O dólar à vista recuou mais de 1% no pregão desta sexta-feira (2), voltando a fechar abaixo de R$ 5,20, após três sessões consecutivas de alta.
O mercado doméstico refletiu a baixa do dólar em relação a divisas emergentes e o tombo das taxas dos Treasuries, após a leitura do relatório de emprego (payroll) dos EUA em agosto abrir a porta para uma moderação da alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano).
Pela manhã, o payroll mostrou criação de 315 mil vagas de trabalho em agosto, acima da mediana de Projeções Broadcast (de 300 mil), mas bem abaixo de julho (revisado de 528 mil para 526 mil).
Houve aumento da taxa de desemprego, de 3,5% para 3,7%, e arrefecimento do ritmo de alta do salário médio (0,31% ante expectativa de 0,40%) – dois indicadores que podem sugerir menos pressões inflacionárias à frente. Em reposta, o mercado tratou de aparar um pouco as apostas em alta de 75 pontos-base da taxa básica americana neste mês.
Termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY chegou a se situar abaixo dos 109,000 pontos pela manhã.
No fim do dia, contudo, já reduzia as perdas e operava na casa dos 109,500 pontos. A moeda europeia se recuperou nesta sexta na esteira da perspectiva de que o Banco Central Europeu (BCE) tenha que ser mais agressivo no ajuste da política monetária. O índice de preços ao produtor (PPI) na zona do euro subiu 37,9% em julho (alta anual), acima do esperado (37%).
A tentativa de reação do dólar frente a pares fortes no fim do dia não abalou as moedas emergentes e de países exportadores de commodities, que seguiram em alta firme, com destaque para as três principais divisas latino-americanas (peso mexicano, chileno e real).
A moedas da região são beneficiadas pela descida dos retornos dos Treasuries. A taxa da T-note de 2 anos, que abrange as apostas para os próximos passos do Fed, caiu cerca de 3%, passando a operar na casa de 3,40%, depois de ter superado 3,50% na quinta.
Por aqui, o dólar trabalhou em queda desde a abertura. No meio da tarde, chegou a romper pontualmente a linha R$ 5,16, ao registrar mínima a R$ 5,1585 (-1,52).
No fim do dia, a divisa reduziu o ritmo de queda e fechou cotada a R$ 5,1848, em baixa de 1,02%. Apesar do refresco desta sexta, o dólar encerra a semana em alta de 2,10%. No ano, as perdas são de 7,01%.
“A semana foi pesada com pressão da questão dos juros nos Estados Unidos, lockdowns na China e a questão técnica da formação da ptax de agosto. Mas os fundamentos brasileiros sustentam a perspectiva de um dólar mais baixo, na casa de R$ 5,10 ou R$ 5,15”, afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice, Andre Rolha, ressaltando o diferencial de juros ainda elevado e o resultado expressivo do PIB no segundo trimestre. “Estamos crescendo na contramão do mundo e com a inflação sendo controlada. Não me surpreende o dólar ter beliscado R$ 5,15 hoje”.
A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, atribuiu o refresco na cotação do dólar por aqui nesta sexta sobretudo ao ambiente externo, na esteira da divulgação do payroll. “O mercado entendeu que o Banco Central americano poderá ser menos agressivo com o aumento dos juros por lá, embora a inflação siga incomodando. Isso está ajudando o dólar a cair aqui”, afirma.
Monitoramento do CME Group mostra que a chance de alta dos juros em 75 pontos-base no próximo dia 21 caiu de 75% na quinta para 56% no fim da tarde desta sexta-feira, sob impacto do payroll. As atenções se voltam agora a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em agosto, no próximo dia 13.
Em relatório divulgado nesta sexta, o Bradesco prevê que o Fed desacelere o ritmo do aperto monetário e eleve os Fed Funds em 50 pontos-base. O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco, liderado por Fernando Honorato Barbosa, pondera, contudo, que o tom do discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, “deixa a porta aberta” para outra alta de 75 pontos-base, dependendo da evolução dos dados. “De toda forma, qualquer que seja a decisão, o Fed dificilmente mudará a sua postura até que a inflação dê sinais claros de arrefecimento”, afirma.
(Com informações do Estadão Conteúdo)