O dólar à vista fechou a quarta-feira (9) em queda de 0,84%, cotado a R$ 5,0106, após quebrar a barreira psicológica de R$ 5 durante a tarde. O acontecimento veio após sinais de um possível desenlace diplomático para o conflito militar no leste europeu, depois declarações de autoridades russas e ucranianas, incluindo o presidente Volodymyr Zelensky, abriram espaço para um amplo movimento global de recuperação de ativos de risco hoje.
As mínimas da sessão foram registradas no fim da manhã, quando o dólar não apenas furou o piso de R$ 5 como desceu até a casa de R$ 4,98, ao tocar R$ 4,9851. Ao longo da tarde, a moeda desacelerou o ritmo de baixa.
Dados do fluxo cambial divulgados hoje mostraram que houve uma pausa na entrada de recursos para aplicações em portfólio no início de março, o que – ao lado de uma realização de lucros intraday – pode ter contribuído para tirar um pouco do fôlego do real, segundo operadores.
O fechamento de hoje foi o menor nível desde 30 de junho do ano passado. Com isso, a moeda já acumula perda de 1,33% na semana e de 2,81% em março, levando a desvalorização em 2022 para a casa de dois dígitos (-10,14%).
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse, em entrevista ao jornal alemão Bild, estar preparado para fazer concessões à Rússia para encerrar a guerra, quando questionado se pode reconhecer a região de Donbass como independente e a Crimeia como parte da Rússia. Zelensky já havia sinalizado que pode abandonar a intenção de integrar a Otan, adotando uma postura de neutralidade em relação a disputas geopolíticas entre países do ocidente e a Rússia.
Fluxo cambial até 4 de março
Segundo o Banco Central, em março (até o dia 4), o fluxo cambial total foi positivo em US$ 507 milhões, graças à entrada líquida de US$ 626 milhões via comércio exterior. Já o canal financeiro apresentou saída líquida de US$ 119 milhões no período. No acumulado do ano, contudo, o fluxo total é positivo em US$ 8,340 bilhões, com entrada líquida de expressivos US$ 8,839 bilhões pelo canal financeiro.
Nas mesas de operação, avalia-se que, se não houver nova escalada do conflito militar e das sanções econômicas, desencadeando novas ondas de forte aversão ao risco, o real tem espaço para continuar a se valorizar.
Apesar da queda das commodities hoje e de eventuais novos recuos, em caso de solução diplomática para a guerra, matérias-primas exportadas pelo Brasil seguirão em patamares elevados – o que atrai dólares tanto via comércio exterior como por meio de compra de ações de empresas brasileiras.
“Os ativos domésticos, como ações, são vistos pelos investidores estrangeiros como hedge (proteção) contra a inflação global, que é muito ligada a essa questão de commodities”, afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando que matérias-primas relevantes para o Brasil, como minério de ferro e soja, já estavam em alta antes mesmo da guerra e não devem sofrer grande desvalorização.
Previsão da taxa de juros e o dólar
Embora o mercado possa retirar dos preços as apostas mais agressivas de alta da Selic, é bem provável que o BC leve a taxa para perto (ou até acima) de 13% ao ano, como mostra a curva a termo. Mesmo com o processo de alta de juros nos Estados Unidos – o Federal Reserve deve promover uma elevação inicial de 0,25 ponto na próxima semana -, o diferencial de juros interno e externo seguirá enorme, atraindo operações de carry trade.
Weigt, do Travelex, chama a atenção para o fato de as taxas de juros futuros estarem acima de 12%, com a taxa para janeiro de 2023, mesmo após o recuo de hoje, na casa de 12,90%. Na prática, isso significa que o mercado vê um CDI médio de 12,90% daqui até janeiro do ano que vem.
“Para o próximo encontro do Copom dia 16, o mercado precifica alta de 1 ponto porcentual. E a Selic iria até 13,50%. É muito juro”, diz o tesoureiro, acrescentando que o real também pode ser beneficiado pela realocação de recursos por fundos passivos no exterior, após exclusão de ativos russos de índices como o MSCI. “O dólar pode continuar caindo e atingir R$ 4,90 nos próximos dias”, afirma.
(Com informações do Estadão Conteúdo)