Em 1970 um desconhecido professor suíço chamado Kalus Schwab decidiu organizar uma reunião com um grupo de empresários, acadêmicos e políticos do mundo inteiro, para falar dos problemas da humanidade propor soluções para o futuro. A cidade escolhida para sediar o evento foi um pequeno vilarejo no meio dos alpes da Suíça oriental chamado Davos. Surgiu assim o Fórum Econômico Mundial, o qual o Suno Notícias está cobrindo diretamente do local.
Cinquenta anos depois, Davos se tornou uma espécie de Monte Olimpo da economia, política e das finanças globais. Um lugar onde, durante uma semana por ano, ocorre a maior concentração de poder do planeta.
Todos os janeiros passam por essa pequena localidade presidentes e primeiros ministros, banqueiros centrais e chefes de grandes empresas, industriais, bilionários, acadêmicos influentes, esportistas, atores e estrelas do rock e das artes.
O professor Schwab, 82 anos, continua presidindo e apresentando as reuniões com as personalidades mais importantes convidadas cada ano. Em recente entrevista ao Financial Times, ele lembrou que o WEF “sempre foi concebido como uma plataforma para investidores”.
Neste meio século, tornou-se outra coisa, mas o professor garante que ele nunca perdeu sua alma. É claro que ele evoluiu porque se adaptou aos tempos e trouxe mais política e mais personalidades. Se tornando um lugar onde também se discute de problemas mundiais como o aquecimento global (principal temática desse ano), as tensões no Oriente Médio e o aumento das desigualdades sociais.
Centro de divulgação de ideias
Ao longo desse meio século de atividades, Davos também se tornou o centro de divulgação de novas ideias. Entre elas, as teorias de Milton Friedman sobre mais mercado e menos estado. Ou também o aumento da centralidade dos acionistas na governança das empresas no mundo todo.
Esse ano se discute sobre um possível capitalismo ético, e por isso foi lançado um manifesto para orientar nesse aspecto as empresas na “era da Quarta Revolução Industrial”. E se tenta prever o futuro, ou pelo menos o rumo que o mundo está tomando. Por exemplo, em 2004 Bill Gates previu que em breve o mundo seria dominado por uma nova epidemia: o spam.
Cúpula inacessível
Considerado pela maioria das pessoas como uma cúpula exclusiva e inacessível aberta apenas para os chamados “homens de Davos”. Pessoas ricas – participar custa mais de US$ 55 mil (cerca de R$ 220 mil) por pessoa – poliglota (pois os painéis de discussão são exclusivamente em inglês, sem tradução), cosmopolita, naturalmente global.
O evento tornou-se cada vez mais coberto pela mídia. Dezenas de milhares de jornalistas do mundo inteiro tentam acessar no local das reuniões, mas apenas poucas dezenas são credenciados (o SUNO Notícias está entre esses), enquanto o resto fica amontoado nas estreitas ruas da cidade, buscando entrevistas os poderosos que andam, rigorosamente a pé, de seus hotéis para o centro de convenções.
Veja também: Davos: Confira a agenda para o segundo dia do evento
Essa extensa cobertura, entretanto, não conseguiu eliminar a percepção de suspeita sobre o que se discute no evento. Mesmo se quase todas as reuniões são transmitidas em streaming no YouTube. Os movimentos populistas e anti-élites do mundo inteiro acusam Davos de ser um local de complôs globais contra os povos.
Além disso, o evento é acusado de ser elitista. Com uma brincadeira que todos os anos se repete, descrevendo Davos como um “lugar onde bilionários explicam para milionários como pensa a classe média”.
Quem participa e quem não foi
Todos os anos há uma grande especulação sobre quem participará e quem ficará por fora do evento. Donald Trump foi o primeiro presidente dos EUA em exercício a participar do evento. Ele foi pela primeira vez em 2018 e voltará em 2020. Há dois anos ele tinha defendido seu “America First” e atacado as políticas comerciais da União Europeia e da China, anunciando o começo da guerra comercial com Pequim. Esse ano, provavelmente, ele falará sobre o meio ambiente, dando sua visão contrária ao ambientalismo defendido por outra participante do Fórum, a ativista sueca de 16 anos, Greta Thunberg.
No caso do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, que inaugurou o evento em 2019, não participará esse ano. Seu discurso de abertura tinha sido alvo de fortes críticas, seja pela curta duração (cerca de 3 minutos), como pelo conteúdo. Bolsonaro chegou a discursar sem nem tirar o paletó. Esse ano, provavelmente, ele preferiu não repetir o feito, e encarregou o ministro da Economia, Paulo Guedes, de representar o Brasil.
Dress code em Davos
O código de vestimenta é bastante rígido. Terno escuros e gravata pelos homens, roupas elegantes para as mulheres. Únicas excepções, fundadores de startups com menos de 30 anos, que chegam em jeans e camisetas, ou artistas, como o brasileiro Romero Brito, que anda pelos corredores do centro de convenções de Davos com um terno colorido com suas estampas.
A segurança do evento não é nada discreta, considerando a presença de políticos, banqueiros, bilionários, grandes chefes de multinacionais, celebridades do mundo todo. Espaço aéreo fechado, exército nas ruas, snipers nos telhados, controles mais rígidos do que em aeroportos em cada porta.
Os controles já começam na fronteira da Suíça, e continuam até chegar aos 1.500 metros acima do nível do mar, onde fica Davos. E chegando na cidade, se não for rico ou bem financiado, ficará hospedado em hotéis distantes do centro de convenções, portanto, meia hora de ônibus por dia no meio da neve. Com controles até dentro dos veículos.
Oportunidade única
Mas quem vai até Davos relata que é uma oportunidade única. Não é todos os dias que as duas mil pessoas mais poderosas e influentes da Terra se reúnem em uma aldeia sem assessores ou barreiras. Para quem quer ir além da cotidianidade, vale a pena encarar uma semana de correria e agenda intensa para ouvir, conversar e aprender algo novo.
Notícias Relacionadas