Dólar cai 1,60% na semana com dados de inflação dos EUA e Brasil; o que esperar da moeda nos próximos dias?
Na sexta-feira (27), o dólar fechou o dia vendido a R$ 5,116, com queda de R$ 0,046 (-0,89%), menor valor em 15 dias. No entanto, apesar da queda, a moeda americana acumula alta de 2,01% em abril e de 5,42% em 2024.
Ontem, o resultado do índice de preços com gastos (PCE, na sigla em inglês) nos EUA em março, dentro do esperado, causou uma leve queda nas taxas dos Treasuries de longo prazo, abrindo espaço para uma recuperação das moedas emergentes.
Segundo Diego Costa, head de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio, o mercado de câmbio brasileiro teve uma semana volátil, com o dólar oscilando entre R$ 5,2181 (máxima na segunda-feira) e R$ 5,1085 (mínima na sexta-feira).
“Na segunda-feira, o mercado ainda sentia os efeitos das notícias da semana anterior, enquanto os investidores se preparavam para a intensa agenda da quarta-feira em diante, que incluiu a divulgação dos indicadores de inflação no Brasil e nos Estados Unidos, além do PIB americano”, explica Costa.
Por aqui, após a semana tensa em torno da revisão da meta fiscal, o cenário político local se mostrou mais calmo na quarta-feira, com a aproximação entre Governo e Congresso. O presidente Lula enfatizou a importância da boa relação entre os poderes para o avanço das pautas fiscais.
Na abertura da quinta-feira, o dólar subiu impulsionado pela elevação do núcleo do PCE, importante indicador para a inflação e a definição da política monetária do Fed. “Por outro lado, com a desaceleração do PIB dos EUA no último trimestre, o ganho do dólar foi limitado, inclusive porque o mercado já vinha precificando a possibilidade de juros mais altos no país”, diz Costa.
Para encerrar a semana, o PCE trimestral nos Estados Unidos não mostrou desaceleração, mas manteve-se em linha com o consenso, enquanto o IPCA-15 no Brasil caiu mais do que o esperado, elevando o ânimo nas bolsas e no câmbio, com a moeda atingindo o menor nível da semana.
O que levou à disparada do dólar nos últimos meses?
Para Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank, a disparada do dólar nas últimas semanas acontece após dados da economia americana não mostrarem uma desaceleração da conjuntura econômica, o que indica uma postergação no corte de juros pelo Federal Reserve.
“Tais dados econômicos divulgados vieram acima do esperado, o que fez o mercado começar a refazer as contas de quando o Fed deve começar a reduzir a taxa de juros nos EUA. Com a economia ainda acelerada por lá, as chances de cortes em junho ou julho diminuem”, comenta Bazzo.
“A balança comercial está favorável, com superávit de minério e soja. Então, o que mais pesa sobre o dólar é a questão do juro americano. Os dados brasileiros, com exceção do quadro fiscal, são bons e servem para segurar a alta da moeda dos EUA ante o real”, acrescenta o analista.
Estrangeiros seguem reduzindo posições compradas em derivativos cambiais
Operadores já notam também movimentos técnicos para rolagem de posições no segmento futuro na virada do mês e a disputa pela formação da última taxa ptax de abril na próxima terça-feira, 30. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para maio teve giro forte, acima de US$ 17 bilhões. Os estrangeiros seguem reduzindo posições compradas em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contratos, cupom cambial e swaps), que superaram US$ 70 bilhões na semana passada, novo pico histórico.
As reiteradas declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que não vai intervir no câmbio para amenizar alta do dólar provocada por mudanças de fundamentos – no caso, a reprecificação dos juros americanos – tiraram fôlego de movimentos especulativos em torno da moeda americana.
“Com diminuição do estresse no exterior, não há justificava para manter um estoque tão grande de posição comprada, porque o custo já não é viável. Estão aproveitando para realizar lucros nesta semana e voltar a aplicar na Bolsa, que tem papéis com preços interessantes”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
Lá fora, o índice DXY voltou a ultrapassar os 106,000 pontos nas máximas do dia, sobretudo por conta dos ganhos de mais de 1% da moeda americana em relação ao iene, atingindo o maior valor desde 1990. Mas o dólar caiu na comparação com as principais divisas emergentes pares do real (à exceção do peso chileno). As moedas latino-americanas se recuperam nesta semana, diminuindo as perdas em abril, com o real apresentando o melhor desempenho nos últimos dias.
“Embora o DXY tenha mantido certa estabilidade na semana em um patamar elevado neste ano, vimos uma diminuição do estresse no câmbio, com uma certa correção do exagero da semana passada. Mas não há mudança de vetores estruturais”, afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, que não vê alívio adicional para o real daqui para a frente, uma vez que o quadro ainda é de dólar forte no mundo. “Estamos muito colados ao cenário externo, se o Fed vai cortar ou não a taxa de juros.”
O que esperar do dólar na próxima semana?
Na próxima semana, teremos a decisão de juros nos Estados Unidos, o que pode aumentar a cautela nos mercados e levar a uma correção no dólar.
De acordo com Costa, apesar dos riscos, uma valorização significativa do dólar não é prevista. “O mercado já incorporou os riscos de juros mais altos, e a moeda deve, por enquanto, na ausência de grandes surpresas geopolíticas ou nestes indicadores, manter-se entre R$ 5,10 e R$ 5,20”, diz o analista.
Além disso, os investidores devem ficar atentos aos principais eventos que influenciarão os mercados. Inclusive, no Dia do Trabalho, uma série de indicadores importantes nos EUA será divulgada.
“Eventos como a Taxa de Desemprego e Inflação ao Produtor no Brasil, o PMI chinês e a Decisão de Política Monetária, juntamente com dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos (ADP, Jolts e Payroll), serão os mais aguardados e estarão no radar”, aponta Costa sobre fatores que podem mexer com o dólar.
(Com Estadão Conteúdo)