Nuvens políticas de Brasília bagunçam dólar: moeda vai ficar abaixo dos R$ 5 de novo?
O dólar ficou abaixo dos R$ 5 por alguns momentos neste mês e a expectativa do mercado é de que esse cenário volátil seja a regra de 2023. Uma das respostas para essa instabilidade são as nuvens políticas que pairam sobre Brasília na esfera da política econômica.
“A conjuntura doméstica ainda é povoada por incertezas em relação ao rumo da economia, desta vez com as instabilidades tocando não só a política fiscal, como também a política monetária”, ressaltaram os analistas do BTG Pactual Leonardo Paiva e Arthur Mota.
Em relatório divulgado pelo banco após as farpas disparadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, os analistas destacaram que “o contexto de incerteza acima do usual deve resultar na taxa negociando em patamar mais depreciado”. Assim, a expectativa do banco é de que a cotação do dólar feche 2023 em R$ 5,30.
Os especialistas ouvidos pelo Suno Notícias também apontam fatores internos que causaram oscilações no dólar nas últimas semanas.
“Tivemos uma puxada do dólar com as falas do presidente Lula, principalmente sobre as alíquotas do imposto de renda e a moeda única Brasil e Argentina. Isso puxou o dólar para o patamar em torno de R$ 5,20, R$ 5,25″, destacou Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
Enquanto a PEC da Transição assustou os agentes econômicos no final do ano passado, as atuais discussões sobre o arcabouço fiscal que substituirá o teto de gastos e a manutenção da taxa básica de juros em 13,75% já começaram a trazer um certo alívio.
“Os sinais fiscais, que eram ruins na virada do ano, ficaram um pouco melhores. Acho que isso diminuiu um pouco o prêmio da parte fiscal em torno do câmbio“, comentou Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.
O que mais cria uma força contrária a essa apreciação global que, teoricamente, as moedas estão tendo frente ao dólar, é exatamente a questão fiscal.
“O cenário deu uma arrefecida com a fala do [Fernando] Haddad sobre a volta do imposto dos combustíveis e tudo ainda que move arrecadação a cobrir o rombo do déficit publico. O mercado vê com bons olhos e acaba tirando um pouco de pressão em cima do dólar”, ressaltou Velloni.
Dólar em 2023: cenário externo também impacta na cotação
Além dos ruídos internos brasileiros, o que ocorre fora do País também mexe com o cenário do dólar vs real.
Os analistas do BTG Pactual argumentaram que a decisão do Federal Reserve (Fed) de desacelerar a alta dos juros nos Estados Unidos “reduziu a possibilidade de encerramento do ciclo em março, sinalizando que [os líderes econômicos norte-americanos] ainda não atingiram o patamar suficientemente restritivo necessário para a desaceleração da inflação”.
O [Jerome] Powell foi novamente questionado sobre a precificação na curva futura de uma redução de juros no próximo semestre e reforçou, assim como já tinha feito em outras aparições, que cortes na taxa não serão apropriados para este ano. A consolidação deste cenário deve pesar negativamente sobre o real.
“O dólar já estava em tendência de desaceleração, perdendo força, continuou desacelerando, ficando sem ritmo frente às principais moedas. Provavelmente, a baixa do dólar é reflexo da percepção do mercado de que a política monetária já está chegando perto do teto de aperto”, destacou Costa.
Em uma economia globalizada, a moeda americana também é afetada pela reabertura econômica da China, que está sendo mais rápida do que o projetado inicialmente.
“O cenário internacional foi mudando um pouquinho, até com a retomada da China e o aumento dos preços das commodities, o que foi arrefecendo o dólar“, complementou Velloni.