Após encerrar a sessão da quarta-feira, 4, praticamente estável, o dólar à vista voltou a subir no mercado doméstico de câmbio nesta quinta-feira, 5, em meio a um ambiente marcado por queda das commodities e fortalecimento da moeda norte-americana em relação a divisas latino-americanas. Com mínima a R$ 5,1508 e máxima a R$ 5,1882, a divisa terminou o dia em alta de 0,31%, cotada a R$ 5,1692 – maior valor de fechamento desde 27 de março (R$ 5,2065).
Com agenda doméstica esvaziada, a formação da taxa de câmbio foi ditada mais uma vez pelo ambiente externo. Operadores relatam ambiente de cautela diante da expectativa pela divulgação na sexta-feira, 6, do relatório de empregos (payroll) nos EUA em setembro, cujo resultado pode mexer com as apostas em torno de uma alta adicional da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
Os dados do mercado de trabalho dos EUA divulgados nesta semana mostraram sinais distintos. O relatório Jolts revelou, na terça-feira, abertura de 9,61 milhões de postos de trabalho, bem acima das expectativas (8,9 milhões). Já o relatório ADP, divulgado na quarta-feira, mostrou que o setor privado criou 89 mil empregos em setembro, aquém do esperado (140 mil). Pela manhã, nesta quinta, o Departamento do Trabalho informou que os novos pedidos semanais de auxílio-desemprego subiram menos do que as previsões.
“Os pedidos de auxílio-desemprego mostram que o mercado de trabalho continua forte e que mais alta de juros pode ser necessária para controlar a inflação. A perspectiva de juros elevados nos EUA empurra o dólar para cima”, afirma o especialista Gabriel Meira, da Valor Investimentos.
Segundo analistas, o desconforto com o nível dos juros longos americanos continua a pautar os mercados. A taxa da T-note de 10 anos, principal ativo do mundo, teve leve recuo nesta quinta, para o nível de 4,70%. Mas o retorno do papel de 30 anos voltou a subir, ultrapassando os 4,90% nas máximas.
De acordo com a mediana de Projeções Broadcast, o payroll vai mostrar criação de 175 mil vagas de empregos em setembro nos EUA – o que representara uma desaceleração na comparação com agosto, quando houve geração de 187 mil vagas.
“O mercado de câmbio segue muito pressionado pela questão dos juros americanos. E amanhã saem os dados do payroll, que certamente vão ‘fazer preço’ nos ativos”, afirma o especialista em câmbio da Manchester Investimentos, Thiago Avallone.
Dólar, queda das commodities metálicas e petróleo
No início da tarde, a presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly, disse que, se as condições financeiras seguirem apertadas, a necessidade de ações adicionais diminui. Daly disse que, se continuar vendo o mercado de trabalho desacelerando e a inflação caminhando para a meta, o BC norte-americano pode deixar as taxas de juros estáveis. Com o arrefecimento da inflação e taxa nominal inalterada, há um aumento da taxa real, o que significa política monetária mais restritiva.
Termômetro da cotação do dólar frente a uma cesta de seis divisa fortes, o índice DXY operava em baixa firme no fim da tarde, mas ainda em níveis elevados, na casa dos 106,300 pontos. Embora tenha recuado em relação a pares, o dólar avançou na comparação com moedas latino-americanas de países de juros altos, em dia marcado por baixa de commodities metálicas e novo tombo das cotações do petróleo. O contrato do tipo Brent para dezembro recuou 2,07%, a US$ 84,07 o barril.
Entre pares do real, o pior desempenho foi do peso mexicano, que caiu mais de 1,5% ante o dólar e voltou a níveis abril. Ao movimento de realização de lucros somou-se desconforto com a decisão do governo do México de mudar unilateralmente tarifas sobre concessões aeroportuárias.
Com Estadão Conteúdo