Na sexta-feira (03), os dados de emprego dos Estados Unidos (Payroll) causaram uma queda significativa no dólar, que encerrou o dia em R$ 5,06, uma redução de 0,85%. Esse valor representa o patamar mais baixo desde 9 de abril, quando a moeda estava cotada a R$ 5,0067. Na semana, o dólar acumulou uma queda de 0,93%.
Segundo Diego Costa, Head de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio, a divulgação do Payroll nos Estados Unidos animou os investidores que buscam rentabilidade.
“Os números indicam que a economia americana pode estar entrando em um ritmo mais moderado de crescimento, o que abre espaço para a possibilidade de o Federal Reserve recalibrar seu cronograma de cortes nos juros. Essa mudança seria potencialmente positiva para os mercados emergentes”, afirma Costa.
Com a perspectiva de juros mais baixos no futuro, os investidores se sentem mais confiantes para buscar retornos mais altos em ativos de risco, como ações e títulos de mercados emergentes, o que pressionaria para baixo as cotações do dólar.
Além disso, na semana, o real também se beneficiou da avaliação positiva da Moody’s, com a demanda pela moeda local aumentando e resultando em uma valorização de 1,53% em relação ao dólar americano na quinta-feira (02).
Dólar: qual a tendência para a moeda americana em maio?
Em abril, o mês foi fechado com um aumento de mais de 3,6% no valor do dólar. Para Anilson Moretti, head de câmbio da HCI Invest e planejador financeiro CFP pela Planejar, a tendência para maio é de que essa valorização prossiga, especialmente após o mercado abrir com uma queda significativa no dia da notícia da manutenção da taxa de juros o Fed.
Na quarta-feira, 1º, o presidente do Fed, Jerome Powell, descartou a possibilidade de alta de juros, tese que começava a ser ventilada por uma ala minoritária do mercado, e disse ser “provável” queda da taxa básica ainda em 2024. Monitoramento do CME Group mostrou que as chances de o Federal Reserve cortar juros em setembro subiram de pouco mais de 50% na quinta-feira para mais de 70% nesta sexta-feira, o que certamente vai afetar o desempenho do dólar.
“Além disso, observamos que o mercado americano está em alta, o que pode fortalecer ainda mais o dólar. Isso resultará na desvalorização das moedas de países emergentes como o Brasil, México e outros, devido à previsão de queda nas taxas de juros nos Estados Unidos, que provavelmente ocorrerá somente em setembro ou outubro deste ano”, pontua Moretti.
No Brasil, o foco ainda está nas incertezas fiscais relacionadas à desoneração fiscal e à redução das taxas de juros. Essa situação tem levado os investidores a retirarem seus investimentos do país, resultando em um significativo fluxo estrangeiro negativo.
“Na última semana, tivemos um recorde negativo deste ano, com um saldo negativo de 11 milhões. Provavelmente encerramos com o maior patamar negativo do fluxo estrangeiro na bolsa. Isso é prejudicial para o mercado brasileiro e contribui para a valorização do dólar. Acredito que atualmente estamos em um patamar favorável para a compra de dólares, especialmente para importadores e prestadores de serviços que precisam efetuar pagamentos no exterior”, diz Moretti.
Qual patamar a moeda americana deve ficar daqui para frente?
De acordo com André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, as incertezas em torno do cenário fiscal, juntamente com a possibilidade de o Federal Reserve manter os juros por mais tempo devido a uma inflação mais persistente nos Estados Unidos, sugerem que o dólar deve se manter entre 5,00 e 5,10 em 2024.
“A perspectiva de ver o dólar abaixo de 5,00 novamente depende de uma possível reversão do fluxo vendedor por parte do investidor estrangeiro, que já retirou mais de R$ 30 bilhões da nossa bolsa em 2024, além de grandes melhorias nas contas públicas. Sem esses elementos, é improvável que o dólar caia abaixo de R$ 5,00 este ano”, explica o analista.