Em dia de melhora no ambiente externo, com as bolsas de Nova York fechando em alta, o dólar recuou 0,55%, a R$ 4,9399, depois de ultrapassar a barreira de R$ 5 na manhã desta quinta-feira (28). Indicadores domésticos como arrecadação e resultado do Governo Central foram analisados, mas não tiveram grande impacto na formação de taxa de câmbio.
Pela manhã, o dólar hoje atingiu máxima da sessão a R$ 5,0451 (+ 1,57%), acompanhando a escalada da moeda no exterior. A divisa, porém, perdeu força na etapa vespertina. Com trocas de sinais ao longo da tarde, firmou-se em terreno negativo na última hora de pregão e, após registrar mínima a R$ 4,9364, encerrou o dia cotado a R$ 4,9399.
Operadores afirmam que parte da perda de fôlego do dólar pode ser atribuída à realização de lucros intraday e ao início da rolagem de posições no mercado futuro. Com o tombo desta quinta, a moeda marcou o segundo dia consecutivo de baixa. Mesmo assim, ainda acumula valorização de 2,81% na semana e de 3,75% no mês.
“Essa queda do dólar à tarde parece um algo técnico, com operadores ajustando posições, já que amanhã é o último dia útil do mês. Não tem explicação econômica para essa virada no fim do dia porque o quadro ainda é de pressão sobre a nossa moeda, por causa dos ruídos políticos locais e expectativa de aumento de juros nos EUA na próxima semana”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Operadores notam que, após o movimento rápido e intenso de repetir a precificação do dólar no mercado doméstico, com alta de 8% em três pregões (dias 22, 25 e 26), a moeda parece passar por um período de acomodação e sem forças para se firmar acima de R$ 5,00. Parece ter ficado para trás o momento mais agudo de redução de posições vendidas (que apostam na queda do dólar) no mercado futuro por parte de fundos locais.
O momento de maior pressão sobre o real nesta quinta veio na esteira do fortalecimento expressivo da moeda americana no exterior. O índice DXY – que mede a variação do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – atingiu 103,928 pontos pela manhã, no maior nível em 20 anos, com tombo do euro e, sobretudo, do iene, após o BC do Japão manter sua taxa de depósito negativa em -0,1%.
A queda inesperada do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no primeiro trimestre não abalou as expectativas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) não apenas vai pôr o pé no acelerador, com alta da taxa básica americana em 0,50 ponto porcentual na semana que vem, dia 4, como vai levar a política monetária para o campo restritivo até o fim deste ano. O PIB americano caiu 1,4 no terceiro trimestre (ritmo anualizado), na contramão da alta de 1% esperada por analistas.
“O Fed já mostrou que vai ter uma postura mais dura no combate a inflação, tanto na dose dos juros quanto na velocidade do ajuste”, afirma o especialista em renda fixa da Blue 3, Nicolas Giacometti. “O ciclo de alta deve ser mais rápido. Sinalizaram aumento de 50 pontos-base na reunião da semana que vem e boa parte do mercado já aposta 75 pontos na próxima reunião”.
Dólar e o temor pelo aumento das tensões geopolíticas
A busca pela moeda norte-americana no exterior também é alimentada pelo receio de um recrudescimento das tensões entre Rússia e Ocidente. Os russos anunciaram na quarta-feira corte do fornecimento de gás para Polônia e Bulgária e aumentaram a intensidade dos ataques à Ucrânia, o que tem prejudicado o euro, nos menores níveis em cinco anos. Há também preocupações com a desaceleração da economia chinesa, diante da possibilidade de adoção de mais medidas restritivas para conter a covid-19.
A combinação de alta de juros mais rápida nos EUA e perspectiva de encerramento do aperto monetário no Brasil no mais tardar em junho, aliada ao aumento da instabilidade provocada pela aversão ao risco no exterior, tende a tirar um pouco de atratividade do carry trade, diz Giacometti, da Blue3. “Os dados do fluxo cambial (divulgados na quarta pelo Banco Central) já mostram uma desaceleração da entrada de recursos”, afirma.
Segundo dados da B3 (B3SA3) divulgados nesta quinta pela manhã, os investidores estrangeiros retiraram R$ 2,498 bilhões da bolsa doméstica na última terça-feira, 26, levando a saída em abril para R$ 4,322 bilhões. Em 2022, a entrada de capital externo é de R$ 61,005 bilhões.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, vê o dólar para cima nos próximos meses com aumento do risco doméstico e piora dos fluxos estrangeiros, tendência já vista pela saída de US$ 4 bilhões pelo canal financeiro no primeiro trimestre. “Na ausência de intervenção robusta do Bacen, avaliamos que o movimento do dólar ainda seria de alta superior a R$ 5,0 nos próximos meses, na medida de aumento da taxa de juros nos EUA e correção do mercado acionário, mas também pela proximidade da eleição presidencial e a imprevisibilidade da política econômica 2023″, afirma Velho, em relatório.
Com informações do Estadão Conteúdo