Dólar sofrerá com ‘efeito Lula’ e chegará a R$ 6?

Ainda no início de novembro o dólar teve a sua maior alta semanal desde meados de março de 2020, em meio à pandemia. Com declarações do presidente eleito Lula (PT) sinalizando uma gastança ameaçadora em 2023, o mercado penalizou drasticamente os ativos, com queda de 3,3% na bolsa em um só dia.

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O dólar, por sua vez, subiu 5,45% na semana em questão. Os movimentos do radar político foram suficientes para que, após quatro meses de estabilidade nas projeções, o mercado financeiro passasse a revisar o câmbio para cima.

O Focus deixou de projetar um dólar em R$ 5,20 em 2022 e passou a ver a moeda em R$ 5,25 em poucos dias. Atualmente o mercado segue com as mesmas projeções, mas chegou a ver R$ 5,27 em semanas anteriores, conforme o Boletim Focus.

Segundo Sergio Machado, sócio e gestor da NCH Capital, o mercado está sendo “leniente com as propostas do novo governo”.

“Estamos tendo surpresas, mas não devia ter surpresa nenhuma. Simplesmente o que o Lula e o PT têm feito é reafirmar uma linha dele. O mercado tinha comprado a ilusão do Henrique Meirelles, que ninguém nunca falou. Foi uma lenda urbana do próprio mercado”, comenta.

“O mercado também acredita que o Congresso pode ser austero, mas acho que é mais uma lenda urbana. O parlamento é sempre generoso com o dinheiro público, na medida que se beneficia disso”, segue.

O contraponto são os juros reais, que podem ser de 6% ou 7% com as projeções do IPCA. Atualmente o mercado estima uma inflação de 5,88% em 2022 e de 5% para o ano que vem.

Nesse patamar, a moeda pode ser ‘segurada’ por um juro real considerado “cavalar” por Sergio. Contudo, o gestor aponta que, caso a irresponsabilidade fiscal se agrave, o dólar pode chegar a R$ 6.

“O tamanho da irresponsabilidade gera o preço da moeda. O mercado é extremamente leniente com o que temos na política. Acho que se tem que ser muito cauteloso. Vejo um cenário ainda extremamente nebuloso. Não sabemos até onde vão essa heterodoxias na economia”, analisa.

Governo precisa ‘aliviar o fiscal’ para evitar arroubo no câmbio

Segundo Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, o cenário base para o dólar gira em torno de R$ 5,27 de fato e, em um cenário mais otimista, ele iria para R$ 4,70, e em um quadro mais pessimista, poderia rondar os R$ 6,00

“O novo governo precisaria sinalizar um alívio no fiscal, e abrir mão de uma PEC de Transição que busque R$ 168 bilhões de reais acima do teto. Além disso, deveria manter a máquina pública mais enxuta, realizar a reforma tributária para dar mais eficiência ao modelo atual, levar adiante algumas privatizações e buscar estimular a economia para voltar a crescer. Tudo o que até o momento o governo eleito não se mostrou disposto a fazer”, comenta.

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A PEC da Transição foi aprovada recentemente pelo Senado, e a matéria segue para a Câmara  dos Deputados. A proposta amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões pelo prazo de dois anos.

O texto, contudo, é válido para dois anos, ante uma expectativa de quatro anos do governo Lula.

Ainda no radar político, o nome de Fernando Haddad foi confirmado como o de Ministro da Fazenda, conforme reportado pelo Suno Notícias.

A indicação, de teor político, é mal vista pelo mercado, em detrimento de outros nomes ventilados previamente, como Pérsio Arida e André Lara Resende, que ainda seguem de fora.

“O foco de desconfiança do mercado para a gestão econômica petista está na área fiscal. O mercado estava esperando um anúncio para a Fazenda de um nome mais ortodoxo, expectativa que foi sendo ajustada ao longo de novembro, com consequências intensas sobre os ativos de renda fixa e variável”, comenta o head de gestão de investimentos da Warren, Igor Cavaca.

“A confirmação de Haddad, em partes, já vinha sendo precificada pelo mercado, mas podemos ter ajustes adicionais após posicionamento sobre políticas a serem implementadas e aumentos de gastos para os próximos anos”, conclui.

Fed no radar do dólar

Em seu último parecer sobre o dólar, os analistas do BTG Pactual destacaram que o ajuste fino da política monetária dos EUA em um ciclo mais longo também deve afetar diretamente o câmbio.

“O FOMC deu todas as sinalizações de que irá reduzir o ritmo de alta de juros neste mês de dezembro, aproveitando a proximidade com o que é considerado a taxa terminal (entre 5%-5,25%) para fazer o ajuste fino em um ritmo mais apropriado para o gerenciamento de risco e diagnosticar melhor os efeitos defasados da política monetária”, comentam.

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“O grande desafio será entregar uma comunicação que não seja interpretada como dovish e não afrouxe prematuramente as condições financeiras e eventualmente demandando mais ajuste no futuro”, seguem, sobre as medidas do Federal Reserve (Fed).

A casa ainda destaca que o Copom deve sinalizar preocupação elevada com o risco fiscal e deixar em aberto a possibilidade de alta de juros.

Nesta semana o BC decidiu pela manutenção da taxa básica de juros, ao passo que o mercado espera um primeiro corte na Selic em agosto de 2023, com 11,50% ao fim do ano.

“Precificação de mercado, pautada pelo risco fiscal, indica reabertura do ciclo altista de juros no Brasil, mas entendemos que o Copom deve manter cautela e sinalizar que seguirá vigilante para definir os próximos passos, considerando que os efeitos defasados da política monetária já parecem surtir efeito na atividade econômica, o que é indicado pelos números de confiança que mostraram de forma agregada um resultado negativo nas últimas leituras”, conclui o BTG.

Desilusão com Lula

Ainda nesta sexta (9) o Fundo Verde sinalizou que reduziu sua exposição em ativos brasileiros e criticou duramente a postura do governo eleito.

“Não há absolutamente nenhum compromisso com qualquer responsabilidade fiscal, e a leitura do preâmbulo da PEC ainda traz uma pérola citando MMT (Teoria Monetária Moderna) como justificativa para essa festa”, diz a última carta de gestão do Fundo Verde, de Luis Stuhlberger.

“Um país com a história inflacionária do Brasil e taxas de juros de 13,75% brincar com esse tipo de argumento mostra que, definitivamente, o PT não aprendeu nada com o desastre do governo Dilma”, segue o documento.

Segundo a gestão do Multimercado Verde FIC FIM, a “marcha da insensatez fiscal segue inabalada em Brasília”, causando maior tensão acerca do dólar e dos ativos de bolsa.

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Eduardo Vargas

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