Dólar alcança R$ 4: entenda os quatro principais motivos
O dólar atingiu os R$ 4 na abertura nesta quinta-feira (25) à espera do andamento da reforma da Previdência. O câmbio também segue a alta no exterior. Às 9h04, o dólar avançava 0,45%, a R$ 4,0047.
A moeda norte-americana voltou a alcançar esse nível de câmbio desde 28 de março, quando encostou R$ 4 na abertura do pregão. Um crescimento na cotação gerado por uma série de razões, internas e internacionais.
Confira os principais motivos para o dólar ter ultrapassado a cotação de R$ 4:
- Reforma da Previdência;
- PIB do Brasil;
- Déficit primário;
- Economia dos EUA.
Na quarta-feira (24), a moeda norte-americana avançou 1,66%, e foi negociada a R$ 3,9862. Na máxima do dia, chegou a R$ 3,9932. A última vez que o dólar fechou acima deste patamar foi na semana das eleições de 2018. Em 1 de outubro do ano passado, a moeda era vendida a R$4,01.
Nesta semana, o dólar já acumula alta de 1,49%. Já em abril, sobe 1,82% e, no ano, 2,89%.
PIB do Brasil
O principal motivo para a valorização do dólar no mercado interno é a baixa expectativa de crescimento econômico brasileiro em 2019.
O Boletim Focus divulgado na última segunda-feira (22) reduziu a previsão do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil pela oitava vez seguida.
De uma expansão de 1,95% prevista na segunda-feira (15), a expectativa para o PIB brasileiro em 2019 caiu para 1,71%. No primeiro boletim do ano, a previsão era de 2,53%.
O Relatório Focus é elaborado toda semana pelo Banco Central (BC), com base nas projeções de analistas de mais de 100 instituições financeiras.
Além do relatório compilado pelo BC, outras instituições reduziram a projeção do crescimento do PIB para o fim de 2019:
- Fundo Monetário Internacional (FMI): em 9 de abril, a projeção do PIB foi reduzida de 2,5% para 2,1%.
- Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal): em 11 de abril, a comissão reduziu a previsão de 2% para 1,8%.
- Itaú Unibanco (ITUB4): em 12 de abril, a equipe liderada pelo economista-chefe do banco, Mário Mesquita, reduziu a expectativa para de 2% para 1,3%.
Por fim, no último dia 15, o ministério da Economia realizou pesquisa com analistas do mercado para projetar o PIB de acordo com o que pode ocorrer na tramitação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da reforma da Previdência:
- com a aprovação da reforma da Previdência: crescimento de 2,10%;
- sem a aprovação da reforma da Previdência: crescimento de 1%;
- com a aprovação parcial da reforma da Previdência: crescimento de 1,95%.
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Reforma da Previdência
O segundo motivo, principal pauta que interfere nas projeções do PIB do Brasil, é a Reforma da Previdência.
A tramitação do texto da reforma da Previdência é um dos fatores principais que estimula a volatilidade da moeda no cenário doméstico.
O parecer da PEC da reforma previdenciária foi aprovado na noite da última terça-feira (23) na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ).
Contudo, críticos da reforma da Previdência, concentrados e liderados pelo “Centrão”, pediram, e obtiveram, a retirada de quatro pontos:
- Fim do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para aposentados que trabalham;
- Possibilidade de alterar a idade de aposentadoria compulsória de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF);
- Mudança no foro para julgamento de ações contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS);
- Exclusividade do Executivo de enviar proposta para alterar o regime previdenciário.
Saiba mais – Reforma da Previdência: Maia cria comissão especial para discutir proposta
Assim, os pontos foram retirados do parecer do relator e a votação aprovou a continuidade da tramitação do texto. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM) criou na quarta-feira (24) a comissão especial, próxima etapa de análise da proposta.
A comissão, prevista para ser instalada nesta quinta, contará com 68 deputados, 34 titulares e 34 suplentes. Será definido também os parlamentares integrantes e o presidente.
