O dólar se firmou em alta nas últimas duas horas de pregão em sintonia com o exterior e, após máxima a R$ 5,3058, encerrou a sessão desta quarta-feira, 5, com ganhos de 0,23%, cotado a R$ 5,2977 – maior nível de fechamento desde 5 de janeiro de 2023 (R$ 5,3523). Pela manhã, a divisa até ensaiou uma queda, tocando mínima a R$ 5,2619, em meio a um movimento de realização de lucros e a uma perda de fôlego pontual da moeda norte-americana lá fora.
Tirando o peso mexicano, que apresentou uma recuperação parcial do tombo dos últimos dias, as divisas emergentes mais relevantes se depreciaram nesta quarta, em especial o rand sul-africano, um dos pares do real. As cotações do petróleo avançaram mais de 1%, mas os preços minério de ferro caíram novamente.
Analistas afirmam que segue em curso a redução de exposição a divisas emergentes iniciados nos últimos dias, em meio a resultados de eleições presidenciais no México, Índia e África do Sul.
Esse movimento se dá em momento de aumento da percepção de risco doméstico, com crescente ceticismo em torno do cumprimento das metas fiscais e desconfiança em relação à política monetária a partir de 2025 com a troca de comando no Banco Central.
“O peso mexicano tinha se desvalorizado muito e de forma muito rápida. Vemos hoje um a uma pequena recuperação. Tivemos volatilidade no real, mas o quadro ainda é de dólar bem firme”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, que não vê fatores que possam levar a um alívio na taxa de câmbio no curto prazo, embora não acredite em alta mais forte com a taxa acima de R$ 5,30. “O real teve desempenho pior que as outras moedas nos últimos meses. Precisamos de um ‘trigger’ (gatilho) interno, algo positivo relacionado ao fiscal ou a sucessão no Banco Central. Mas isso parece difícil.”
Dólar: risco fiscal e fuga de ativos domésticos
Na terça, o Ministério da Fazenda apresentou Medida Provisória que estipula a limitação de créditos de PIS/Cofins para reverter as perdas de receita com a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores. O potencial de arrecadação seria de até R$ 29,2 bilhões. A proposta, contudo, já começou a ser bombardeada nesta quarta por setores como indústria e agronegócio. A bancada do agro no Congresso avisou que pedirá a devolução da MP.
Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, a estratégia do governo de busca por ampliação de receitas para zerar déficit primário parece exaurida, como mostra “o imbróglio da Medida Provisória do PIS/Cofins”.
Sem anúncio de corte de gastos, a percepção de risco fiscal aumenta, o que afasta investidores de ativos domésticos. “Os estrangeiros já tiraram quase R$ 36 bilhões da B3 em 2024 e não dão sinais de que vão voltar”, afirma Galhardo. “Estamos mais para ver o dólar acima de R$ 5,30 do que um volta para perto de R$ 5,00, como se esperava até pouco tempo atrás.”
À tarde, o BC informou que o fluxo cambial total foi negativo em US$ 428 milhões em maio, com saída de US$ 6,526 bilhões pelo canal financeiro e entradas de US$ 6,098 bilhões via comércio exterior (em termos líquidos). No ano, até maio, o fluxo total é positivo em US$ 6,120 bilhões, graças à entrada de US$ 33,725 bilhões do lado comercial, uma vez que houve saída de US$ US$ 27,605 bilhões pela conta financeira.
Nos EUA, saíram dados divergentes nesta quarta. Enquanto o relatório ADP mostrou geração de vagas abaixo do esperado no setor privado, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) teve alta superior às expectativas em maio. As chances de um corte inicial de juros pelo Federal Reserve a partir de setembro já se aproxima de 70%.
Na quinta-feira, sai a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), com projeção de corte de 25 pontos-base, que também deve afetar a cotação do dólar doméstico. Nos Estados Unidos, a expectativa é pela divulgação na sexta-feira, 7, do relatório oficial de emprego (payroll) de maio.
Com Estadão Conteúdo
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