Fazer um investimento no exterior e atrelado ao dólar pode ser uma decisão crucial na jornada do investidor, tanto pela complexidade de ter um portfólio com ativos como empresas americanas quanto pela vantagem de reduzir riscos e ter mais conforto financeiro em períodos de alta do dólar ante o real.
Contudo, muitos investidores têm um dilema recorrente, entre esperar uma janela oportuna para comprar ativos dolarizados quando o dólar cai ou simplesmente tomar a decisão de comprar fundos, BDRs (Recibos de ações empresas negociadas no exterior) ou outros instrumentos para reduzir o risco da sua carteira e surfar altas da moeda americana.
João Daronco, analista de ações da Suno Research, lembra que, independente da cotação, via de regra é importante manter uma parcela do seu patrimônio atrelada ao dólar, uma moeda forte.
“Não acho que o ano de 2023 será excecionalmente bom ou ruim para dolarizar o patrimônio. Entendo que a pessoa sempre precisa ter uma fatia em dólar. O principal é compreender o perfil de investidor, e aí sim você define algumas porcentagens da alocação da carteira. Mas mesmo assim, acho que todo mundo deveria ter um pouco [do patrimônio] em dólar”, analisa.
Dentre os ativos que o investidor pode acessar e que estão atrelados ao dólar estão:
- BDRs (Brazilian Depositary Receipts), negociados na bolsa de valores brasileira
- Fundos que investem em empresas ou ativos do exterior
- ETFs (Exchange-Traded Funds, ou fundos de índice) que replicam o desempenho de ativos internacionais
A decisão de alocação ficará a critério do investidor, que pode realizar o investimento de acordo com o seu perfil e, preferencialmente, sob o conselho de uma casa de análise ou assessor de investimentos.
O economista Paulo Paiva destaca que investir em empresas brasileiras que possuem geração de caixa e geração de receita em dólar também pode ser uma boa alternativa, citando companhias como Vale (VALE3) e Suzano (SUZB3), que têm ações negociadas em bolsa, grande liquidez e pagam dividendos.
O especialista aponta que a sua preferência, no momento atual, é por fundos, dada a possibilidade de delegar aos gestores a tarefa de alocar melhor a carteira e escolher melhores ativos globais.
“Um fundo como o Ibiuna Hedge, por exemplo, em diversos momentos de crise política e/ou social e/ou econômica teve excelentes performances (como vimos com a chegada da covid em 2020 e com as conturbações eleitorais e pós-eleitorais que vivemos agora)”, comenta, citando o fundo multimercado da Ibiuna Investimentos.
Dinheiro em dólar, mais responsabilidade
Além de levar em consideração a questão do perfil do investidor, especialistas ponderam que, em um caso de alocação direta em ativos como ações americanas ou BDRs, o investidor tem de ter mais atenção com outros fatores da economia e estar a par de assuntos que afetem sua carteira.
Ou seja, diferentemente de um fundo, alocações em ações internacionais exigiriam uma atenção constante para analisar o fundamentos dos ativos, além de ficar de olho no cenário macroeconômico.
O momento atual, aliás, vem de uma conturbação no cenário econômico, segundo Paiva.
“É muito importante acompanhar as falas de dirigentes do Fed (Federal Reserve), observar a trajetória da CPI (Índice de Preços ao Consumidor) e o PPI (Índice de Preços ao Produtor). Hoje o mundo olha para os EUA com preocupação devido à política monetária desgovernada feita pelo Jerome Powell nos últimos anos”, explica.
Quais BDRs comprar?
Entre os BDRs citados pelos analistas do BTG Pactual para o ano de 2023 estão a Visa (VISA34) e a Microsoft (MSFT34).
A tese é de que a multinacional americana de serviços financeiros tem grandes vantagens competitivas e uma forte presença global.
“A escala da Visa e sua posição estratégica no sistema financeiro global oferecem uma importante vantagem competitiva à empresa, e como resultado a Visa possui uma participação de mercado dominante na maioria dos mercados em que atua”, dizem os especialistas da casa.
Além disso, os analistas destacam que a empresa têm aumentado a participação de mercados emergentes no volume total de pagamentos da companhia.
Já para a Microsoft, gigante de tecnologia, os analistas apontam que o novo ciclo de crescimento focado em computação na nuvem e aplicações voltadas à inteligência artificial deve beneficiar a empresa é um fator relevante.
Além disso, o foco nos acionistas agradou o mercado, já que em 2020 e em 2021 a empresa recomprou US$ 43 bilhões em ações e distribuiu US$ 32 bilhões em dividendos.
O BTG também cita “balanço sólido, com uma posição de caixa líquido de US$ 30 bilhões” e o fato de que a empresa exibe “lançamentos de aplicativos e soluções de realidade virtual e uma rentabilidade elevada com margem líquida e ROIC [Retorno sobre o investimento] de 35%“.
Compro dólar com reais?
Vale destacar que no caso dos fundos de investimentos internacionais ou nos BDRs, o investidor estará fazendo aporte em moeda nacional, o Real, mas ‘surfando’ o carrego do dólar.
Isso porque o preço do BDR, por exemplo, irá incorporar as variações das ações da empresa em questão juntamente com as oscilações do dólar ante o real – o que também pode ser aplicado a alguns tipos de fundos e outros ativos que são adquiridos em corretoras, como os próprios ETFs.