Entretanto, o mercado percebe que as concessões do governo “queimaram gordura”, deixando agora o governo sem margem de manobra para negociar com deputados.
Além de o mercado enxergar fraqueza do Executivo na tramitação da PEC, outros fatores anteriores também foram negativos na visão dos investidores no caso da tramitação da reforma.
Pois, a passagem da reforma Previdenciária no Congresso está mais lenta do que o esperado. Confira abaixo os principais fatos que retardaram a tramitação do texto:
- Maia x Bolsonaro;
- e Paulo Guedes na CCJ.
Maia x Bolsonaro
No fim de março, o chefe da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM) e o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), trocaram farpas referentes à articulação da reforma da Previdência.
Até aquele momento, o deputado era o principal articulador da “Nova Previdência“. Este foi o apelido que o Ministério da Economia deu ao texto, para diferenciá-lo da proposta da gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB).
Bolsonaro, que foi eleito após uma campanha eleitoral na qual criticava a “velha política“, encontrou-se sem aliados para formar maioria no Congresso. E delegou a tarefa à Maia, que começou a criticar a aparente postura de distanciamento da pauta do presidente da República.
O pesselista abertamente tem argumentos contra a prática jornalista. E utiliza sua conta do Twitter como principal meio de comunicação com a população brasileira.
Segundo levantamento do “Poder360”, dos 326 tweets que Bolsonaro publicou entre 1º de janeiro e 4 março, apenas seis citavam o termo “Previdência“.
Bolsonaro, que até o conflito não tinha tido reunião com líderes de partidos para conquistar aliados no Parlamento, recebeu uma dura crítica de Maia.
O chefe dos deputados chegou a citar dados de desemprego ao criticar o presidente, em 27 de março: “são 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza e o presidente [Bolsonaro] brincando de presidir o Brasil”.
No dia seguinte à fala de Maia, o dólar abriu o pregão batendo R$ 4.
Saiba mais – Guedes tem atritos com deputados; em paralelo, Bolsa cai quase 1%
Paulo Guedes na CCJ
Em 3 de abril deste ano, o ministro da Economia, Paulo Guedes, aceitou o convite e participou de uma sessão da CCJ com os deputados. O objetivo do encontro era debater e explicar o texto da Nova Previdência na Casa.
Entretanto, Guedes, economista liberal visto com bons olhos pelo mercado financeiro, perdeu a calma e também trocou farpas com os parlamentares.
Na data, o Ibovespa, índice acionário da B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), caiu quase 1% com o atrito político. Em paralelo, o dólar subiu 2,273% e a moeda encerrou cotada a R$ 3,9545 na venda.
O ministro tomou consciência das consequências das farpas e afirmou: “Cometi um erro sério aqui, eu tentei responder a uma colocação da deputada Gleisi [Hoffmann]. Me aconselharam para não reagir. Mas quis ser atencioso. Eu sou muito respeitoso. Os senhores têm muita familiaridade com esse ambiente e eu não. Os senhores poderiam ter um pouco de atenção comigo e entender que eu posso cometer erros […] Cometi o erro de interagir. Quando fiz isso, vocês transformaram isso em outra coisa”, disse Guedes.
Logo antes do encerramento da sessão, Zeca Dirceu (PT) acusou Guedes de ser “tigrão” para reduzir aposentadorias de trabalhadores e “tchutchuca” para alterar privilégios de ricos e banqueiros.
O ministro da Economia novamente perdeu a calma, e respondeu que tchutchucas eram “a mãe e a avó” do deputado.
Déficit primário
O terceiro motivo de desconfiança na economia brasileira está no déficit primário.
A equipe econômica estipulou em R$ 124,1 bilhões a meta de déficit primário para o governo central no ano de 2020. A informação consta no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2020, que foi enviada ao Congresso Nacional em 15 de abril.
Na LDO referente a 2019, a meta do déficit primário para 2020 fixada foi de R$ 110 bilhões. A cada ano o projeto da lei é enviado aos parlamentares, contendo as projeções de déficit e superávit para os próximos três anos.
