Cerca de seis meses após o início das negociações dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts) no varejo, os certificados de depósito de ações estrangeiras já compõem o portfólio de mais de 196 mil investidores na Bolsa de Valores brasileira (B3).
O assessor da Alta Vista Investimentos, Alexandre Andreazzi, explica que o BDR é um recibo de ações negociadas fora do Brasil.
“A empresa contrata uma instituição financeira para ser a intermediadora e guardiã dessas ações, o agente custodiante delas. Assim, essas ações ficam guardadas nessa instituição que emitirá recibo de ações, e cada recibo negociado na bolsa representa uma ação que está nesta instituição financeira”.
“O BDR veio para diversificar a carteira e tirar o foco do Brasil, o que é muito benéfico e traz um retorno significativo”, completa Rodrigo Franchini, sócio e Head de Produtos da Monte Bravo Investimentos.
Desta forma, com o crescimento do número de investidores interessados neste tipo de ativo, o Suno Notícias falou com especialistas que revelam 5 detalhes para prestar atenção antes de investir no chamado Brazilian Depositary Receipts.
1. Câmbio
Andreazzi explica que uma questão importante que o investidor deve se atentar é com o câmbio, já que este possui uma correlação inversa com o BDR.
“Vamos supor que o investidor comprou uma ação de uma empresa que não subiu mas também não caiu nos Estados Unidos, porém o dólar se valorizou aqui no Brasil. Então, provavelmente vamos ter uma valorização desse BDR aqui no País”.
De maneira oposta, caso o investidor compre essa ação e esta não sofra grandes alterações de valor, porém o Real se valorize, então essa ação pode ter uma desvalorização aqui no País.
Por isso, os analistas informam que alguns pontos como risco fiscal do Brasil, risco político e outras questões internas devem ser analisadas. Contudo, as questões externas que podem valorizar ou desvalorizar o dólar também são relevantes e devem ser levadas em conta na hora da decisão
“Elas requerem cuidado um pouco maior por serem mercados que não estamos ambientados, que estão fora da nossa fronteira, o que faz com que a variação das moedas estrangeiras influencie”, sugere Davi Lelis, especialista e sócio da Valor Investimentos.
2. Volume de negociação
Lelis também alerta os investidores para se lembrarem da questão do volume de negociação. “Alguns BDRs, por serem recibos de ações do exterior podem ser menos negociados aqui do que no caso das ações do próprio país”.
O especialista explica que por serem recibos de ações no Brasil, pode ser que o número de negociações seja menor ao longo do dia, semana ou do mês.
“E isso faz com que a pouca negociação gere diferenças e contrastes entre os negócios que são feitos, como são poucos. Então algumas pessoas querem comprar a R$ 10, outras a R$ 15 e outras a R$ 20”.
“Quando há mais negociação, o preço justo é logo definido, se há pouca negociação, isso não ocorre, por isso, as vezes é possível comprar uma ação a R$ 10 mas não será possível vendê-la ao preço desejado pois não há compradores para vender”.
Desta forma, Lelis salienta que é muito importante prestar atenção na questão do volume de negociação desse tipo de ativo, que algumas vezes pode ser menor.
“Pode ser uma boa empresa, boa ação, mas por ser um recibo aqui no Brasil, pouca gente negocia, e quando há pouca gente negociando, geralmente se leva preços um pouco piores”.
3. Volatilidade e Prazo
Franchini cita ainda que esse tipo de ação tem uma maior volatilidade, o que deve ser analisado pelo investidor e se isso se encaixa em seu perfil.
As cotações variam seguindo os resultados e perspectivas das empresas emissoras, mas também seguindo os humores do mercado. Desta forma, é importante o investidor analisar e ter certeza de que seu perfil de risco tolera aplicações desse tipo.
“A estrutura do BDR tem que ser responsável na medida de uma qualificação de médio prazo assim como uma estrutura que montamos no Brasil, seguindo o mesmo raciocínio, de conhecimento da ação, do cenário que está inserida, das perspectivas econômicas em conjunto com o seu prazo e seu perfil”.
Além disso, o Head da Monte Bravo Investimentos ressalta que o período deve ser analisado. No caso dos BDRs, esses ativos devem ser entendidos como uma alocação de longo prazo.
“É importante ficar atento se o objetivo é ganhar rendimentos com a posição de dividendos, então deve-se buscar uma empresa que faça isso, mas ao contrário do Brasil que muitas empresas pagam dividendos, lá fora é diferente. Então primeiro entenda o perfil de alocação em questão, se você quer ganhar pela valorização no médio ou longo prazo ou se a intenção é receber dividendos”.
4. Limitações
Para Henrique Esteter, da Guide Investimentos, ao escolher uma opção de BDR, o investidor deve lembrar que ele não está de fato se tornando um investidor direto da empresa, mas sim comprando um certificado de uma ação que um banco possui em custódia do exterior.
“Esse é o primeiro ponto. O investidor deve lembrar que terá alguns custos adicionais e outras questões por não ser uma estrutura direta”, ressalta.
Além disso, muitas vezes ao investir nesses títulos representativos não se terá as mesmas vantagens que que alguém que adquiriu diretamente o papel na Bolsa de Valores correspondente.
Vale ressaltar que ao investir diretamente no exterior, é possível adquirir qualquer ação de seu interesse, todavia, no caso dos BDRs isso não é possível, já que não são todos os papéis internacionais que estarão disponíveis por meio dos certificados.
Ou seja, o investidor será restrito aos papéis que são negociados aqui no Brasil.
5. Entendimento de cenário
Por último, os analistas indicam a compreensão do cenário em que o investidor irá apostar.
“É importante conhecer a economia em que a empresa que está comprando atua. Ao adquirir o BDR do Alibaba, por exemplo, deve-se estudar o mercado asiático e saber como esse mercado vai performar ao longo dos próximos meses e anos. Esse conhecimento é necessário”.
Além disso, “é importante entender as operações da empresa, não adianta comprar empresa grande, só porque é grande e renomada, se não há perspectiva de que algo interessante possa ocorrer”, completa Esteter.
Para isso, Lelis diz que deve-se ter um cuidado redobrado para conseguir acompanhar as empresas e sugere que o investidor sempre esteja atento ao noticiário externo.
Investir em BDRs com cuidado
Antes de qualquer investimento em ações ou BDRs é importante ressaltar que quitar as dívidas e fazer uma reserva de emergência deve sempre ser a prioridade. Os analistas da SUNO Research sempre salientam que é necessário antes poupar dinheiro para depois investir, e nunca se endividar para investir ou investir endividado. Esta matéria não é uma recomendação de investimento.