Crise hídrica é a pior em 90 anos; risco de racionamento dobra para 10%

Projeções da equipe de macroeconomia do Itaú apontam para um aumento do risco de racionamento no Brasil de 5% para 10%. A piora da crise hídrica com a escassez de chuva e a dificuldade na diminuição do consumo de energia fez com que as projeções do banco aumentassem.

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Trata-se da maior crise hídrica em 91 anos. Desde abril, as chuvas estão abaixo da média e, de acordo com o Itaú, não se pode descartar a possibilidade de que algumas regiões tenham períodos de escassez generalizada, o que aponta para um risco de racionamento maior.

Na noite de terça-feira, dia 31, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) definiu uma nova bandeira tarifária para a cobrança do consumo de eletricidade, entitulada “bandeira escassez hídrica“. A nova bandeira custará R$ 14,20 a cada 100 kWh (quilowatt-hora) e vigora a partir desta quarta-feira (1°) até abril de 2022.

Anteriormente, vigorou a bandeira 2 vermelha, com o valor de R$ 9,49 a cada 100 kWh. As bandeiras —verde, amarela e vermelha— que constam na conta de luz servem para indicar a necessidade de se reduzir o consumo de energia.

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Com o agravamento da crise hídrica, que fez secar rios que abastecem os reservatórios das hidrelétricas, o Brasil passou a importar energia da Argentina e do Uruguai e a acionar termelétricas por, em média, R$ 2.000 o MWh. No período de setembro a novembro, o total desses custos chegará em R$ 13,2 bilhões, valores que precisam ser repassados para a tarifa.

Reflexo da crise hídrica no bolso

Para o Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o aumento da Aneel ainda é inferior ao valor necessário para suplantar o déficit financeiro arcado pelas distribuidoras que estão comprando energia de fonte mais cara, como é o caso de termoelétricas, para segurar a crise hídrica.

Representantes de distribuidoras, associações de consumidores e analistas de mercado estimavam que a bandeira 2 vermelha teria que dobrar de valor em setembro para cobrir a alta dos custos de geração de energia. Isso porque o déficit financeiro saltou de R$ 3 bilhões, em junho, quando ocorreu o último reajuste, para R$ 5,2 bilhões.

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“Outro aspecto relevante é que o fato de fixar a bandeira em R$ 14,20 até o ano que vem, é para minimizar apreensões sobre uma nova elevação, mas abre um passivo de risco para frustrações com o regime de chuvas” indica o economista em vista da incerteza sobre o prolongamento da crise hídrica.

Na tentativa de aliviar as contas dos consumidores, o Ministério de Minas e Energia (MME) divulgou o programa de incentivo à redução de consumo. A bonificação ao consumidor é de R$ 50 na economia de 100kwh pelo período de setembro a dezembro de 2021 (passível de extensão). Tem o adendo de que o desconto total é limitado a 20% da conta.

Sanchez destaca que “tal alívio poderá entrar nas contas efetivas, mas possivelmente não será incorporado ao IPCA“. O Itaú prevê que a inflação pelo IPCA possa chegar a 8% este ano —ante a previsão atual de 6,9%.

“O programa de desconto do governo poderá não aliviar a conta de 2021, mas com certeza encarecerá a conta de 2022”, diz Sanchez. A Ativa atribuiu viés altista à projeção de 3,5% para o IPCA do próximo ano, em reflexo a crise hídrica deste ano.

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Monique Lima

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