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Federal Reserve em Jackson Hole: qual o impacto na economia?

Powell fala em manter os juros altos em Jackson Pole

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve. Foto: Wikimedia Commons

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que a autoridade deverá utilizar suas ferramentas com intensidade para controlar a inflação daqui para frente. A declaração foi feita durante o simpósio de Jackson Hole, nesta sexta-feira (26), que reúne autoridades de banco centrais do mundo todo. “Apenas Jerome Powell pode dizer se o que tem sido dito até então, com tom mais agressivo, realmente é o que a autoridade monetária pensa”, explica Luis Otavio Leal, economista-chefe do Banco Alfa, em entrevista ao Suno Notícias.

Em um discurso de pouco menos de 10 minutos, o chefe do Fed deixou clara a intenção de anunciar outras elevações nas taxas de juros norte-americanas para os próximos meses. O objetivo da autoridade monetária é conter a inflação, a maior em 40 anos.

A política monetária é de contração da economia, segundo Powell. O aperto monetário durará “por algum tempo”, como destacou, antes que a meta de inflação de 2% ao ano seja atingida. O tom mais hawkish indica, consequentemente, crescimento mais lento da economia, com o enfraquecimento do mercado de trabalho por tabela. “Esses são os custos infelizes de reduzir a inflação. Mas falhar em restaurar a estabilidade de preços significaria uma dor muito maior”, discursou.

O mercado financeiro começa a esperar uma quarta elevação consecutiva de 0,75 ponto percentual para a reunião do Federal Reserve em 21 de setembro. Em termos práticos, o economista do Banco Alfa explica que uma alta de 0,50 p.p. ou de 0,75 p.p. não faz tanta diferença – mas em expectativas, sim. “Acredito que o tempo que os juros serão mantidos em alta importam mais do que o número da elevação de fato. Se Jerome Powell indicar que o Federal Reserve continuará elevando os juros em 0,75 p.p., será considerado extremamente hawkish.”

Mercado otimista sobre juros nos EUA pode reforçar tom rígido do Fed

Na visão de Luis Otavio Leal, o mercado estava demasiadamente animado com as falas de Jerome Powell nesta sexta-feira. No entanto, quanto mais otimista o ambiente estiver, mais o Federal Reserve precisará adotar um tom mais duro, ele explica.

Dirigentes da autoridade monetária norte-americana passaram a adotar um tom mais agressivo em suas falas, após a reunião de 27 de julho do Comitê Federal do Mercado Aberto (FOMC), mesmo aqueles considerados ‘dovish’ em suas decisões. Historicamente, a instituição tende a usar o simpósio de Jackson Hole para dar recados ao mercado. “Se Powell desejar mostrar que está muito animado, mais do que deveria estar, será nessa ocasião – assim como um tom mais duro, ou de colocar panos quentes na situação”, pondera Leal.

A desaceleração da atividade econômica é esperada, principalmente após o tom duro de Powell. No entanto, os indicadores dos EUA mostram um PIB negativo, com a economia em recessão técnica, após dois trimestres de recuo, e ainda assim um mercado de trabalho robusto. “Essa dificuldade de saber o que está entre esses dois indicadores gera uma grande ansiedade no mercado. Isso será determinante para saber até onde o Fed subirá os juros”, diz o especialista.

Postura hawkish do Fed pode ser boa para economia brasileira

O Banco Central do Brasil iniciou a elevação da taxa básica de juros, a Selic, em março de 2021, saindo de 2% ao ano para 2,75% a.a já no primeiro encontro, em uma situação nova para o país, que elevou seus juros antes de economias desenvolvidas. “Países emergentes em geral estão em um ciclo de aperto monetário há um tempo. Normalmente, vemos esse movimento na contramão. Agora, economias emergentes já encaram a possibilidade de um final de ciclo de altas, diferente das maiores do mundo”, observa o economista.

Após o discurso de tom severo, hawkish, do Federal Reserve nesta sexta-feira, o Ibovespa firmou queda e perdeu fôlego. Por volta das 14h50, o índice era negociado aos 112.229 pontos, em queda de 1,15%. O movimento já era previsto pelos mercados, mas a longo prazo pode representar uma vantagem para o Brasil.

Luis Otavio explica que parte da inflação brasileira é importada, com base no câmbio dos Estados Unidos, o dólar. “Quando o Federal Reserve começar a combater a inflação, os preços dos bens industriais vão começar a cair, e é provável que os custos no Brasil acompanhem, com a cotação internacional.”

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