Darwin: startup utiliza tecnologia para oferecer seguros com preços “sob medida”
Os sócios-fundadores da Darwin, Firmino Freitas e Carlos Alberto Souza Barros — que têm quase a mesma idade — fizeram uma cotação de seguro para o mesmo modelo de carro, mas perceberam que os preços eram totalmente diferentes em seguradoras distintas. Assim, em dezembro de 2020 nasceu a startup Darwin, cuja ideia é oferecer seguro com preços sob medida. É uma seguradora de automóveis 100% digital.
A ideia prosperou porque a Darwin criou tecnologia baseada em inteligência artificial (IA) que a ajuda, segundo seus fundadores, a oferecer seguro com preços justos. A companhia consegue assim identificar padrões entre os clientes e encontrar um preço ideal de seguro, de acordo com o modo como dirigem e como se comportam no trânsito — e não de acordo com o grupo ao qual pertencem.
Uma tecnologia de IA geralmente inclui dados de entrada e saída. No caso da startup essas informações acumuladas indicam a pontuação dos clientes de acordo com o a forma que a pessoa dirige. Assim, por meio do aplicativo que desenvolveu, a seguradora consegue mapear o estilo de vida do motorista, focado no comportamento de direção, e combina essas informações com dados de mercado, o que acaba gerando preço final do seguro.
Alguns comportamentos que a inteligência artificial da Darwin mapeia para gerar as saídas são, por exemplo, o período do dia em que o cliente usa o carro e os trajetos que percorrem. “Isso diz muito sobre o risco que ela está expondo a seguradora”, diz Jone Vaz, CTO da Darwin.
O executivo conta como essa tecnologia funciona na prática: “Se uma pessoa sai de casa às 7h e volta, para depois sair novamente às 17h, possivelmente está levando e buscando o filho na escola. Essa pessoa tende a ser muito mais cuidadosa porque está com filho no carro. Então ela vai ter naturalmente o score maior de direção, por ser mais cuidadosa. Isso vai refletir no preço.”
Segurança e privacidade dos dados
O CTO tranquiliza os clientes em relação à segurança desses dados. Assegura que a companhia não consegue e nem pretende “espionar” os clientes. Os executivos ressaltam que não conseguem saber a localização exata, mas os perímetros pelos quais a pessoa dirige. Além disso, não conseguem saber exatamente quem é a pessoa que representa um determinado conjunto de dados. “É uma ideia de que a gente usa dados da pessoa para o bem, para gerar um desconto muito bom e principalmente para precificar um seguro de forma correta para ela”, diz Vaz.
“A gente coleta os dados do smartphone do usuário e ele já não é identificado”, completa ele, explicando que, quando é retirado algum dado do celular de um cliente, ao chegar à Darwin, a pessoa “dona dos dados” não é identificada. “O sistema indica que se trata de um usuário que tem o código tal. Na prática, eu não preciso saber o nome e o CPF da pessoa para conseguir analisar o driving score dela. Na hora de estabelecer o preço, eu preciso saber que aquele grupo de dados pertence àquela pessoa. Então essa correlação é só a Darwin o que consegue fazer”.
O CTO explica que os dados coletados ficam em locais diferentes, para não ser possível fazer essa correlação de quem é a pessoa “dona das informações”.
Para que a Darwin colete os dados dos clientes, é necessário que o aplicativo esteja baixado no smartphone do motorista, mas o app não precisa estar aberto. “Você só precisa estar com o celular dentro do carro, nada além disso”, diz Vaz.
O mundo atrás do aplicativo
Embora seja simples usar o aplicativo, Jone faz questão de reforçar que “a Darwin é muito mais que um app, é uma seguradora completa. Por trás do app tem muita coisa.”
O executivo explica: “O cliente enxerga um app em que ele vai poder fazer uma cotação e até a emissão de uma apólice em quinze minutos. Então a vistoria é o próprio usuário que vai fazer, assim como o pagamento, via cartão de crédito. O próprio usuário é quem vai escolher suas coberturas. É um negócio interessante, porque ele vai receber uma sugestão de produto, mas, se ele quiser personalizar alguma cobertura, pode mexer nisso também.”
Mais: “Uma vez que ele escolhe o plano de cobertura e faz o pagamento, a apólice é emitida na hora. Então o cliente dará acesso para a gente, com a localização em tempo integral. A rotina da pessoa vai contar na hora de a gente montar o preço certo.”
O aplicativo sabe lidar com mudanças esporádicas no cotidiano do motorista. A empresa garante que não haverá alterações bruscas no preço causadas por isso.
Mas quanto tempo se leva para coletar e consolidar os dados? Vaz explica que, com pouco mais de 100 quilômetros dirigidos, é possível colher as informações que serão utilizadas na formulação do preço sob medida. “Quanto mais dados a gente conseguir coletar, mais aprimorado ficará o modelo. Só não precisa de fato de ter uma infinidade de informações para gente conseguir dar um preço justo para a pessoa”, diz Jone.
Equipe de tecnologia da Darwin não é terceirizada
O modelo de negócios da Darwin é voltado para os clientes, e por isso a equipe que cuida da tecnologia é 100% própria.
Seguradoras de fora do Brasil têm modelo parecido com o da Darwin, como a Canva e a Lemonade — que inspiraram a companhia brasileira. No país, a startup é pioneira.
Vaz acredita que a inteligência artificial pode mudar esse mercado. “Obviamente a IA ajuda muito. Não só na hora de oferecer um preço de segura: ajuda em mecanismos antifraude. Mas o que vai ganhar o jogo a longo prazo é de fato uma experiência de ponta a ponta.”
Aportes e expansão
Atualmente a Darwin atua com o seguro de automóveis, mas esse cenário pode mudar no futuro. O executivo conta que um dos impulsos para começar com o mercado de automóveis é a proporção de 30% da frota brasileira segurada, enquanto os outros 70% estão fora do mercado,
“Nós vamos expandir para outros produtos, a nossa ideia não é ser uma seguradora apenas de automóveis, queremos ser um ecossistema de proteção”, conta Jone.
Para crescer é necessário dinheiro. Até hoje a Darwin recebeu um único investimento de R$ 11 milhões, mas conta que “tem um pipeline de aportes”.
A startup também quer expandir sua base de funcionários, e diz que está contratando.
AWS é parceiro-chave da Darwin
A empresa conta com a AWS como um de seus parceiros-chave para o negócio. Jone lembra: “A empresa continua com o desafio de montar uma seguradora do zero em seis meses. Para tornar isso possível, teve que se calçar em várias premissas. Uma delas é ser muito rápido nas escolhas de tecnologia. Muito antes de a gente aplicar para o sandbox, já estava com a arquitetura toda desenhada e definida. Quando submetemos nosso plano de negócios, estávamos com a estruturação da seguradora rodando. Para implementar a tecnologia rápido, contamos com nosso parceiro de nuvem, a AWS.”
O CTO da Darwin complementa: “E como isso ajudou a gente? A AWS tem praticamente solução para qualquer tipo de problema na hora de desenvolver um software e de pensar em algo relacionado a dados. É um cardápio gigante de soluções.”