Dólar em 2022: qual a tendência da moeda americana neste ano de juros altos e eleições?

Desde o começo de 2022, o real acumula uma valorização de cerca de 9% ante o dólar. Ainda que o crescimento da moeda brasileira não seja suficiente para cobrir as perdas durante a pandemia da Covid-19, analistas apontam que há espaço para a divisa nacional crescer ainda mais.

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Nesta semana, a cotação do dólar chegou a ensaiar furar o limite de R$ 5,00 pela primeira vez em quase um ano, negociado a R$ 5,0280 no fim da sessão de quinta-feira (3). A última vez que a moeda foi cotada abaixo de R$ 5,00 foi na última semana de junho de 2021.

Segundo especialistas, há dois principais motivos para a valorização do real ante a divisa americana. O primeiro deles é o avanço da taxa básica de juros a fim de tentar conter a inflação no País, que em 2021 terminou o ano acima da meta do Banco Central.

Os títulos emitidos pelo Tesouro com rendimentos atrelados à Selic devem terminar o ano pagando o investidor com juros de 12% a.a., de acordo com palpites do mercado financeiro no Boletim Focus.

A taxa, muito superior à de países desenvolvidos, tem atraído grande volume de capital de fora, o que faz a moeda brasileira ganhar força amparada pelo rendimento alto e risco baixo dos títulos públicos.

Outro ponto a ser considerado é o conflito na Europa, com a invasão da Ucrânia pela Rússia. A guerra derrubou as bolsas de valores da Europa e desvalorizou as moedas. O rublo russo despencou, enquanto o euro é cotado ao menor valor desde agosto de 2020, a R$ 5,53.

Ainda que a preocupação cause um movimento de aversão a risco para parte dos investidores, existem aqueles que veem no Brasil um substituto para os investimentos na Rússia, cuja economia sofre o peso das fortes sanções.

Para as tendências deste ano, o mercado segue atento ainda à disseminação do novo coronavírus e, no Brasil, o ano eleitoral também pode fazer preço – embora analistas do mercado vejam os cenários com as principais alternativas já definidas, uma vez que os candidatos à frente das pesquisas ocuparam ou já ocupam a cadeira presidencial.

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Juros e commodities favorecem real ante o dólar

Vanessa Blum Colloca, economista-chefe da GetMoney, avalia que a tendência do dólar para o primeiro semestre é de que a moeda continue em queda, principalmente por causa dos juros atrativos, e defende que há espaço para a divisa americana cair abaixo de R$ 5,00.

Segundo a especialista, o carry-trade, estratégia de investir dinheiro emprestado a taxas melhores, do Brasil atrai muito os investidores e mantém o fluxo positivo de dólares no País.

Em relação aos Estados Unidos, Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve, o banco central americano, deu indicação de que o aperto monetário será mais suave, ainda que por mais tempo.

Para o próximo ajuste monetário nos EUA é esperado um aumento de 0,25 pontos percentuais no rendimento dos títulos públicos, enquanto que, aqui no Brasil, o mercado precifica um avanço de 1,0 p. p para a próxima taxa Selic, que será definida no dia 16 de março pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central).

“Assim, fica ainda mais atrativo investir no Brasil, que tem juros altos e previsão de subir ainda mais. O Banco Central já falou que haverá mais altas na taxa Selic no decorrer do período”, afirmou a economista-chefe.

“São muitas questões que mostram por que o dólar deve continuar caindo. Uma delas é das commodities, e o salto na cotação de algumas commodities exportadas pelo Brasil protege a atividade aqui de impactos mais severos”, completou a especialista sobre os motivos da valorização do real.

Conforme destacou Vanessa, da GetMoney, o Brasil recebe grande parte do capital especulativo que teria a Rússia como destino, mas não pode em função das pesadas sanções econômicas às instituições financeiras de lá após o país invadir a soberania ucraniana.

Já para o segundo semestre, a economista assinala a influência das eleições, período em que aumenta a volatilidade do câmbio, por causa das avaliações de risco.

“No segundo semestre, o câmbio não deve continuar tão baixo quanto no primeiro porque já estará totalmente precificada a questão de aumento da Selic, e vão entrar as eleições, que, historicamente, costumam impactar com um dólar mais alto’, diz Vanessa Colloca.

“O que a gente não pode esquecer é que, apesar de todo o otimismo e essa euforia – baseada nas commodities e na fuga de capital estrangeiro para cá pelo diferencial de juros e conflito na Europa -, está pintando uma estagflação aqui”, alerta. “E a economia não está deslanchando como era previsto”, completou sobre o que chamou de “um cenário péssimo para o real”.

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Eleições são mais do mesmo

Vanei Nagem, sócio-proprietário da Pronto! Câmbio, avalia que a tendência é de que o dólar caia mais, podendo chegar, no limite, até o nível de R$ 4,80.

Segundo a leitura do analista, grande parte do volume de capital estrangeiro que entrou no País veio em busca dos rendimentos atrativos do juros e da Bolsa brasileira.

Entre os riscos que poderiam fazer o dólar descer abaixo do suporte, há a possibilidade de o Banco Central brasileiro elevar os juros acima das expectativas a fim de conter uma eventual inflação mais forte.

