Dólar bate R$ 4,10: entenda os oito motivos para a valorização da moeda

O dólar encerrou a R$ 4,1019 nesta feira (17), com alta de 1,618%. A moeda-norte americana persiste numa trajetória de alta, desde que as incertezas econômicas cresceram entorno do governo do presidente da República, Jair Bolsonaro.

Confira os oito principais fatos que alavancaram o dólar nas últimas semanas:

  1. Novos cortes nas projeções para o PIB de 2019;
  2. Estudantes universitários x Bolsonaro;
  3. Flávio Bolsonaro e suspeita de lavagem de dinheiro;
  4. Desemprego no Brasil no primeiro trimestre;
  5. Presidente do Banco Central comenta incertezas econômicas no Brasil;
  6. Ainda há risco de greve dos caminhoneiros;
  7. Governo é principal inimigo da Reforma da Previdência;
  8. Guerra comercial: China x EUA.

Novos cortes nas projeções para o PIB de 2019 auxiliam alta do dólar

O Índice de Atividade Econômica (IBC-BR) obteve retração de 0,68% no primeiro trimestre deste ano. O indicador é calculado pelo Banco Central (BC) e funciona como uma “prévia do Produto Interno Bruto (PIB)”. O dado foi divulgado pelo BC no último dia 15.

Além disso, quatro entidades importantes cortaram as projeções de crescimento do PIB do Brasil em 2019:

  • segunda-feira (13): o Boletim Focus, compilado pelo (BC) semanalmente, reduziu a projeção de crescimento do PIB de 1,49% para 1,45% em 2019.
  • segunda-feira (13): o Itaú Unibanco (ITUB4) também divulgou relatório com atualização de projeção de expansão do PIB. O banco, por sua vez, diminuiu a estimativa de 1,3% para 1% no fim deste ano.
  • terça-feira (14): o ministro da Economia, Paulo Guedes, cortou a previsão de avanço do PIB brasileiro. Contra os 2% previstos durante a gestão do ex-presidente da República, Michel Temer (MDB), o crescimento foi contraído a 1,5%.
  • quarta-feira (15): a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal diminuiu a estimativa de crescimento da economia brasileira, de 2,3% para 1,8% neste ano.

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Desemprego no Brasil no primeiro trimestre

O desemprego no Brasil cresceu em 14 unidades da federação no primeiro trimestre. Os dados foram divulgados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), na véspera, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No total, a taxa de desemprego no Brasil no primeiro trimestre de 2019 foi de 12,7%. No quarto trimestre do ano passado, a porcentagem de pessoas que procuravam emprego era de 11,6%.

Confira abaixo os principais dados da Pnad Contínua:

  • desemprego: 1,2 milhão de pessoas.
  • população subempregada: 28,3 milhões de pessoas.
  • brasileiros procurando emprego: 13,387 milhões.

De acordo com o Banco Mundial, em 2017, a população total do Brasil somava 209,3 milhões. Com 12,7% da população total desempregada, os investidores recuam do Brasil e o dólar é valorizado.

Saiba mais – IBC-Br: prévia do PIB indica retração de 0,68% no 1º trimestre de 2019

Estudantes universitários x Bolsonaro

Em 20 de dezembro de 2018, a Lei Orçamentária Anual (LOA) foi aprovada com previsão de avanço do PIB de 2,5% em 2019. Contudo, o crescimento do PIB do Brasil neste ano está abaixo do esperado. Assim, o governo realizou um contingenciamento de R$ 30 bilhões do orçamento.

O contingenciamento foi de R$ 1,7 bilhão na educação, abrangendo os gastos não obrigatórios (discricionários). O orçamento total aprovado para este ano para a educação é de R$ 49,621 bilhões para as 63 universidades federais. Deste valor, R$ 42,3 bilhões (85,34%) são direcionados para pagamento de salários.

Desta forma, do total de R$ 6,9 bilhões (13,83%) direcionados às despesas discricionárias, o montante de R$ 1,7 bilhão equivale a 24,84%.

A decisão de contingenciamento do Ministério da Economia provocou manifestações em pelo menos 200 cidades brasileiras, na última quarta-feira (15). O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), comentou as manifestações à Imprensa.

