Na sexta-feira (16), o dólar subiu 0,22% e terminou o dia vendido a R$ 4,997, após três altas seguidas. No mês, a moeda americana acumula valorização de 0,5% frente ao real.
Durante a semana, a moeda americana oscilou em resposta a uma série de eventos, incluindo dados econômicos dos Estados Unidos e do Brasil, bem como expectativas em torno das decisões de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central do Brasil.
“A proximidade das reuniões dessas instituições gerou cautela entre os investidores, levando a movimentos significativos no câmbio”, explica Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
Segundo Gonçalvez, o desempenho do dólar foi influenciado por questões globais, como a evolução dos rendimentos dos Treasuries e a atividade industrial nos EUA. A produção industrial norte-americana teve alta mensal de 0,80% em fevereiro, o consenso era de 0,30%.
Em linhas gerais, os dados reforçam o entendimento em relação aos recentes indicadores do país de indícios de pressão inflacionária nos EUA. Neste sentido, a expectativa em relação ao tamanho dos cortes dos juros pelo Federal Reserve no final do ciclo pode diminuir.
Para Bruno Nascimento, analista de Câmbio – Norte e Nordeste da B&T, dólar também foi influenciado por dados de inflacionários, tanto aqui quanto nos Estados Unidos. No cenário local, a divulgação do IPCA, índice oficial de inflação no Brasil, apresentou uma variação positiva de 0,83% em fevereiro, após uma valorização de 0,42% em janeiro. Mesmo acima das estimativas, o analista diz que o resultado pode ser considerado positivo, já que o núcleo de inflação apresentou uma desaceleração.
Nos Estados Unidos, houve a divulgação do IPC, que teve alta de 0,4% em fevereiro, mostrando a resiliência da economia norte-americana. “Essa resistência também foi observada na divulgação do PPI, que avançou 0,6% em fevereiro, quando o esperado era uma alta mensal de 0,3%. Vale reforçar que esses indicadores são acompanhados pelo Federal Reserve em suas decisões de política monetária”, comenta Nascimento.
Dessa forma, ainda sob impacto dos índices de inflação ao consumidor e ao produtor nos EUA divulgados nesta semana, investidores adotaram uma postura defensiva, à espera da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) na próxima quarta-feira, 20.
Dólar: mercado de olho na “Super Quarta”
Depois dos dados positivos das vendas do varejo em janeiro divulgados na quinta-feira, sexta saíram números fortes do setor de serviços e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), também referentes a janeiro. Esse quadro já leva parte dos analistas a trabalhar com a hipótese de que o Banco Central – que também anuncia sua decisão de política monetária no dia 20 – desacelere o ritmo de cortes da taxa Selic até meados deste ano.
Com oscilação de menos de dois centavos de real entre a mínima (R$ 4,9827) e a máxima (R$ 5,0016), o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 0,22%, cotado a R$ 4,9980. Na semana, a divisa avançou 0,34%, o que leva a valorização acumulada no mês a 0,50%.
“Os números de inflação nos EUA surpreenderam negativamente e o mercado começou a reduzir as chances de corte dos juros pelo Fed em junho, o que fez o dólar trabalhar mais perto de 5,00”, afirma o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, ressaltando que o real apresenta em março comportamento “um pouco pior” que de seus pares entre divisas emergentes.
É dado como certo que o Fed vai anunciar no dia 20 manutenção da taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50%. As atenções se voltam ao tom do comunicado e às projeções dos dirigentes da instituição para inflação, atividade e taxa de juros contidas nos chamados gráfico de pontos.
Monitoramento do CME Group mostra que as chances de o BC americano reduzir os juros em junho, que chegaram a superar 80% no início do mês, caíram para menos de 60% nesta sexta. O cenário mais provável ainda é de uma redução dos Fed Funds em 0,75 ponto porcentual neste ano.
Garcia, da C6 Bank, observa que, na última edição dos “dot points”, a maioria dos dirigentes previa três reduções dos juros neste ano. Projeções mais conservadores e uma postura mais dura do Fed podem levar à nova rodada de alta do dólar no mundo, respingando sobre o real.
“É isso que vai definir se a taxa de câmbio vai continuar trabalhando no intervalo entre R$ 4,85 e R$ 5,00 ou se vai mudar de patamar, para um range entre R$ 5,00 e R$ 5,10”, diz Garcia, ressaltando que fatores internos, como a retenção dos dividendos extraordinários da Petrobras, também levaram o dólar a operar mais perto de R$ 5,00 nos últimos dias. “O fluxo continua positivo, com a balança comercial forte, mas houve uma piora tanto no cenário externo quanto nas questões locais.”
Como o dólar deve se comportar na próxima semana?
Para a próxima semana, diz Gonçalvez, espera-se uma continuação da volatilidade nos mercados financeiros, com foco nas decisões de política monetária do Federal Reserve nos Estados Unidos (EUA) e do Banco Central no Brasil.
“Investidores estarão atentos a qualquer indicação de mudanças nas taxas de juros e políticas econômicas. Além disso, os movimentos serão influenciados pelos indicadores econômicos, tanto domésticos quanto internacionais. Em suma, antecipa-se uma semana de intensa atenção aos eventos econômicos, com possíveis impactos no câmbio e na Bolsa de Valores”, afirma o CEO da Box Asset.
Conforme relata Felipe Molinari, CEO da Mosaico Investimentos, enquanto a inflação continuar mostrando resiliência, mais dificuldade o FED tem para iniciar uma política menos restritiva.
“Para a próxima semana, temos a divulgação da prévia do PIB aqui no Brasil e, na quarta, decisão do COPOM e FOMC sobre a política monetária. Não é esperado surpresas para essas decisões, Brasil deve continuar a trajetória de juros com mais um corte de 50bps, enquanto o FED deve manter os juros americanos entre 5,25 e 5,50. Esperamos um dólar negociando neste mesmo patamar perto de R$5”, conclui.