Após ensaiar uma queda pela manhã no mercado doméstico, em aparente movimento de realização de lucros, o dólar ganhou força ao longo da tarde em meio ao aumento da aversão ao risco no exterior e ao avanço das taxas dos Treasuries. Na última hora de negociação, com piora das Bolsas em Nova York e alta adicional dos juros longos nos EUA, a moeda rompeu R$ 4,99 e tocou máxima a R$ 4,9936. No fim do dia, o dólar subia 0,42%, cotado a R$ 4,9871 – maior valor de fechamento desde 1º de junho (R$ 5,0064).
Apesar da agenda doméstica carregada, com divulgação do IPCA-15 de setembro e da ata do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na semana passada, o quadro externo foi, mais uma vez, preponderante na formação da taxa de câmbio. Aos temores relacionados ao setor imobiliário chinês e a perspectiva de juros elevados por período prolongado nos EUA, reforçada pela alta dos preços do petróleo, soma-se a preocupação com eventual paralisação parcial do governo americano, dado o impasse no Congresso dos EUA para aprovação do orçamento.
“Temos uma aversão a risco generalizada no mundo que leva naturalmente a uma corrida pelo dólar. Há preocupação com o risco de shutdown nos EUA em meio a uma pressão por mais gastos. Os preços dos ativos estão assimilando a perspectiva de juros mais altos nos EUA por mais tempo”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
Com a busca global por dólar, o índice DXY passou o dia em alta firme e tocou máxima aos 106,261 pontos. A moeda americana subiu em bloco em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, incluindo as moedas latino-americanas pares do real. A taxa da T-note de 30 anos superou a marca de 4,7% pela primeira vez em mais de 12 anos. O retorno da T-note de 10 anos voltou a ultrapassar a barreira de 5,55%. Indicadores americanos divulgados hoje – confiança do consumidor e venda de moradias novas – decepcionaram, balançando a aposta em pouso suava da maior economia do mundo. O contrato do Brent para dezembro subiu 0,72%, a US$ 93,96 o barril. Teme-se que o avanço dos preços dos combustíveis retarde o processo de desinflação nos EUA.
“Vimos uma piora dos ativos com a alta mais forte das taxas dos Treasuries e a preocupação com o impacto dos preços do petróleo, com problemas de oferta na Rússia. Além disso, há o risco de desaceleração mais forte da economia chinesa”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Com juros elevados nos EUA por mais tempo e processo de cortes da taxa Selic, analistas alertam que haver estreitamento do diferencial entre taxas internas e externas, o que pode tirar parte da atratividade do real no médio prazo. A ata do encontro do Copom na semana passada trouxe um tom duro e reforçou o ritmo de redução em 0,50 ponto porcentual nas próximas reuniões do comitê.
O IBGE informou que o IPCA-15 acelerou de 0,28% em agosto para 0,35% em setembro. O resultado, contudo, veio ligeiramente abaixo da mediana das estimativas de projeções Broadcast (0,37%). Em geral, casas avaliaram que o índice mostrou ainda composição benigna da inflação, com arrefecimento de núcleos, além de menor difusão.
“Por ora, a cotação do dólar respeita o nível psicológico de R$ 5,00 no curto prazo. “Quando se aproxima de R$ 5,00, aparece uma força vendedora muito forte. Mas se o ambiente externo piorar ainda mais, com pressão nas taxas longas nos EUA e desaceleração na China, isso pode mudar”, diz Galhardo.
Com Estadão Conteúdo