Após encerrar a semana passada com ganhos de 1,17%, o dólar à vista voltou a subir nesta segunda-feira, 5, alinhado ao movimento externo de fortalecimento da moeda americana e de avanço das taxas dos Treasuries. Dados do setor de serviços dos EUA e declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afastaram as chances de início de corte de juros em março e reduziram a magnitude da flexibilização monetária esperada para este ano, castigando divisas emergentes. Por aqui, o retorno do Congresso aos trabalhos após o recesso parlamentar e as negociações da agenda econômica, em meio a rusgas entre o governo Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foram apenas monitorados.
Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar à vista superou a barreira técnica e psicológica de R$ 5,00 ainda pela manhã e renovou máximas no início da tarde, quando alcançou R$ 5,0181. Operadores afirmam que prováveis movimentos de zeragem parcial de posições “vendidas” no mercado futuro por parte de fundos locais para limitação de perdas (stop loss) teriam turbinado a cotação da divisa. Ao longo da tarde, com o mercado tecnicamente já mais acomodado e certa moderação da alta da moeda americana no exterior, o dólar voltou a ser negociado abaixo de R$ 5,00. No fim do dia, a divisa avançava 0,27%, cotada a R$ 4,9818 – ainda no maior valor de fechamento desde 22 de janeiro (R$ 4,9873).
O sócio e diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, observa que houve um ajuste da posição de fundos locais no mercado futuro que ajudou a impulsionar a cotação do dólar para perto de R$ 5,00. Na semana passada, esses fundos compraram cerca de US$ 3 bilhões em dólar futuro, reduzindo parte de sua expressiva posição “vendida” em moeda americana que ainda carregam. No fim do ano passado, esses fundos chegaram a estar “vendidos” em cerca de US$ 16 bilhões, posição construída por conta do otimismo com a possibilidade de o Fed iniciar o ciclo de cortes de juros em março, diante da expectativa de moderação da atividade nos EUA.
Dólar e Fed
“Como havia um excesso de posicionamento, qualquer informação que vai contra o cenário central incomoda e gera um impacto no preço do dólar“, afirma Monoli. “Não apenas os dados de atividade vieram mais fortes que o mercado esperava como o próprio Fed adotou postura mais cautelosa. O mercado sofreu um ajuste técnico, mas não houve uma mudança estrutural de tendência para um fortalecimento acentuado do dólar”.
Investidores já iniciaram o dia sob impacto de declarações de Powell divulgadas ontem. Em entrevista ao programa 60 Minutes da CBS, gravada na última quinta-feira, 1, o presidente do Fed repetiu o que disse na entrevista coletiva após a decisão do Fed de manter a taxa inalterada na faixa entre 5,25% e 5,50% na última quarta-feira, 31: um corte de juros em março “não é o mais provável”. Powell também disse que o Fed deve manter a previsão de taxa básica em 4,6% neste ano, estimada em dezembro. A previsão será atualizada em março.
Não bastasse o recado de Powell, que vem após um relatório de emprego surpreendentemente forte em janeiro, saiu mais uma leva de dados forte da economia dos EUA. O Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) informou que o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços dos Estados Unidos subiu de 50,5 em dezembro para 53,4 em janeiro, acima do previsto por analistas ouvidos pelo FactSet (52).
No exterior, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas – chegou a superar a linha dos 104,500 ao registrar máxima aos 104,604 pontos, mas perdeu fôlego e, no fim da tarde, operava ao redor dos 104,400 pontos. A taxa da T-note de 2 anos, que registrou máxima a 4,4909%, desacelerou para o nível de 4,45%.
Com Estadão Conteúdo