A Argentina vê sua crise econômica se intensificar com o peso atingindo no mercado paralelo um novo recorde de desvalorização.
Nesta terça-feira (19), o “dólar blue” — taxa de câmbio paralela utilizada na Argentina — passou a ser negociado a 300 pesos por dólar, em meio à piora do desgaste econômico da nação causado pela recente renúncia do ex-ministro da economia, Martin Guzmán.
Mas este não é o único recorde. O blue-chip swap, outro índice de câmbio paralelo utilizado por investidores no país vizinho, também viu um enfraquecimento exponencial, chegando a custar 308 pesos por dólar.
Como consequência da queda dessas taxas de câmbio paralelas, o spread em relação à taxa oficial passou a um recorde de 137%, reduzindo o poder de compra da população e aprofundando a instabilidade do mercado. Pelo oitavo dia consecutivo, a diferença ficou acima de 125% — no período mais extenso desde que a hiperinflação paralisou a economia argentina em 1990.
Em nota aos clientes, analistas da PPI (Portfolio Personal Inversiones, corretora local) liderados por Joaquin Bagues afirmaram que “durante a turbulência financeira de outubro de 2020, a diferença ficou apenas três dias acima desse limite e depois se atenuou com um pacote fiscal e monetário lançado pelo ex-ministro Martín Guzmán”. De acordo com os analistas, a nova ministra da economia da Argentina, Silvina Batakis, “parece não ter respaldo político para implementar medidas semelhantes no cenário atual.”
Nas últimas semanas, grupos de economistas e investidores solicitaram ao governo que desvalorize a taxa de câmbio oficial para acabar com a disparidade crescente das taxas. A perspectiva de inflação para os argentinos é de 90% até o final do ano.
O governo do presidente Alberto Fernández tem permitido a aceleração da depreciação. Contudo, descarta a possibilidade de uma desvalorização pontual.
“As chances de uma desvalorização em uma única tacada aumentaram consideravelmente”, disse a PPI na nota. “Mesmo assim, acreditamos que o governo procurará evitar uma desvalorização repentina a todo custo.”
Origem do “dólar blue”
Desde 2011, o termo “dólar blue” tem sido utilizado na Argentina. Isto ocorreu em resposta às restrições à aquisição de moeda estrangeira que a AFIP (Administración Federal de Ingresos Públicos, órgão de arrecadação de impostos) e o Banco Central da República Argentina, que estavam sob o comando da Presidente Cristina Fernández de Kirchner, começaram a aplicar na época.
Perspectivas econômicas da Argentina
Na Argentina, ao longo de 2022, esperam-se pagamentos ao FMI de cerca de US$ 19 bilhões, em 2023 outros US$ 20 bilhões e, em 2024, cerca de US$ 4 bilhões a mais.
O governo está procurando chegar a um acordo que prolongue as condições de pagamento e substitua o atual programa de “stand-by”
Com acesso restrito aos mercados de crédito e com as reservas internacionais indisponíveis, o Banco Central argentino limitou suas intervenções no mercado de divisas nas últimas semanas.
Na Argentina, os controles cambiais têm sido mais rígidos desde 2019, limitando o valor que os indivíduos podem comprar no mercado oficial a 200 dólares por mês.
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