Dólar fecha em leve alta, em dia de sessão instável
Apesar do ambiente de maior apetite ao risco no exterior, com alta firme das bolsas em Nova York e sinal negativo da moeda americana frente a pares fortes, o dólar teve uma sessão instável por aqui nesta quarta-feira, 13. Com muitas trocas de sinais ao longo do dia, embora entre margens estreitas, a divisa encerrou o pregão em leve alta de 0,26%, a R$ 4,6887. A mínima foi de R$ 4,6538 e a máxima, de R$ 4,7057.
Analistas dizem que, após a forte rodada de apreciação do real no primeiro trimestre, o mercado agora se acomoda e busca uma nova referência para taxa de câmbio no curto prazo. Parte da falta de fôlego da moeda brasileira pode ser atribuída também, segundo operadores, à maior demanda por dólares e montagem de posições defensivas diante da proximidade do feriado de Sexta-feira Santa, no dia 15.
Dólar: taxa de câmbio se reequilibrando
“O real está meio de lado, junto com outras divisas emergentes. A gente veio rapidamente de R$ 5,20 para baixo de R$ 4,60. Agora a taxa está se reequilibrando”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando que o ambiente continua favorável para a moeda brasileira, dadas as taxas de juros reais domésticas atraentes e o patamar ainda elevado dos preços das commodities. “Se não houver nenhuma mudança drástica de cenário, o dólar pode escorregar novamente para R$ 4,50”.
Investidores monitoram sinais sobre a magnitude do ajuste monetário nos Estados Unidos, que sofre com a maior inflação em mais de 40 anos, agravada pelas consequências do prolongamento da guerra na Ucrânia. As cotações do petróleo voltaram a subir, com o tipo Brent para junho, referência para a Petrobras (PETR4), na casa de US$ 108 o barril. Também há certa cautela diante das incertezas sobre o fôlego da atividade na China, reforçadas nesta quarta pelo recuo de 0,1% nas importações chinesas em março, enquanto se esperava crescimento de 8%.
Nos Estados Unidos, após a surpresa positiva da terça com a leitura abaixo da esperada do núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), o mercado teve que absorver nesta quarta a alta de 1,4% do índice de inflação ao produtor (PPI) nos Estados Unidos em março, acima da expectativa, de 1,1%. O núcleo avançou 1% ante projeção de 0,5%.
Esse quadro reforça a perspectiva de que o Federal Reserve vá acelerar o passo e promover altas seguidas da taxa básica em 0,50 ponto porcentual a partir de maio. Mais: vai anunciar formalmente o início ao processo de redução do balanço patrimonial – o que significa, na prática, tirar dinheiro do sistema.
Apesar disso, as taxas dos Treasuries recuaram, com o papel de dois anos na casa de 2,36% e a T-note de 10 anos, a 2,70%, movimento atribuído a ajustes técnicos após uma rodada expressiva de alta dos retornos (que significa queda dos preços dos títulos). O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – chegou a operar acima dos 100,500 pontos pela manhã com a divulgação do PPI, mas perdeu força e, quando os negócios fecharam por aqui, era negociado aos 99,880 pontos.
Para Weigt, do Travelex, o mercado parece acreditar que o Fed vai conseguir controlar a inflação mesmo sem adotar uma taxa real de juros positiva. Além disso, uma recessão nos Estados Unidos seria bem improvável. O tesoureiro afirma que, nesse ambiente, a perspectiva continua positiva para os ativos brasileiros. Além dos preços das commodities em patamares elevados e da taxa real juros mais alta do mundo (à exceção da Rússia), o Brasil é praticamente a única alternativa de investimento entre grandes países emergentes.
“Temos um mercado financeiro desenvolvido e líquido. A Rússia está fora do jogo e a China tem problemas. Sobra basicamente o Brasil para quem quer ou precisa alocar em emergentes com um PIB de dimensão considerável”, diz Weigt. “O cenário precisaria piorar muito para sair dinheiro de verdade do Brasil e ocorrer uma depreciação forte do real”.
Entre indicadores domésticos, destaque do radar dos investidores do dólar para o resultado das vendas no varejo: alta de 1,1% em fevereiro na margem (com ajuste sazonal), acima da mediana de Projeções Broadcast (0,2%). Na comparação anual, as vendas subiram 1,3%, enquanto a mediana era de baixa de 1,3%.
Com informações do Estadão Conteúdo