilhões, são com Itaú, Bradesco e Santander.
Por outro lado, as dívidas trabalhistas chegaram a cerca de R$ 90 milhões. Isso representa cerca de 5,6% do total. A Abril tem pendências om jornalistas, gráficos, pessoal administrativo, e outros ex-funcionários do grupo.
A Abril informou que pagará integralmente essas dívidas até o limite de 250 salários mínimos por pessoa. Um valor que equivale, atualmente, a R$ 238,5 mil. Segundo a empresa, o pagamento desse débito ocorreria em um período 12 meses após a aprovação do plano de recuperação judicial. Por outro lado, as indenizações superiores a esse valor máximo receberiam apenas 8% do total, em parcelas mensais pagas ao longo de 18 anos.
Fábio Carvalho no comando
Fábio Carvalho assumirá o controle societário e ocupará a posição de presidente-executivo do Grupo. O advogado é especializado na aquisição de companhias em crise financeira, como a Abril. Ele as reestrutura e as leva novamente ao crescimento. Carvalho adquiriu esse conhecimento durante os anos em que trabalhou na Alvarez & Marsal.
Para concretizar a compra da Abril, Carvalho contou com o apoio financeiro da Enforce e do banco BTG Pactual. Além disso, o advogado estaria negociando com os três bancos para obter com desconto a dívida.
Entre os investimentos de Carvalho estão participações em empresas em variados setores. No total, seu grupo conta com um faturamento anual superior a R$ 4 bilhões, empregando mais de 46 mil pessoas. Para a adquisição e administração do grupo Abril, o advogado contará com a estrutura da Legion Holdings, sociedade de investimentos que fundou. A empresa é formada por um time de especialistas em renegociações de dívidas e transformações operacionais