Na sexta-feira (05), o dólar registrou um aumento de 0,29% e encerrou o dia sendo vendido a R$ 5,065, atingindo o seu maior valor desde outubro. Com a quinta alta semanal consecutiva, a moeda americana agora acumula um ganho de 4,38% em relação ao real neste ano.
Segundo Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank, esta semana foi marcada por intervenção do Banco Central no câmbio, sendo a primeira intervenção desde 27 de dezembro de 2022, o que corrobora com o entendimento do viés de alta no câmbio.
Para conter a alta do dólar, o BC colocou a venda de US$ 1 bilhão de swaps cambiais. O leilão teve como objetivo garantir a estabilidade do mercado cambial, sendo realizado após o dólar registrar um aumento de 0,8% e encerrar o dia cotado a R$ 5,059.
“O desempenho do real é preocupante. Tem a questão técnica, mas também existe a percepção de uma piora da qualidade da política econômica e a tentativa de ingerência em empresas, o que aumenta a percepção de risco”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, ressaltando que crescem os temores de que o governo aumente os gastos após a queda de popularidade do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Após esse acontecimento, na quinta-feira, a moeda norte-americana corrigiu a alta, mas sem aprofundar muito sua queda, depois que falas do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, ajudaram a recalibrar as apostas sobre os juros nos EUA e a reduzir a pressão de alta do dólar sobre o real.
Dólar reagiu após payroll acima do consenso
Já na sexta-feira, o dia foi marcado por repercussões sobre o Payroll. O Relatório de Emprego dos Estados Unidos, que avalia a criação de novas vagas de trabalho no setor não agrícola, veio muito acima do esperado. “Com o resultado, os títulos do Tesouro nos Estados Unidos voltaram a disparar, assim como o dólar globalmente”, explica Diego Costa, head de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio.
Segundo Costa, esse movimento ocorre porque um mercado de trabalho forte nos Estados Unidos aumenta a atratividade da moeda americana para os investidores internacionais, uma vez que, com mais pessoas empregadas e renda disponível crescendo, a expectativa é de que o consumo e o investimento também aumentem, impulsionando a economia americana.
“Uma maior demanda por dólares no mercado cambial tende a pressionar a moeda para cima em relação a outras divisas. Além disso, um mercado de trabalho forte pode levar o Federal Reserve a manter as taxas de juros em níveis restritivos por mais tempo para conter a inflação. Esse movimento torna os treasuries americanos mais atraentes para os investidores, o que também contribui para a valorização do dólar”, pontua o analista.
Embora o forte resultado do Payroll seja positivo para a economia americana, ele pode ter implicações negativas para outras economias, como no Brasil. A perspectiva de taxas de juros nos níveis atuais por mais tempo nos Estados Unidos pode levar a uma fuga de capital dos mercados emergentes. Isso pode pressionar ainda mais o câmbio e dificultar o controle da inflação no Brasil, que conta também com desafios fiscais.
Dessa forma, Costa vê como relevante observar que, recentemente, o dólar tem alcançado patamares mais elevados, enquanto investidores antecipam os riscos e reajustam suas estratégias. A valorização da moeda tanto em âmbito global quanto doméstico, com a cotação superando os R$ 5,05, tem despertado interesse para a realização de lucros.
“O ambiente segue de incerteza para a economia global. Nos próximos meses, o comportamento dos Bancos Centrais e a evolução dos principais indicadores econômicos serão fundamentais para definir os rumos do mercado”, projeta Costa.
Como declarar investimentos em moeda americana no IR?
A seguir, é possível conferir as principais dicas para a declaração de investimentos em dólar, segundo Caio Fasanella, head de Investimentos da Nomad, startup de conta digital e aplicações na moeda estrangeira.
A legislação do Imposto de Renda sofreu algumas alterações em dezembro de 2023, que passarão a ser aplicáveis a eventos ocorridos apenas a partir de 1º de janeiro de 2024.
Segundo a lei 14.754 (sancionada em 12 de dezembro de 2023), a tributação de aplicações financeiras no exterior a partir de 1º de janeiro de 2024, também chamado de “IR Exterior” será apurado em bases anuais.
Para isso, será levado em conta:
- A consolidação de todos os rendimentos, ganhos e perdas apurados ao longo do ano-calendário;
- A aplicação da alíquota fixa de 15% sobre o saldo líquido apurado em 31 de dezembro de cada ano, se positivo.
“A grande mudança para o investidor pessoa física refere-se à forma de apuração do IRPF no recebimento de rendimentos ou na venda dos investimentos, que antes eram apurados em Carnê-Leão e no Programa de Ganhos de Capital (apuração mensal), respectivamente”, explica o head de Investimentos da Nomad.
A partir de 1º de janeiro de 2024, o investidor deverá consolidar rendimentos e ganhos em uma única Ficha da Declaração de Imposto de Renda que será criada pela Receita Federal na Declaração que será apresentada apenas em 2025 (referente ao ano-calendário de 2024 – apuração anual).
Adicionalmente, nesta Ficha, também será possível compensar perdas apuradas pelos investidores na venda de ativos durante o ano, bem como o imposto pago no exterior pelo investidor.
Quanto a rendimentos e ganhos de aplicações financeiras no exterior apurados a partir da referida data (01/01/2024), o consumidor pessoa física pode avaliar a conveniência de se optar pela atualização do valor de suas aplicações financeiras em dólar no exterior para o seu valor de mercado em 31/12/2023, mediante o recolhimento do IR à alíquota reduzida de 8% sobre a diferença entre o valor de mercado dos ativos na referida data e o seu custo de aquisição.
Para tanto o investidor deverá:
- Selecionar os ativos em relação aos quais pretende optar pela atualização, considerando o seu valor de mercado em 31/12/2023 (conforme evidenciado no extrato da conta);
- Converter o valor de mercado das aplicações financeiras no exterior que se pretende atualizar pela ptax de venda de 29/12/2023 (4,8413);
- Exercer a opção na forma e no prazo estabelecido pela Receita Federal do Brasil, que disponibilizará uma declaração específica para tanto; recolher o IR à alíquota de 8% sobre a diferença entre o valor de mercado do bem atualizado e o seu custo de aquisição até 31/05/2024;
- Incluir na Ficha de Bens e Direitos da DIRPF os valores tributados em decorrência do exercício da opção como custo de aquisição adicional do respectivo bem atualizado.
Vale destacar que embora a Lei esteja vigente, alguns aspectos operacionais sobre a declaração em dólar ainda serão detalhados pela Receita Federal do Brasil em Instrução Normativa.