“São uns idiotas úteis que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais”, opinou Bolsonaro.

As manifestações de nível nacional assustam o mercado financeiro, devido à quantidade populacional movida contra as decisões do governo. Isto demonstra fragilidade da gestão Bolsonaro, e o dólar cresce.

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Flávio Bolsonaro e suspeita de lavagem de dinheiro

Um relatório do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) apontou que há indícios de que o senador Flávio Bolsonaro (PSL) comprou e vendeu imóveis em um esquema de lavagem de dinheiro. Flávio é filho do Presidente da República, Jair. O relatório sigiloso foi obtido pela revista “Veja”, que divulgou as informações no último dia 15.

O texto foi usado pelo MPRJ como justificativa à Justiça para o pedido de quebra do sigilo bancário e fiscal de 95 pessoas e empresas vinculadas à Flávio Bolsonaro.

Flávio teria investido R$ 9,4 milhões na compra de 19 imóveis na Zona Sul do Rio Janeiro, e na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade. O investimento teria sido realizado entre 2010 e 2017, enquanto ocupava o cargo de deputado.

De acordo com os promotores, os lucros de Flávio nos “empreendimentos” teriam sido superiores a R$ 3 milhões, com as negociações.

Confira abaixo três casos identificados pela revista, dentre o total de 19 imóveis apurados até o momento:

  • Flávio teria comprado um imóvel em 2012 por R$ 140 mil, e revendido 15 meses depois, em 2014, por R$ 550 mil. O lucro teria sido de 292%. Contudo, a valorização de imóveis no bairro ficou em 11%, no período.
  • Outro imóvel, adquirido também em 2012, pelo valor de R$ 170 mil, foi renegociado um ano depois. Vendido por R$ 573 mil, o lucro de Flávio foi de 237%. No período, o índice de valorização de imóveis ficou em 9% para o bairro.
  • O MPRJ também identificou que, entre 2008 e 2010, Flávio Bolsonaro comprou dez salas comerciais na Barra da Tijuca, por R$ 2,66 milhões. Meses após a compra, todos os imóveis foram vendidos para uma empresa de exportação por R$ 3,16 milhões.

Saiba mais – MP: Flávio Bolsonaro teria comprado 19 imóveis por R$ 9 milhões

Presidente do Banco Central comenta incertezas econômicas no Brasil que alavancam dólar

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou na última quinta-feira (16) que o Brasil ainda vivencia um período de incertezas econômicas.

Segundo Campos Neto, tais incertezas adiam as decisões de investimento no País. A fala foi dita em audiência na comissão mista do Orçamento, no Congresso Nacional.

O chefe do Banco Central explicou que após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) houve um princípio de otimismo com a economia. Entretanto, os investidores perceberam que o Brasil não tinha uma política fiscal compatível.

“Não existe país com inflação baixa, juros baixos e inflação ancorada com fiscal ruim”, disse Campos Neto.

“Viemos de um mundo de grandes incertezas no passado, mas não conseguimos nos livrar das incertezas. As incertezas continuam no ar. E acho que isso explica um pouco esse adiamento da decisão de investir”, declarou Campos Neto.

“Acho que, quanto mais nós formos capazes de sinalizar aos investidores que estamos falando sério sobre a disciplina fiscal, e que vamos resolver esse problema, mais rápido eles sentem confiança para investir”.

Conforme a avaliação de Campos Neto, esta confiança dos investidores será acordada quando o governo conseguir aprovar e implementar as reformas fiscais. Em específico, a reforma da Previdência e a reforma tributária.

“Frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas, e ajustes necessários na economia brasileira podem afetar prêmios de risco e elevar a trajetória de inflação num horizonte relevante para a política monetária”, disse.

Saiba mais – Banco Central: investimentos são adiados devido as incertezas econômicas

Ainda há risco de greve dos caminhoneiros

Jair Bolsonaro afirmou na véspera que poderá rever a política de preços da Petrobras (PETR3), caso a revisão não traga prejuízos para a empresa estatal. A declaração foi feita na “live” semanal, transmitida por sua página no Facebook. O presidente da República ainda estava em Dallas.

