Para muitos, o sonho de viajar ao exterior neste fim de ano pode não se realizar. O dólar, assim como o euro, apresenta uma volatilidade incessante, sofrendo consequências da pandemia e do recente conflito geopolítico na Ucrânia e na Rússia. A moeda no Brasil está cara, acima dos R$ 5, e deve se manter nesse patamar. Pode subir ainda mais, em um cenário macro intricado, com riscos que podem elevar ainda mais a cotação – encarecendo, por exemplo, uma viagem para fora do país, especialmente para destinos mais procurados por turista brasileiros, como os dos EUA (Miami, Orlando e os parques da Disney, Nova York), ou mesmo para a Europa.
A pressão sobre o real passa, claro, pelos Estados Unidos: o Federal Reserve sinalizou que a alta de juros ainda não chegou ao fim. Além disso, a inflação no preço das commodities deixa o país e o mundo preocupado para 2023.
O dólar ainda vai apresentar muita volatilidade no curto prazo, na visão de especialistas. Neste segundo semestre de 2022 e início de 2023 podemos esperar decisões-chave na política monetária dos Estados Unidos e na guerra ucraniana, que irão impactar diretamente no curso da moeda norte-americana.
O dólar fechou em queda nesta quinta (8), após a forte alta da terça-feira (6), com investidores vendendo moeda para embolsarem ganhos recentes. O dólar comercial encerrou a quinta-feira (8) vendido a R$ 5,206, com recuo de R$ 0,032 (-0,61%). A cotação chegou a cair para R$ 5,19, mas ganhou força durante a tarde.
Apesar de subir em quase todo o planeta, o dólar caiu no Brasil para compensar a queda na sessão de ontem (7), em que o mercado não abriu por causa do feriado de Dia da Independência. O euro comercial, que estava abaixo do dólar nos últimos dias, subiu 0,37% e fechou em R$ 5,206, mesmo nível do dólar, após o Banco Central Europeu elevar os juros básicos em 0,75 ponto percentual, a maior alta desde a criação da moeda única.
E no Brasil? Bem, segundo Carlos Henrique Chaves Pessoa, fundador, Gestor de Recursos e CEO da Vêneto Asset Management, as eleições e o próximo governo devem exercer um certo nível de influência no comportamento do dólar – o que pode significar mais sobe e desce na cotação da moeda americana.
Dólar pressionado no curto prazo
O especialista vê a moeda pressionada no curto prazo, com viés mais “altista”, enquanto no longo prazo a divisa deve voltar a cair. Mas esse arrefecimento só deve acontecer quando o próximo governo fizer um trabalho fiscal bem feito, com uma normalização de juros no âmbito global e nos problemas dos preços de energia.
Existe a chance de um dólar mais normalizado a R$ 4,50, R$ 4, 40, disse o especialista. Entretanto, a alta de juros nos Estados Unidos vai continuar pressionando a moeda e os mercados emergentes, segundo Pessoa.
“Com o mercado de trabalho instável, as pressões inflacionárias e a escalada na Ucrânia e Rússia, é possível que os juros americanos batam mais do que 4%, ele explica. “É bem natural que isso possa acontecer, talvez mais do que isso.”
O câmbio é afetado conforme os juros nos Estados Unidos aumentam e investidores ao redor do mundo preferem investir em ativos de renda fixa, tirando o dólar do Brasil e mercados emergentes. “Renda fixa é sempre o porto seguro”, diz o CEO.
Outro ponto que Pessoa destaca é o aumento nos preços das commodities, principalmente do petróleo, que também impactam a taxa de câmbio. Portanto, pode ser interessante diversificar sua carteira de investimentos com ativos dolarizados.
A tão esperada normalização para o longo-prazo, na avaliação de Pessoa, pode começar a acontecer no final do ano que vem, com os problemas inflacionários dos Estados Unidos, da Europa e de energia mais “resolvidos”.
Rodolfo Margato, economista da XP Investimento vê os seguintes drivers impactando o comportamento do dólar no curto-prazo:
- Aperto de política monetária dos principais bancos centrais de economia desenvolvida;
- Fortalecimento global do dólar nos EUA – que não deve se revertido no curto prazo;
- e preços internacionais de commodities.
Rodolfo não vê espaço para uma queda significativa das commodities, mas sim uma acomodação.
“No período mais recente isso tem contribuído para uma volatilidade mais alta e depreciação da nossa moeda”, explica o economista.
Além disso, o economista afirma que há muitas dúvidas com relação à política fiscal no Brasil no próximo governo no médio a longo-prazo. “A piora de alguns fundamentos, com aperto de juros lá fora, incertezas em torno de commodities e questões políticas por aqui, explica, na nossa leitura, esses patamares de câmbio acima de R$ 5 por dólar”, pontua o economista, vendo volatilidade no curto-prazo.
Mas, assim como Pessoa, Margato também acredita que, dissipados os riscos, haveria alguma valorização do real contra o dólar.
A projeção do economista é de que o dólar termine 2022 aos R$ 5, e 2023 aos R$ 5,30, podendo haver algum viés de baixa no próximo.
“Não é aquela discussão de melhoria expressiva, de R$ 4,50 ou abaixo, mas também não vemos muito espaço para uma piora adicional, como R$ 5,50, dessa ordem de grandeza”, conclui Margato.
Felipe Steiman, gerente comercial da B&T Câmbio, também espera ainda mais volatilidade do dólar no segundo semestre. “Para 2023 vão ser importantes os movimentos do próximo governo, como questões fiscais e responsabilidade do teto de gastos”, diz.
(Com informações da Agência Brasil)