Na sexta-feira (22), o dólar subiu 0,38% e fechou o dia vendido a R$ 4,998, patamar similar comparado a semana passada. No mês, a moeda americana acumula valorização de 0,14% frente ao real.
Segundo Diego Costa, head de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio, a semana termina praticamente como começou, sendo possível separar a movimentação do mercado de câmbio em duas etapas: antes e depois da Super Quarta.
O período antecedente às decisões de juros foi marcado por uma escalada da aversão ao risco. “Os indicadores de preços nos Estados Unidos das últimas semanas aceleraram o sentimento de cautela entre os investidores, que buscaram proteção em moedas mais seguras, levando uma valorização do dólar em 1% contra o real, atingindo a marca dos R$ 5,05 na terça-feira”, comenta Costa.
No dia seguinte, marcado pelas expectativas com as decisões e os comunicados dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos, os investidores aproveitaram para realizar lucros, devolvendo parcialmente os ganhos do dólar durante o dia. “Mas o que potencializou mesmo esse movimento de queda da moeda norte-americana foram as falas de Powell, devolvendo o otimismo para os mercados após sugerir que é apropriado considerarmos um cenário com três cortes de juros este ano; foi quando o dólar chegou a tocar nos R$ 4,96”, diz o head da B&T Câmbio.
Dessa forma, no encerramento da semana, a bolsa brasileira reage a dois sinais contrastantes: a perspectiva positiva de que o Federal Reserve poderá efetivamente realizar três cortes de juros este ano e, por outro lado, a postura mais cautelosa do Banco Central do Brasil ao indicar uma possível desaceleração no ritmo de cortes na taxa Selic, o que desanimou os investidores locais, pois isso significa que o custo do crédito se torna mais alto no país.
Dólar: o que esperar da moeda americana nos próximos dias?
Nesta semana, o dólar futuro teve o mesmo comportamento do Ibovespa, apesar de terminar sexta-feira com leve alta. “Em uma semana de grande volatilidade, o dólar praticamente termina onde começou a semana, ou levemente acima”, afirma Anderson Silva, head de renda variável e sócio da GT Capital.
Para as próximas semanas, Silva vê o mercado, assim como o dólar, permanecendo nas laterais. “Afinal de onde virá o dinheiro novo para impulsionar o IBOV aos 140 ou 150 mil pontos, se cada vez mais o dinheiro estrangeiro sai do Brasil? Nesse caso, o melhor que se tem a fazer é avaliar o portfólio e aproveitar para aumentar as posições em empresas de bons fundamentos”, questiona.
Seguindo a mesma linha, Costa avalia que, no curto prazo, a manutenção de uma alta consistente do câmbio é improvável, salvo por eventos políticos imponderáveis. No entanto, a intensificação das exportações nos próximos meses, apesar dos desafios climáticos, também podem contribuir para o fortalecimento do real.
“Os investidores continuarão buscando orientação nos discursos dos representantes dos bancos centrais, enquanto aguardam a divulgação das atas das últimas decisões de política monetária, que podem fornecer uma compreensão mais clara dos motivos por trás das decisões recentes e das perspectivas futuras”, afirma Costa.
De agenda que pode interferir no mercado, na próxima semana, novos indicadores econômicos serão acompanhados de perto como o IPCA-15, balanço orçamentário e RTI do BC no Brasil, juntamente com a taxa de desemprego nos Estados Unidos e indicadores como PIB, dados do varejo e o PCE. Na China, é importante estar atento ao lucro industrial.
Fortalecimento global do dólar
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que o principal fator por trás do escorregão recente do real é o fortalecimento global do dólar, sobretudo após a leitura acima das expectativas do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) em janeiro.
“A questão é que aqui dentro não vemos eventos para neutralizar parte desse efeito externo. Pelo contrário. O ambiente político está muito ruidoso”, afirma Damico, lembrando os questionamentos de intervenção política na gestão da Petrobras (PETR4) após a retenção de dividendos extraordinários. “Temos também uma queda de popularidade do presidente Lula, que pode levar a ações populistas e implicar mais gastos.”
A economista da Armor observa que, nos últimos dias, o real teve desempenho relativo inferior a de seus principais pares, embora os fundamentos estejam melhores. Ela cita os resultados bons balança comercial e arrecadação federal mais forte neste início do ano, que pode levar o governo a postergar a discussão da revisão da meta de resultado primário. “O problema é que esse ruído político tem feito preço no dólar”, afirma.
Meta de déficit zero
No primeiro relatório bimestral de receitas e despesas do ano, o governo terá de apontar, formalmente, se o alvo fiscal de déficit primário zero em 2024 caminha para ser cumprido ou não, e se, diante do atual cenário, há necessidade de bloqueio de despesas e de quanto. De acordo com fontes da equipe econômica, a tendência é de um bloqueio no orçamento de até R$ 3 bilhões, por boa performance das receitas e revisão de gastos do INSS, apurou o Estadão/Broadcast.
Como mostrou o Estadão/Broadcast, uma arrecadação mais forte em janeiro e fevereiro, acima do esperado pelo mercado, e indefinições dentro do Congresso e na negociação com empresas podem empurrar esse teste para frente, afastando a necessidade de um bloqueio mais expressivo neste primeiro momento.
Apesar da avaliação do mercado de que a meta de déficit zero em 2024 já tem um encontro marcado com uma revisão – ainda que no segundo semestre -, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, reafirma o compromisso da equipe econômica com o objetivo fiscal e diz que, hoje, o governo não trabalha com outro cenário. “Nós queremos cumprir a meta sem mudá-la e estamos trabalhando para criar condições para isso”, diz ele. “Hoje, não há uma discussão sobre isso.”
Já a decisão do STF de anular o julgamento da “revisão da vida toda” no INSS, que livra a União de impacto de R$ 480 bilhões nas contas públicas, pode ser um alento do lado fiscal.
Cotação do dólar
Ao final da sessão de sexta-feira (22), o dólar subiu 0,09%, cotado a R$ 4,9792.
Com esse resultado, o dólar acumulou queda de 0,36% na semana, ganho de 0,14% no mês e avanço de 2,61% no ano.
Com Estadão Conteúdo
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