O dólar fecha em queda de 1,31%, cotado a R$ 4,8075, alinhado à tendência da moeda norte-americana no exterior em dia de apetite por ativos de risco. No início da tarde, a divisa chegou a romper o piso de R$ 4,80 e registrou mínima a R$ 4,7857. No fechamento, a divisa dos EUA encerrou no menor valor desde 22 de abril.
A última vez que o dólar fechou no patamar de R$ 4,60 foi em 20 de abril, véspera do feriado de Tiradentes. Na volta dos negócios, em 22 de abril, a divisa disparou e encerrou com alta de 4%, a R$ 4,8051, em meio a forte perda de ativos de risco provocada por sinais mais duros emitidos pelo Fed.
No acumulado do mês de maio, a moeda norte-americana já recuou 2,79%. Com o desempenho, o dólar acumula queda de 13,7% em 2022. Depois de disparar no primeiro trimestre, o real perdeu fôlego a partir de abril, e se mantinha abaixo das máximas do ano, oscilando praticamente em sincronia com a performance do dólar no mercado internacional.
Apesar do menor interesse por ativos mais seguros, como dólar, persiste um pano de fundo de cautela com o impacto da inflação elevada, aumentos de juros, a desaceleração da China em meio ao combate contra a covid-19 e a guerra na Ucrânia na economia global.
Relatos da mídia estatal chinesa dão conta de que Pequim vai fornecer abatimentos de créditos fiscais a mais setores econômicos e elevará o corte de impostos anuais em mais de 140 bilhões de yuans, para 2,64 trilhões de yuans. Na semana passada, o Banco do Povo da China (PBoC, o BC chinês) cortou a taxa para empréstimos de longo prazo de 4,60% para 4,45%, para amenizar o tombo do setor imobiliário. A China também já iniciou um relaxamento de medidas restritivas prescritas pela política de covid-zero que minam o crescimento econômico.
“Estão vindo ventos externos positivos. A China dando estímulos para sustentar a economia significa boa perspectiva para commodities. Isso atrai investidores para a nossa bolsa e aumenta entrada de dólar do lado comercial”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, acrescentando que questões domésticas, como a aprovação da privatização da Eletrobras (ELET3) e o projeto de unificação da alíquota do ICSM sobre combustíveis e energia contribuem para alavancar os ativos locais nesta segunda-feira.
O Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) avalia que a economia mundial pode até enfrentar uma recessão este ano.
E em um dos primeiros e disputados painéis do dia no Fórum de Davos, o ministro para Assuntos Econômicos e Proteção Climática da Alemanha, Robert Habeck, alertou para o risco de recessão mundial, em uma conjuntura marcada por várias crises: inflação alta na Europa, Estados Unidos e nos outros países; potencial crise energética em países europeus; escassez de alguns alimentos e problemas climáticos.
“Se nenhum dos problemas for resolvido, temo que estejamos realmente entrando em uma recessão global”, disse o ministro alemão, defendendo que não adianta resolver apenas a inflação ou o problema de energia, mas todos eles.
No mercado local, a expectativa é de que os juros futuros podem ter oscilações mais moderadas à espera do IPCA-15 de maio, amanhã, e da votação do projeto do ICMS sobre os combustíveis, que também pode ocorrer nesta terça-feira (24).
“No Brasil, sobre a votação do projeto do ICMS sobre combustíveis, é intenção a criação de uma alíquota única de 17% para o ICMS sobre combustíveis e energia, mas a reação dos estados promete ser dura. Estudos indicam perda de receita, para estas esferas, em torno de R$ 70 bilhões ao ano”, informou o relatório da Mirae Asset.
As atenções também estarão voltadas para a reunião trimestral de economistas com o Banco Central que acontece nesta segunda-feira.
No exterior, os destaques nos próximos dias são a publicação da ata referente à última reunião de política monetária do Federal Reserve, na quarta-feira, e discurso do presidente da autoridade, Jerome Powell, que participa de evento amanhã.
Para o IPCA-15, a estimativa é de uma desaceleração a 0,45% em maio, de 1,73% em abril, graças ao alívio da energia elétrica, com a mudança da bandeira tarifária de “escassez hídrica” para “verde” desde 16 de abril. Apesar do arrefecimento, a inflação acumulada em 12 meses deve acelerar a 12,04% (mediana) em maio, de 12,03% em abril. As estimativas vão de 10,70% a 12,26%.
A projeção da Fundação Getulio Vargas (FGV) para o Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) de maio subiu de 0,30% para 0,50% após o avanço de 0,41% para 0,44% na terceira quadrissemana, informou o coordenador do indicador, Paulo Picchetti.
A principal pressão altista vem da gasolina, que acelerou de 0,68% para 0,97% nesta leitura e já registra taxa de 1,20% na ponta.
Dólar: entrada de fluxo de recursos para a bolsa brasileira
Operadores relataram entrada de fluxo de recursos para a bolsa brasileira, em especial para ações ligadas a commodities, fechamento de câmbio por exportadores e redução de posições cambiais defensivas no mercado futuro.
A moeda brasileira e os ativos locais se beneficiam da perspectiva de estímulos econômicos na China, o que diminui os temores de uma desaceleração do PIB global e dá suporte aos preços das commodities. Além disso, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acenou com a possibilidade de retirar tarifas a produtos chineses (impostas no governo Donald Trump) justamente em momento de fragilidade do comércio internacional em razão da guerra na Ucrânia.
Com raras exceções, a moeda americana apresentou perdas frente a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis moedas fortes – trabalhou em queda superior a 0,90% a maior parte do dia e ameaçou romper os 102,000 pontos na mínima (102,040 pontos). Esse movimento teve como principal responsável a forte valorização do euro (acima de 1%), após a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sinalizar alta de juros em junho e dizer que o cenário de taxas negativas para depósitos na região deve terminar em setembro. No mesmo tom, o presidente do Banco da França e dirigente do BCE, François Villeroy de Galhau, afirmou, no Fórum Econômico Mundial de Davos, que uma alta de juro no curto prazo na região “está praticamente fechada”.
Para Galhardo, da Treviso, a alta de juros na Europa atenua a tendência recente de fortalecimento da moeda americana no exterior, na esteira do processo de elevação dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), que divulga a ata do seu último encontro de política monetária na quarta-feira, 25.
Se não houver episódios agudos de aversão ao risco no exterior, Galhardo prevê que o real pode seguir se apreciando e até o dólar romper R$ 4,60, dado que o Brasil ainda oferece condições atraentes para o investidor estrangeiro, como taxa de juros elevadas e uma bolsa ligada a commodities. “O dólar pode continuar em queda nas próximas semanas, mas deve retornar em agosto para um patamar de R$ 5 e pode até alcançar R$ 5,20 com a eleição para presidencial”, diz Galhardo.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que o real foi beneficiado nesta segunda pela menor aversão ao risco no exterior, mas que o dólar deve voltar a subir no mercado doméstico. “A imprevisibilidade da gestão futura da política econômica e a proximidade da eleição presidencial vão se somar à correção para baixo das previsões de crescimento nos EUA com um juro mais elevado, superior a 3% ao ano”, afirma Velho, em relatório.
Última cotação do dólar
Na sexta-feira (23), dólar fechou em baixa de 0,87%, a R$ 4,87 – menor valor desde 22 de abril – e acumulou na semana passada desvalorização de 3,63%.
(Com informações do Estadão Conteúdo e Agência Brasil)