O diretor do Departamento de Pesquisas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas, advertiu nesta terça-feira, 11, que a economia global caminha para “águas turbulentas”.
Durante entrevista coletiva pelo lançamento do relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês), o diretor do FMI ressaltou riscos para a Europa, alertando que o choque no setor de energia no continente “não é algo transitório”, no contexto da guerra na Ucrânia e das sanções contra a Rússia.
Gourinchas disse que o inverno europeu de 2022 “deve ser desafiador”, mas acrescentou que o inverno de 2023 “pode ser pior”.
Segundo a autoridade do FMI, de fato há algum custo macroeconômico para o mundo em fazer uma transição energética, mas evitá-la geraria custo “muito maior”.
Recomendações aos BCs
Gourinchas disse ainda que a entidade recomenda que os bancos centrais “mantenham o passo” no aperto monetário em andamento.
Segundo ele, não é preciso acelerar o ritmo, o que geraria mais impacto negativo na atividade, mas também não se deve fazer uma pausa prematura, diante da inflação elevada.
Ele argumentou que boa parte do que tem sido visto até agora na verdade trata-se de uma “normalização” das políticas monetárias pelos bancos centrais.
E também apontou que, para o FMI, a inflação pode atingir seu pico agora ou no início de 2023, a depender do país.
China
O diretor do Departamento de Pesquisas do FMI disse que a China se mostra uma “exceção importante”, no contexto global de normalização da atividade, após o auge dos impactos da pandemia da covid-19.
Durante entrevista coletiva, ele notou que os lockdowns pontuais adotados por Pequim em sua política de covid zero pesam na atividade econômica, influindo nas projeções do Fundo para o país.
Questionado sobre o risco de novas variantes da covid-19 e seu potencial impacto na economia do mundo, Gourinchas disse que o FMI mantém atenção sobre o tema, citado em seu relatório Perspectiva Econômica Mundial, publicado mais cedo, mas também notou que outros riscos receberam mais ênfase nessa análise mais recente.
Reino Unido também está no radar do FMI
Gourinchas afirmou também que tem ocorrido turbulências em alguns segmentos do mercado do Reino Unido.
Durante entrevista coletiva, ele se referiu especificamente a problemas de liquidez que levaram o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) a anunciar a compra temporária de gilts de longo prazo, para responder ao quadro.
Ele foi questionado sobre medidas fiscais anunciadas recentemente pelo governo do Reino Unido, recebidas com ceticismo pelos investidores, com desvalorização da libra e avanço dos retornos dos bônus do país (gilts).
Segundo ele, a política fiscal “deve estar alinhada com os objetivos da política monetária”, o que ajuda a melhorar a estabilidade financeira.
A autoridade do Fundo ainda elogiou o fato de que o governo do Reino Unido prepara o anúncio de detalhes sobre o plano fiscal, para o fim deste mês.
De qualquer modo, recomendou que a iniciativa seja “consistente com o que o BoE está tentando fazer”, no momento em que o banco central aperta a política monetária para conter a inflação.
Gourinchas ainda foi questionado sobre a força do dólar.
Segundo o dirigente do FMI, os países em geral devem basicamente “lidar” com a força da moeda e “deixar o ajuste doméstico ocorrer”.
Para ele, a valorização da moeda dos EUA é fruto de questões de fundamentos, como o aperto monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), não uma questão de disfuncionalidade dos mercados.
De qualquer modo, o diretor do FMI notou que esse movimento no câmbio coloca pressão sobre “uma série de países”.
Com Estadão Conteúdo.
Notícias Relacionadas