Comprar e vender dólar tende a ser mais barato – em termos de custos – daqui para frente, dado o cenário de regulamentação do setor. Após um pleito que durou cerca de uma década, operacionalmente falando as corretoras de câmbio agora não mais necessitam de bancos brasileiros como intermediários, podendo estabelecer um vínculo direto com um banco estrangeiro.
Isso se deu em função de uma mudanças regulatória que só está entrando em prática recentemente. Há anos as corretoras pleiteavam essa alteração por meio da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam). O tema virou lei em 2013 mas só em 2021 o Banco Central (BC) regulamentou de fato, e aos poucos o impacto está sendo sentido pelo mercado que lida com dólar.
Tulio Portella, diretor Comercial e de Varejo do Grupo B&T, destaca que a redução do spread com as novas regras fica na casa dos 70%, mas se considerada toda a operação, a redução global de custos fica de 30% a 40%.
“O que mudou é que você tem um intermediário a menos; o banco brasileiro que participava da operação tinha uma margem de receita pela oferta desse produto. Agora, com a conta lá fora você tem uma redução significativa de custos”, explica.
Segundo o especialista, essa demora para o impacto ser sentido pelo setor após a regulamentação em 2021 se dá pelo tempo de maturação do mercado, de os bancos estrangeiros reconhecerem o potencial de mercado.
Além disso, somente as maiores corretoras de câmbio têm tido acesso a esse tipo de estrutura que torna comprar dólar algo mais barato, caso da B&T, que transacionou R$ 7,7 bilhões junto aos seus clientes em 2023 e firmou parceria com o Bank Of New York Mellon (BNY Mellon) – e a partir de 2024 irá operar diretamente com a instituição.
“Tem todo um trabalho de apresentação, de due dilligence, de mostrar a solidez do mercado junto aos bancos”, comenta Portella.
Já sobre a demora para a regulamentação do Banco Central, que foi de 2013 a 2021, o especialistas explica que ocorreu com a fila de prioridades da autoridade monetária.
A medida integra uma agenda que deve tornar o mercado de câmbio cada vez mais competitivo.
“Agora a visão é de que a indústria siga cada vez mais competitiva. Vimos redução de margens e uma briga por qualidade de serviço. Vemos também um movimento mais institucional do BC de redução de barreiras de entrada, possibilitando inclusive a operação de câmbio por instituições de pagamento”, observa Portella.
Remessas de dólar maiores?
Sobre medidas futuras, Portella comenta que a expectativa é de que o limite de operação possa ser alterado no futuro.
Antigamente o limite de operação era de US$ 100 mil para corretoras. Com o marco cambial em 2021, esse limite subiu para US$ 300 mil, ao passo que as instituições de pagamento – recém contempladas pela regulação – possuem limite de US$ 100 mil.
“Esse aumento de limite nos permitiria atender clientes que independente da sua vontade não podem ser atendidos por corretoras. Hoje um cliente de US$ 450 mil não pode ser atendido por nós mesmo que queiramos e possamos”, explica.
“A diferença essencial é que o limite do banco não é regulatório, mas sim atrelada ao patrimônio dele. Nas corretoras você tem esse limite preestabelecido. Nesse cenário você tem a nós, com R$ 27 milhões de patrimônio e corretores menores, com R$ 3 milhões, tendo o mesmo limite. Com essa regulamentação você limita o crescimento das maiores e oferece mais risco para os menores”, completa.
O especialista ainda observa que a parceria com o BNY Mellon foi um marco importante para chamar atenção para o mercado de dólar e câmbio, sinalizando que é uma indústria que deve crescer e tende a evoluir gradual e sucessivamente.