Para Nagem, uma vez que o Brasil saiu à frente de outras economias mundiais no aumento da taxa de juros para conter os efeitos da inflação, o fluxo de capital deve se manter até que haja uma elevação das taxas lá fora em ritmo mais significativo.

Nagem, entretanto, ressalta que o principal fator que sustenta esta avaliação é a entrada de capital especulativo no País, “dinheiro que vem fácil e vai fácil”, nas palavras do especialista.

Conforme ressalta, estes investimentos não costumam ter uma permanência grande no País, e duram em média de seis meses a um ano.

Sobre as eleições presidenciais, período em que o mercado financeiro estará de olho nas possíveis indicações para os próximos ministro da Economia e presidente do Banco Central, Nagem avalia que este ano o cenário é mais do mesmo.

Em conversas com analistas daqui do Brasil e de fora, o sócio da Pronto! Câmbio relata que, apesar da expectativa de que poderia haver um susto nestas eleições, o cenário é “mais do mesmo”: com o possível candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva apontando uma postura pragmática, similar à de 2002, e o atual presidente Jair Bolsonaro repetindo a indicação do ministro Paulo Guedes à Economia.

“Acho que não assusta mais”, disse ao Suno Notícias.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, junto com o ministro da Economia, Paulo Guedes, em declaração conjunta à imprensa em outubro de 2021. Foto.: Wilson Dias/Agência Brasil.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, junto com o ministro da Economia, Paulo Guedes, em declaração conjunta à imprensa em outubro de 2021. Foto.: Wilson Dias/Agência Brasil.

Fluxo de capital e dólar

Raphael Levy, sócio da Meu Câmbio, lembra que a melhora do câmbio vem na esteira de um cenário político brasileiro gradativamente mais calmo, desde a segunda metade de 2021, e um cenário fiscal mais bem definido.

“Houve um fluxo não só das empresas internas, mas um fluxo de rotação de carteira saindo do mundo de empresas de tecnologia e de empresas de pagamento de altos dividendos para um cenário mais inflacionário e de commodities. Isso trouxe um fluxo [de capital]. A gente viu um fluxo muito grande entre janeiro e fevereiro, o que deve seguir forte nos próximos meses”, diz ele.

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Cristiane Quartaroli, economista do banco Ourinvest, pondera que, com o cenário adverso causado pela guerra no leste europeu, é difícil cravar uma previsão sobre o comportamento da moeda americana. Segundo a especialista, o conflito ainda deve trazer muita volatilidade pelas próximas semanas.

Até o fim do ano, Quartaroli avalia que pode haver uma desvalorização do real até o fim do ano, em especial até que seja conhecido o resultado das eleições presidenciais, mas a tendência é de que a divisa americana termine o ano abaixo do nível atual.

Sobre a situação atual do câmbio, Quartaroli aponta dois fatores principais para o comportamento da moeda dos EUA. “O primeiro deles tem a ver mesmo com a evolução crescente do preço das commodities. Tanto as agrícolas quanto as de energia estão com preços em alta e isso acaba favorecendo os exportadores, sobretudo, os de países emergentes como o Brasil”, afirmou.

“O outro movimento que pode estar contribuindo para esta queda do dólar hoje no Brasil tem a ver com a expectativa que o mercado vem criando para aumento de juros nos Estados Unidos”, disse ao Suno Notícias.

Após dois dias de queda expressiva, em que acumulou desvalorização de 2,47% e flertou com o rompimento do piso de R$ 5,00, o dólar subiu nesta sexta (4) no mercado doméstico de câmbio em sintonia com a valorização da moeda americana no exterior.

O recrudescimento da guerra no leste europeu, na esteira do ataque russo a uma usina nuclear na Ucrânia (a maior da Europa), desencadeou um movimento global de aversão ao risco.

No fim da manhã, momento de maior estresse, a divisa registrou a máxima do pregão, cotada a R$ 5,10 (+1,43%). O dólar desacelerou o ritmo de alta ao longo da tarde e fechou a R$ 5,0783, em alta de 1,00%. Apesar disso, o dólar encerra a semana pós-carnaval, que contou com apenas três pregões, em queda de 1,50% – o que leva a desvalorização acumulada neste ano a 8,92%.

Na última quarta-feira, quando o mercado brasileiro reabriu após o feriado de Carnaval, houve entrada de R$ 4,941 bilhões na B3. No acumulado de 2022, o aporte de capital externo na Bolsa já soma R$ 67,561 bilhões. Dados divulgados pelo Banco Central nesta semana mostram que o fluxo cambial total foi positivo em US$ 6,340 bilhões em fevereiro, com entrada líquida de US$ 3,347 bilhões pelo canal financeiro.

Segundo a economista do banco Ourinvest, a tendência para o juros e a inflação no Brasis são de alta. “O que está acontecendo mais recentemente é que o real tem se beneficiado nos últimos dias após a queda generalizada do primeiro dia de invasão da Ucrânia”, completou, ao falar sobre o comportamento do dólar em 2022.

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Com informações do Estadão Conteúdo

Pedro Caramuru

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