Dólar: fluxo estrangeiro e Fed derrubam moeda a R$ 4,7805; cotação tem queda na semana
Após oscilar em margem estreita durante a semana, entre R$ 4,7857 e R$ 4,8088 no fechamento, o dólar à vista encontrou impulso para um movimento mais intenso nesta sexta-feira, 21, e cedeu 0,47% em relação ao real, a R$ 4,7805. A queda foi balizada pelo ingresso de fluxo estrangeiro, sobretudo relacionado a operações de carry trade, em meio à alta das commodities e ao anúncio de estímulos à economia da China.
Isso levou a moeda dos EUA não apenas a cair na sessão, como também a apagar os ganhos semanal e mensal. Assim, a cotação do dólar encerrou a semana em baixa de 0,30% e, no mês, recua 0,19%. Fora por uma alta pontual, que a levou à máxima de R$ 4,8253 (+0,47%) ainda no primeiro minuto de negócios, passou a maior parte do dia em queda, até o vale de R$ 4,7615 (-0,86%) – a quinta menor mínima intradia do ano.
Segundo profissionais do mercado, a entrada de fluxo estrangeiro no País puxou a queda do dólar em relação ao real nesta sessão, em meio à agenda fraca no exterior e aqui. Essa baixa contrariou a alta da moeda americana em relação a pares fortes – o índice DXY avançou 0,18%, a 101,059 pontos – e a outras moedas emergentes, como o peso mexicano (+0,60%), e ligadas a commodities, a exemplo do dólar australiano (+0,75%).
O chefe de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano, afirma que o aumento dos preços de commodities e o anúncio de estímulos do governo chinês ao consumo de automóveis e eletrônicos serviram como catalisador para atrair dólares. Às vésperas da decisão de política monetária do Federal Reserve na próxima quarta-feira, 26, investidores aproveitam para fazer operações de carry trade aproveitando o alto juro real brasileiro, explica.
“Como é um fluxo estrangeiro relacionado ao carry trade, esse investidor traz o fluxo e, depois, realiza o lucro. O mercado já tem toda a precificação até a decisão do Fed, mas, depois disso, podemos ver uma correção de alta do dólar mais acentuada”, diz Caciano, lembrando que o mercado espera alta de 25 pontos-base na taxa dos Fed Funds na próxima quarta-feira e cortes da Selic a partir de agosto, o que diminuirá o diferencial de juros.
Para o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, o fluxo estrangeiro de dólares para o Brasil explica a queda do dólar nesta sessão e está relacionado não apenas a operações de carry trade, como também a fluxo comercial e a operações na Bolsa e em derivativos. O especialista afirma que a redução das apostas contrárias ao real também parece ter dado suporte à moeda brasileira.
“O mercado está convencido de que o novo suporte técnico, de R$ 4,75, está próximo e sabe que, se furar o R$ 4,75, o dólar pode ir até R$ 4,69. Isso vem aumentando as apostas compradas em relação ao real, as posições vendidas acabam diminuindo. Esses fatores técnicos colaboram com a valorização mais forte do real”, diz Rolha.
Dólar sobe e se recupera na semana, antes de decisões de BCs
O dólar subiu ante pares fortes e emergentes nesta sexta-feira (21), na expectativa para as decisões do Federal Reserve (Fed), Banco Central Europeu (BCE) e Banco do Japão (BoJ) na próxima semana, conforme o mercado especula sobre possíveis mudanças nos diferenciais de juros de economias avançadas.
O índice DXY, que mede a força do dólar contra seis rivais, operava com alta de 0,18% por volta das 17h, a 101,059 pontos, e de 1,10% na semana – se recuperando do fechamento abaixo da marca psicológica dos 100 pontos na sexta-feira passada.
O dólar avançou fortemente contra a moeda japonesa, a 141,78 ienes, por volta das 17h, em meio às notícias reportadas pela imprensa de que o BoJ deverá manter inalterada sua política monetária ultra-acomodatícia. “O timing dessas reportagens aumenta a confiança dos investidores em sua precisão e, portanto, o consenso para a decisão do banco agora é de nenhuma grande mudança”, comentou o BMO em relatório.
Do outro lado, um aumento nos juros do Fed é praticamente dado como certo pelo mercado. A probabilidade de a taxa básica ser elevada em 25 pontos-base na próxima reunião era de 99,8%, às 16h46, segundo o CME Group.
Sob essa luz, o euro caía a US$ 1,1126, na expectativa para a decisão do BCE. O BBH prevê que a autoridade europeia também aumentará suas taxas em 25 pontos-base, mas espera ver “rachaduras” na postura hawkish.
A libra recua contra as moedas americana e europeia, depois que, segundo a Capital Economics, dados de inflação no Reino Unido mais fracos que o esperado levou os investidores a reduzirem suas apostas em futuros aumentos nas taxas do Banco da Inglaterra (BoE) nesta semana. Na marcação, a libra cedia a US$ 1,2857.
“O dólar americano se recuperou nos últimos dois dias e parece destinado a diminuir grande parte da queda da semana passada. Com dados dos EUA um tanto mistos, grande parte dessa recuperação parece ter sido impulsionada por uma reavaliação das perspectivas para outras economias. Provavelmente, com mais más notícias nessa seara, vemos espaço para o dólar se recuperar mais nas próximas semanas”, disse a Capital Economics.
A Oxford Economics também projeta que essa valorização do dólar observada nesta sexta-feira continue nos próximos meses. “Um crescimento menos robusto em outros lugares, especialmente na Europa e na China, significa que um crescimento mais estável, mesmo que moderado, nos EUA terá um resultado líquido positivo para o dólar no restante do segundo semestre”, falou.
Entre os emergentes, o rublo russo chegou a subir contra o dólar, na esteira da elevação dos juros pelo Banco Central da Rússia, mas voltou a cair. No fim da tarde, o dólar se apreciava a 91,035 rublos.
Com informações de Estadão Conteúdo