O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta (19) em alta de 0,56%, cotado a R$ 4,9958. Na semana, a moeda apresentou ganhos de 1,47%, interrompendo uma sequência de três semanas de queda e passando a acumular leve valorização no mês (+0,17%).
A puxada na cotação do dólar no mercado doméstico, em especial nos últimos dois dias, é atribuída à perspectiva de taxa de juros elevada nos Estados Unidos por mais tempo, reforçada hoje por discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e certo desconforto com o relatório do novo arcabouço fiscal do deputado Cláudio Cajado (PP-BA). Declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em defesa de mudança no regime de metas de inflação também teriam contribuído para postura mais cautelosa dos investidores.
“O movimento do câmbio hoje está muito ligado ao cenário externo. O discurso do Powell foi hawkish, de que a política monetária deve ser manter restritiva nos próximos meses. Saíram dados fortes de atividade, como emprego e indústria nos EUA nos últimos dias, e a inflação permanece em patamar ainda elevado”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, para quem as incertezas em torno dos impactos do novo arcabouço fiscal provocam pressão adicional sobre o dólar.
Dólar hoje: o que impacta a moeda norte-americana?
Operadores ressaltam que, após o dólar ter fechado abaixo de R$ 4,90 na sessão de segunda (15), no menor nível desde junho de 2022, havia espaço para movimento de realização de lucros e recomposição de posições defensivas. Hoje, na máxima do dia, a divisa chegou a romper o teto de R$ 5,00, correndo até R$ 5,0020 (+0,68%). Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para junho teve bom giro, acima de US$ 12 bilhões.
No exterior, com redução de temores de calote dos EUA diante de sinais de que está sendo encaminhada uma solução para o teto da dívida no país, o dólar perdeu força na comparação com moedas fortes, como euro e iene.
Em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, o dólar teve desempenho divergente. Moedas latino-americanas de países de juros altos que apresentam ganhos frente ao dólar no ano, como peso mexicano e chileno, também perderam força hoje e na semana, embora em menor magnitude que o real.
Em conferência em Nova York, Powell disse que o Fed está “fortemente comprometido” em trazer a inflação de volta à meta (2% ao ano) e que permanecerá “firme” na busca de seu objetivo. Ele ponderou que, em razão do aperto das condições financeiras provocado pelos problemas de liquidez nos bancos regionais, a taxa básica de juros “pode não precisar subir tanto”, embora a “extensão” do aperto monetário seja “altamente incerta” e dependente dos indicadores correntes.
Na CME, as chances de manutenção dos juros em junho subiram para 80%. Em contrapartida, está em curso um rearranjo das expectativas para início e magnitude de eventual corte de juros nos EUA no segundo semestre.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, nota que há uma postergação da perspectiva de queda dos Fed Funds de setembro para novembro ou dezembro, o que limita a queda da moeda americana no exterior e respinga nas divisas emergentes. Ele atribui a alta do dólar por aqui em parte à desconfiança com o novo arcabouço fiscal, que considera mais flexível que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
“Mesmo com os ajustes sinalizados, a nova regra fiscal não aponta para o equilíbrio do resultado primário em 2024, porque é muito otimista com premissas de crescimento e arrecadação, em particular na obtenção de redução dos incentivos fiscais“, afirma Velho ao analisar os movimentos que impactam no dólar.
Com Estadão Conteúdo