Na proposta da LDO de 2020 foi alterada a meta de superávit primário dos estados e dos municípios. De R$ 14 bilhões para R$ 9 bilhões. O superávit primário é o resultado positivo desconsiderando os juros da dívida pública.
Para os próximos anos, confira as estimativas de déficit primário. Na comparação entre o projeto da LDO de 2020 e a lei de 2019:
- 2021: R$ 68,5 bilhões no projeto de 2020, contra R$ 68,5 bilhões em 2019.
- 2022: R$ 31,4 bilhões (consta apenas no projeto de 2020).
Saiba mais – Estados Unidos e China voltarão a negociar a partir da próxima semana
Economia dos EUA
Por fim, o quarto e último motivo que interfere na valorização do dólar no Brasil é o crescimento econômico dos Estados Unidos da América (EUA).
No início deste ano, o mercado financeiro apresentava postura mais conservadora e de aversão ao risco. Isto devido à cautela com a desaceleração econômica global.
Todavia, principalmente em abril, os Estados Unidos contornaram o pessimismo. O fato ocorreu na apresentação de dados que confortaram os investidores. E resgataram o apoio da maior economia do mundo em tratar-se do PIB.
Deste modo, com a maior economia do mundo mostrando indícios de retorno ao ponto de ebulição, o dólar é valorizado no cenário doméstico brasileiro.
Confira abaixo os principais fatos que motivaram a alta de confiança na economia norte-americana:
- PIB de 2018;
- criação de emprego em março de 2019;
- guerra comercial: China x EUA;
- e taxa básica de juros estável.
PIB dos EUA em 2018
O PIB norte-americano apresentou desaceleração no quarto trimestre de 2018. Com crescimento de 2,2%, conforme correção divulgada no início de abril pelo Departamento de Comércio norte-americano (U.S. Department of Commerce), contra 3,4% no terceiro trimestre.
Contudo, o PIB dos 12 meses de 2018 foi de 2,9%. Houve aceleração econômica na comparação com o PIB de 2017 (2,2%). Além do resultado ter ficado próximo da meta estabelecida pelo governo do presidente Donald Trump: 3%.
Criação de emprego em março de 2019
No mês passado, houve criação de 196 mil postos de trabalho fora da área rural no país de Trump. A informação também foi divulgada pelo Departamento de Comércio dos EUA.
A previsão de analistas da agência “Reuters” era de 180 mil novos postos de trabalho.
Contra o resultado revisado de fevereiro, de 33 mil novas vagas, o crescimento é nítido. No segundo mês deste ano, os EUA tiveram a pior criação de empregos desde setembro de 2017. A projeção para o mês era de 180 mil novas vagas.
Em janeiro, os novos postos de trabalho atingiram o total de 304 mil. A expectativa geral do mercado girou em torno de 165 mil vagas criadas.
Guerra comercial: China x EUA
As negociações para encerrar o conflito econômico entre a China e os EUA avançaram no primeiro trimestre deste ano. Tais avanços para conter a guerra comercial perduram neste segundo trimestre.
Na próxima semana, o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, e o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, irão à Pequim para uma nova rodada de negociação comercial.
Ambos encontrarão o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, a partir do dia 30. Enquanto a partir do dia 8 de maio, será a vez de He viajar à Washington.
Dentre os pontos de negociação do acordo, estão:
- transferência forçada de tecnologia e roubo cibernético;
- direitos de propriedade intelectual;
- serviços;
- câmbio;
- agricultura;
- e barreiras não-tarifárias ao comércio.
Taxa básica de juros estável
A política monetária dos Estados Unidos segue bem. O órgão responsável pela manutenção da taxa básica de juros, o Federal Open Market Committee (Fomc), decidiu manter em 30 de março os juros básicos na faixa de 2,25% a 2,5%.
O Fomc, do Federal Reserve (Fed), é semelhante ao Comitê de Política Monetária (Copom), do BC do Brasil.