“O pessoal reclama do preço da gasolina a R$ 5 e me culpa, atira para cima de mim o tempo todo. O preço do combustível é feito lá pela Petrobras. Leva em conta o preço do barril de petróleo lá fora, bem como a variação do dólar. Lógico que se a gente puder rever isso aí sem prejuízo para a empresa, sem problema nenhum, às vezes a política pode ter algum equívoco”, disse o presidente.

Após diversas ameaças de uma nova greve dos caminhoneiros, o presidente Bolsonaro interferiu na política de preços da Petrobras. Em 11 de abril, a petroleira decidiu reajustar o preço do óleo diesel 5,7%. Contudo, o político do PSL ordenou que a medida fosse cancelada pela empresa.

Após uma reunião entre o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas e integrantes da Confederação Nacional dos Transportes Autônomos (CNTA), os planos de uma nova greve de caminhoneiros foram cessados.

O reajuste do óleo diesel só ocorreu de fato em 17 de abril, com alta de 4,84%. No mesmo dia, a Petrobras anunciou que reajustaria a regra para fazer os cálculos do preço do diesel.

Sem informar, as modificações exatas, a Petrobras garantiu que as mudanças não ocorreriam em período inferior a 15 dias. O mercado ainda tem receio de novas interferências políticas, além da possível falha do governo em conter uma greve dos caminhoneiros. Assim, o dólar aumenta.

Saiba mais – Bolsonaro afirma que política de preços da Petrobras pode ser revista

Governo é principal inimigo da Reforma da Previdência e dólar sobe

A lenta tramitação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da reforma da Previdência deixa o mercado com aversão a risco.

Depois de a Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara Federal aprovar a admissibilidade constitucional do texto da Reforma da Previdência, em 24 de abril, a comissão especial da Casa foi formada.

O presidente da comissão especial, Marcelos Ramos (PR), afirmou que “hoje, o maior inimigo da reforma [da Previdência] é o próprio governo”. O deputado fez a afirmação em evento da Fundação Getulio Vargas (FGV), na última sexta-feira (10).

A opinião é compartilhada por Rodrigo Maia (DEM), chefe dos deputados. Nesta semana, Maia, contou que avisou o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), que ambos farão a reforma da Previdência “com o governo ajudando ou atrapalhando, com ou sem redes sociais”.

De acordo com apuração do “Valor Econômico”, no início de maio a reforma da Previdência tinha o apoio integral de 100 deputados na Câmara Federal. Outros 112 parlamentares apoiavam parcialmente a PEC.

Do total de 513 deputados, são necessários 308 votos favoráveis ao texto para que a tramitação no Senado continue.

Quanto ao cronograma, Ramos afirmou que não há como projetar quando o parecer será votado na Câmara. “Tudo depende do número de emendas que teremos. Uma coisa é analisar 10 emendas, outra é analisar 100”, disse o deputado em 7 de abril.

Entretanto, anteriormente, o presidente da comissão especial havia declarado que esperava que o parecer da reforma da Previdência fosse votado em junho. Isto, pois, Rodrigo Maia desejava votar o texto em plenário em julho.

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Guerra comercial: China x EUA

O último motivo, mas não menos importante, para a ascensão do dólar, é referente à continuidade da guerra comercial.

A China anunciou na última segunda-feira (13) que iria aumentar as tarifas sobre US$ 60 bilhões de produtos norte-americanos. A medida ocorreu como retaliação aos Estados Unidos da América (EUA), por elevarem as taxas sobre importações de produtos chineses.

O aumento das tarifas alfandegárias da China será aplicado a 5.140 produtos norte-americanos a partir de 1 de junho.

Em 10 de maio, o governo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentou as tarifas alfandegárias sobre produtos importados chineses.

A medida de Trump foi tomada pois a China teria descumprido parte de acordos entre os países. Dessa forma, as taxas sobre importação passaram de 10% a 25% sobre US$ 200 milhões em produtos.

A guerra comercial, no início do ano, havia dado indícios de calmaria, com os países participando de rodadas de negociações para chegar a um acordo comercial.

Contudo, em maio, a guerra comercial obteve um novo capítulo, e com todos estes fatos ocorrendo em paralelo, o dólar é valorizado no Brasil, e opera acima dos R$ 4,10.

Amanda Gushiken

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