Segue mais um dia em que o dólar aumenta no mercado doméstico. Na sessão desta sexta-feira (6), a moeda subiu 1,17% superando a barreira de R$ 5,10 nos momentos de pressão, encerrando a primeira semana do mês de maio com valorização de 2,68% (vindo de uma escala de 3,81% em abril).
Durante o período da manhã, operadores retomaram a informar fluxo de saída de ativos locais, com os investidores dando continuidade aos movimentos de ajustes e às realizações de lucros acumulados durante esse primeiro trimestre com o objetivo de minimizar prejuízos de outros mercados.
Dados da B3 (B3SA3) divulgados nesta sexta mostram que os estrangeiros retiraram R$ 2,309 bilhões da bolsa na quarta (4), levando os saques em maio a R$ 5,667 bilhões – mais da metade das retiradas líquidas em abril (R$ 7,6 bilhões).
Com isso, o saldo positivo acumulado no ano, que chegou a superar R$ 60 bilhões, passou a ser de R$ 51,983 bilhões. Não há números atualizados sobre o fluxo cambial, dada a paralisação dos servidores do Banco Central, mas analistas acreditam que houve saídas expressivas pelo canal financeiro em abril e neste início de maio.
A busca pelo dólar se dá em meio à inflação elevada e a temores de desaceleração da economia global, em razão da perspectiva de aperto monetário mais intenso nos EUA e da perda de fôlego da atividade na China, que passa por lockdowns para conter a covid. Há também preocupações com impacto inflacionário provocado pela continuidade da guerra na Ucrânia e pelas sanções do Ocidente à Rússia. A União Europeia debate um embargo completo ao petróleo russo.
Dados do relatório de emprego nos Estados Unidos (payroll) em abril, divulgados pela manhã, ajudaram a encorpar a visão de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) terá que acelerar a alta de juros para domar a inflação.
Monitoramento da CME Group mostra que as apostas de elevação da taxa básica americana em 75 pontos-base em junho chegaram a ultrapassar 90%. Isso a despeito de o presidente do BC americano, Jerome Powell, ter dito na quarta-feira, após a decisão de subir a taxa em 50 pontos-base, para a faixa entre 0,75% e 1%, que uma alta dos juros em 75 pontos-base não é algo que o Fed esteja “ativamente considerando”. O BC americano também ratificou na quarta o início da redução do balanço patrimonial a partir de junho, o que significa redução da liquidez.
No exterior, o dólar subiu em relação à maioria de divisas emergentes e de países exportadores de commodities, embora recuado frente a alguns pares do real, como peso mexicano e chileno.
As bolsas em Nova York tombaram e a taxa da T-note de 10 anos, principal ativo do mundo, subiu mais de 2%, atingindo 3,12% na máxima. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – chegou a ensaiar um ajuste maior de baixa pela manhã, em razão da recuperação do euro após declarações em tom duro do Banco Central Europeu (BCE). Quando o mercado local fechou, porém, já operava com queda moderada, na casa dos 103,600 pontos, nível mais elevado em 20 anos.
Por aqui, o dólar trabalhou em alta ao longo de toda a sessão e superou a casa de R$ 5,10 ainda pela manhã, correndo até a máxima de R$ 5,1147 (+1,96%), com investidores digerindo dados do emprego nos Estados Unidos. Já no início da tarde, divisa moderava os ganhos e operava abaixo de R$ 5,10. No fim do dia, o dólar era cotado a R$ 5,0754, em alta de 1,17%, fechando a semana com valorização de 2,68%. Com a arrancada dos últimos dias, a baixa acumulada em 2022 passou a ficar abaixo de dois dígitos (-8,98%).
Principal indicador do dia, o payroll mostrou criação de 428 mil vagas de emprego nos EUA em abril, acima do esperado (400 mil). Houve revisão para baixo nos dados de março (de 431 mil para 428 mil) e de fevereiro (de 750 mil para 714 mil). A taxa de desemprego permaneceu em 3,6%, levemente acima do esperado (3,5%). Já o salário por hora subiu 0,3% em abril, ante previsão de 0,4%, mas teve alta de 5,5% na comparação anual de abril, em linha com as expectativas.
“O mercado já não acredita que altas de 50 pontos-base vão conseguir conter a inflação. O Fed vai ter que aumentar mais os juros e isso terá impacto no crescimento da economia. Isso fez o dólar subir no mundo inteiro”, afirma o especialista em renda fixa da Blue3, Nicolas Giacometti. “Não temos dados do fluxo cambial, mas o mercado já começa a enxergar uma reversão da postura do estrangeiro neste segundo trimestre.”
Para o time de Macro & Estratégia do BTG Pactual (BPAC11), o Fed vai promover mais quatro elevações da taxa básica em 50 pontos-base nas próximas reuniões, com uma alta de 25 pontos no último encontro do ano, para a faixa entre 3% e 3,25%. “O quadro de juros nos EUA é um dos vetores contrários para o real e as demais moedas emergentes”, afirma.
Por aqui, o BTG aposta em fim do ciclo aperto monetário em junho, com uma alta final da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano, “patamar atrativo para investidores estrangeiros”. A equipe do banco ressalta, contudo, que os riscos fiscais voltam a ter protagonismo no debate econômico doméstico, dada a indefinição em torno do reajuste salarial dos servidores.
Apesar da depreciação do real em abril e neste início de maio, a equipe do BTG Pactual mantém a projeção de dólar no fim de 2022 a R$ 4,80. A perspectiva é que o aperto monetário americano, que traz um movimento de depreciação ao real, deve ser contrabalançado, a partir de novembro, pela redução das incertezas domésticas e pelo preço elevado das commodities, em linha com a estimativa de superávit comercial de US$ 76 bilhões neste ano.
(Com informações do Estadão Conteúdo)