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Setor bancário: desafio em 2021 é aliar digitalização a corte de despesas

Os resultados do setor bancário ficaram em linha com as expectativas no quarto trimestre, mas os desafios continuam em 2021.

Os resultados do setor bancário ficaram em linha com as expectativas no quarto trimestre, mas os desafios continuam em 2021.

Os principais bancos deram o pontapé inicial na temporada de resultados corporativos do quarto trimestre de 2020 no Brasil. Tanto nos resultados quanto no discurso dos executivos, ficou mais claro do que nunca que a digitalização e corte de despesas estarão no topo de prioridades do setor bancário para os próximos anos.

Em busca de se tornarem mais eficientes mas ao mesmo tempo se manterem rentáveis para sustentar suas estruturas, os bancos devem intensificar seus investimentos em tecnologia para funcionarem com operações mais enxutas.

Ao mesmo tempo, a concorrência no setor bancário tem se acentuado mais rápido do que o esperado, colocando maior urgência nos planos das grandes instituições financeiras.

Esse processo, acelerado pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), não é o único que chama atenção do mercado: o cenário macroeconômico brasileiro e risco de aumento da inadimplência nos bancos também são desafios do setor em 2021.

Estas dúvidas estão na cabeça de milhares de investidores. Não só porque as instituições possuem centenas de acionistas, mas, além de tudo, porque o setor bancário ainda é muito representativo no País, correspondendo a mais de 18% do índice Ibovespa.

Com isso, o comportamento das ações dos bancos impacta diretamente o desempenho do mercado brasileiro.

O SUNO Notícias conversou com profissionais do mercado para entender quais são expectativas para o setor nos próximos trimestres, e como isso impacta no bolso dos investidores.

Queda histórica do setor bancário em 2020

Embora em linha com o consenso de mercado, a soma dos lucro dos bancos Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11) e Banco do Brasil (BBAS3) no quarto trimestre de 2020 atingiu R$ 19,23 bilhões, enquanto no acumulado do ano foi de R$ 64,51 bilhões, uma queda de aproximadamente 26% em relação a 2019.

Essa foi o maior recuo desde 2000 e o segundo maior desde 1994, início do Plano Real. O tombo da lucratividade justifica a queda das ações negociadas na B3.

BANCO RETORNO (12 MESES) RETORNO 2020
ITAÚ -17,61% -11,75%
BRADESCO -16,09% -15,33%
SANTANDER -1,74% -3,29%
BANCO DO BRASIL -32,39% -24,04%

O difícil ambiente macroeconômico, com uma contração da demanda econômica e pressão sobre a inadimplência impactou a rentabilidade dos bancos, que tiveram uma queda média do Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) para 15,1%, de 19,15% em 2019 — o menor retorno sobre o patrimônio em mais de duas décadas.

A pandemia, grande catalisadora desse processo, também trouxe a urgência sobre a digitalização dos grandes players do setor.

Segundo especialistas, os grandes bancos brasileiros têm se destacado nesta corrida. “Está completamente equivocado quem pensa que os grandes bancos brasileiros são atrasados. Pelo contrário, são líderes de tecnologia, inovação e apresentam um avanço bem superior em relação aos pares internacionais neste quesito”, afirma José Falcão, especialista em renda variável da Easynvest.

Embora estejam bem posicionados para fazer frente às fintechs e startups do setor, o grande desafio dos bancos tradicionais é manter este avanço aliado à redução de custos e despesas do modelo de negócio anterior, onde o espaço físico prevalecia sobre o ambiente digital.

Enxugamento da estrutura dos grandes bancos

A título de comparação, o Bradesco encerrou 2020 com 89,57 mil funcionários, enquanto o Banco Inter (BIDI11) tem pouco mais de 2 mil colaboradores. A diferença já foi maior: no ano passado, o banco sediado em Osasco (SP) fechou 1.083 agências e desligou 7.754 pessoas.

O Bradesco não pretende interromper essa tendência. O banco, que foi o destaque dessa temporada de resultados, prevê em seu guidance um corte de 1% a 5% das despesas neste ano, sobretudo com a mudanças das agências em postos multiuso e “transformação digital“.

Outro gigante que está encolhendo é o Banco do Brasil. No início deste ano, a instituição apresentou um grande redimensionamento em suas operações. Serão desativadas 112 agências, 7 escritórios e 242 postos de atendimento. Além disso, 243 agências serão convertidas em postos de atendimento.

Funcionários do Banco do Brasil da região de Osasco fizeram greve contra o corte de despesas nesta semana.

Junto a isso, foram abertos dois programas de desligamento voluntário, já tendo cerca de 5,5 mil adeptos. A economia líquida anual estimada é de R$ 353 milhões em 2021 e R$ 2,7 bilhões até 2025.

Transição do físico para o digital

Para Victor Martins, analista da corretora Planner, as agências físicas com certeza não vão desaparecer, mas ainda existe grande espaço para o corte de despesas nesse sentido.

O especialista imagina que os bancões devam criar organismos digitais de forma apartada (como o Bradesco e Next), ao passo que suas próprias estruturas se tornem mais próximas dos clientes.

“O caminho está claro: foco no cliente, manutenção da receitas e corte de custos — mas com o fechamento de agências, sobretudo”, diz Martins.

Além de enfrentar bancos jovens, como Nubank ou o C6, os bancos tradicionais enfrentam a competição de outros gigantes na arena digital.

O BTG Pactual (BPAC11), maior banco de investimento do América Latina, lançou ao público geral no fim do mês passado o BTG+, seu banco digital voltado à alta renda.

A instituição quer ampliar sua carteira de crédito para as pessoas físicas e, com isso, expandir os horizontes de atuação, mesmo reportando recordes de receitas nas áreas em que é dominante. É mais um grande concorrente para os tradicionais players do setor bancário no médio e longo prazo.

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