Economia do Brasil vive ‘tempestade perfeita’ e deve desacelerar até 2022
Inflação e juros em alta, desemprego, dólar caro, crise hídrica, conflitos institucionais, atropelo nas votações de projetos do Congresso e novos riscos fiscais. A “tempestade perfeita” dos últimos dias obrigou economistas e investidores a reverem suas estimativas para o crescimento da economia do Brasil no próximo.
Com isso, a perspectiva para a economia do Brasil hoje voltou ao mesmo patamar baixo e comum dos anos pré-pandemia, abaixo de 2%. Enquanto a população sente os efeitos desta deterioração no bolso e reclama da alta dos preços do gás de cozinha, da gasolina, da conta de luz e dos alimentos, o mercado parece estar caindo na real.
A aceleração da inflação está obrigando o Banco Central a ser mais duro na alta dos juros e esfriar a economia, comprometendo o crescimento do PIB em 2022. O cenário internacional também ficou menos favorável.
Na última semana, a expectativa de que o Fed retire os estímulos à economia dos EUA mais rapidamente fez com que as bolsas internacionais vivessem dias de aversão ao risco. Mas o agravamento da situação da pandemia nos Estados Unidos, com alta transmissão da variante Delta, reverteu o medo do tapering, mas trouxe de volta o medo pela recuperação econômica diminuir.
No front doméstico brasileiro, a crise política entre os poderes se acirra, elevando a percepção de risco de populismo eleitoral do presidente. Entretanto, a tentativa de Bolsonaro de recuperar a popularidade e chegar em 2022 com chances de se reeleger compromete a economia do Brasil pelo risco fiscal de comprometer as finanças públicas.
Os riscos à economia do Brasil pelos especialistas
“Podemos ter um momento melhor no curto prazo, um ano um pouco melhor, mas a perspectiva é de um País medíocre”, diz o presidente do Insper, Marcos Lisboa.
Lisboa se diz assustado com a tramitação dos projetos no Congresso: a reforma do IR e a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de parcelamentos do precatórios – dívidas judiciais que a União é obrigada pela Justiça a quitar.
A aprovação desses projetos é chave para Bolsonaro porque, sem eles, será mais difícil para o governo anunciar um benefício elevado do novo Bolsa Família sem mudar as regras fiscais que visam proteger a economia brasileira.
“O governo faz grandes anúncios e, quando se vai ler os projetos, eles decepcionam e, em muitos casos, assustam pelo conteúdo”, diz Lisboa.
A PEC dos precatórios reabriu a discussão sobre a quebra do teto de gastos (regra que controla a alta das despesas) e trouxe de volta o fantasma da contabilidade criativa nas contas públicas, que derrubou a presidente Dilma Roussef em 2014.
Para o consultor do Senado, Leonardo Ribeiro, a PEC promove uma triangulação financeira para abrir espaço no teto de gastos. “Esse triângulo se assemelha às pedaladas fiscais desenhadas pelo ex-secretário do Tesouro, Arno Augustin, do governo Dilma”, diz ele.
De acordo com Ribeiro, o melhor para a economia do Brasil é retirar o precatório do teto com medidas adicionais de controle dessas despesas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.