Após iniciar a sexta-feira, 18, com uma trajetória ascendente e alcançar o pico de R$ 5,0020, o dólar perdeu sua força no final da manhã e operou em território negativo durante o restante do dia. A moeda acabou o dia cotada a R$ 4,9680, experimentando uma baixa moderada de 0,27%.
Operadores informaram sobre a entrada de fluxo comercial no momento em que a cotação do dólar tocou a marca de R$ 5,00, além da realização parcial de posições cambiais defensivas, bem como a obtenção de lucros no segmento futuro.
Apesar de ter recuado nesta sexta-feira e de ter mantido a linha dos R$ 5,00 no fechamento nos últimos dias, a moeda dos EUA conclui a semana com um ganho de 1,30% – o que resulta em uma valorização acumulada de 5,04% ao longo de agosto. No entanto, no acumulado do ano, a moeda ainda apresenta uma queda de 5,91%.
O comportamento do real esteve mais uma vez ligado à dinâmica global dos mercados de moedas, marcada na segunda etapa das negociações pelo enfraquecimento do dólar em comparação com a maioria das moedas emergentes e dos exportadores de commodities. No entanto, duas moedas pareadas ao real – o peso colombiano e o peso chileno – depreciaram-se. As taxas dos títulos do Tesouro americano de longo prazo, que registraram um aumento significativo nos últimos dias, também recuaram ligeiramente, abrindo espaço para uma recomposição parcial dos ativos de risco.
Dólar, real e o preço das commodities
Outro fator que favoreceu o real diante do dólar foi a recuperação dos preços das commodities, em decorrência do anúncio de um pacote de medidas pela China para atrair investidores estrangeiros. Os valores do minério de ferro subiram quase 3% em Dailan. Os contratos futuros de petróleo também avançaram, embora de forma moderada. O tipo Brent para outubro registrou um aumento de 0,80%, atingindo US$ 84,80 o barril. Os investidores estão atentos para a fragilidade do setor imobiliário e para um possível contágio no sistema financeiro internacional.
Nesta sexta-feira, a incorporadora chinesa Evergrande entrou com um pedido de proteção de ativos em Nova York sob o âmbito do Capítulo 15 do código de falências dos EUA.
Eduardo Velho, o economista-chefe da JF Trust, enxerga o movimento desta sexta-feira mais como um ajuste natural após um período de forte alta do dólar, do que como um sinal de uma possível recuperação do real brasileiro e de outras moedas emergentes. Velho destaca que, com a agenda americana mais vazia, o anúncio de estímulos do governo chinês ao mercado acionário – apesar de seus resultados incertos – interrompeu a sequência de notícias negativas dos últimos dias, como a ata mais rígida do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e a crise imobiliária na grande nação asiática.
“Tivemos um pequeno alívio, mas não é possível afirmar que seja uma tendência. O mercado chegou a piorar pela manhã, com o dólar atingindo R$ 5,00. O cenário internacional não favorecerá o real, já que a tendência é de um dólar forte globalmente. A economia europeia demonstra sinais de enfraquecimento, enquanto nos EUA não se discute tanto uma recessão, e o Fed tende a manter as taxas de juros elevadas por mais tempo”, afirma Velho, que também vê as incertezas em relação ao cumprimento das metas de resultado primário embutidas no arcabouço fiscal como um dos fatores que podem manter o dólar rígido no mercado local.
De fato, embora a oscilação do dólar no cenário internacional tenha tido um papel predominante na formação da taxa de câmbio ao longo da semana, especialmente em relação à alta das taxas dos títulos do Tesouro americano, há uma certa preocupação com o contexto político. Após os atritos entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara dos Deputados (PP-AL), as atenções estão voltadas para a mini reforma ministerial, que aumentará a influência do Centrão no governo e poderá, em teoria, facilitar a tramitação da agenda econômica no Congresso. Segundo fontes consultadas pelo Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), Lula provavelmente esperará o retorno de sua viagem à África, na próxima semana, para finalizar a reorganização ministerial.
Com Estadão Conteúdo