As últimas semanas provavelmente fizeram até o maior entusiasta de criptoativos levar as mãos à cabeça. A correção, especialmente do bitcoin (BTC), assinalou os riscos do investimento. Mas mesmo com a volatilidade acentuada, o aumento de interesse por parte de investidores — inclusive institucionais — tornou difícil não acompanhar o fenômeno. Na verdade, deixar de fazê-lo configuraria um erro crasso, de acordo com especialistas. E, para os mais “desconfiados”, ETFs de criptomoedas podem ser a porta de entrada ideal, apontam.
Não é preciso ir muito longe para encontrá-los. No mês passado, a B3 (B3SA3) iniciou a negociação do ETF Hashdex Nasdaq Cryto Index (HASH11), o primeiro fundo referenciado em um índice de criptomoedas no Brasil. O ativo opera hoje por volta de R$ 37,00, conforme dados de sexta-feira (28), um desconto de 26% ante o valor inicial de aproximadamente R$ 50,00 por cota.
Allan Augusto Gallo Antonio, analista do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica e mestrando em Economia e Mercados pela mesma universidade, explicou que — não necessariamente — é preciso um ETF para pisar nesse mercado. O ativo seria apenas mais um produto disponível no mercado financeiro, que não anula, tampouco substitui o investimento direto em criptomoedas.
“Trata-se de uma opção de diversificação dos investimentos. Podemos comparar os ETFs com uma cesta de produtos negociados em bolsa e que acompanham um determinado índice. Ao invés de ficar exposto apenas a um único criptoativo (como por exemplo bitcoin), os ETFs permitem que se invista em um ‘cesta’ de criptoativos que atualmente incluí: bitcoin, ethereum, stellar, litecoin, bitcoin cash e chainlink”, afirmou Gallo Antonio.
Adicionalmente, o investidor desfrutaria da supervisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da própria B3, o que poderia dar uma camada extra de segurança aos desconfiados e/ou inexperientes, expôs o analista.
Ainda assim, o fundo de índice de criptomoedas continua a ter os prós e contras. Embora seja um instrumento barato e passivo — não conta com a opinião de um gestor por trás — não resolve um dos maiores problemas: o da volatilidade.
“É sempre cinquenta tons de cinza”, salientou Mauro Morelli, estrategista da Davos Financial Partnership. “É preciso entender a volatilidade absurda que essa classe tem. O investidor precisa ter essa visão. É um investimento de extremo risco.”
Na visão de Morelli, esse é um mercado extremamente novo, fator que torna difícil de dizer como vai avançar. Mas o estrategista sustenta a posição: “não acho que é ‘modinha’, não acho que vai passar”. A dificuldade estaria em como e quando entrar na onda.
ETFs de criptomoedas são solução para timing
Segundo o especialista, há um timing específico que não pode ser muito cedo, nem tão tarde. Para elucidar o ponto, Mauro Morelli deu o exemplo das redes sociais.
No início do século, com o advento da web 2.0, surgiram as primeiras redes sociais nos moldes atuais. Second Life, Flickr e Orkut se tornaram grandes nomes do mercado, mas perderam espaço com o arrefecimento do frenesi. O Google+ teve o mesmo fim, embora sem o sucesso em um primeiro momento.
O ideal, segundo Morelli, seria encontrar o “Facebook (FBOK34) das criptomoedas”. E é aí que mora o perigo.
De acordo com dados do site CoinMarketCap, o mercado global de criptoativos ronda hoje por volta de US$ 1,6 trilhões (cerca de R$ 8,4 trilhões). O capitalização do bitcoin — além da mais famosa, a mais valiosa criptomoeda do mercado — é estimado em mais de US$ 685,45 bilhões. Isso seria o bastante para apostar no ativo como principal expoente no futuro? O estrategista da Davos disse não se arriscar.
A título de exemplo, o bitcoin vem passando por uma fritura nas últimas semanas devido ao alto consumo de energia demandada pelos processadores associados à mineração do ativo.
Levantamento da Cambridge Center for Alternative Finance (CCAF) estimou que o consumo de eletricidade para operar a rede de bitcoin disparou de 72,19 terawatts-hora, em dezembro de 2019, para 113,87 terawatts-hora, atualmente.
“Se eu pudesse dar uma dica seria: fujam do monoativos. O importe é a liquidez”, afirmou Mauro Morelli. Segundo o especialista, não vale a pena tentar a sorte para encontrar o bilhete dourado. Mais inteligente seria comprar um pacote, pois “as perspectivas são positivas. A demanda mal começou.”
“Um caminho sem volta”
Na análise de especialistas, apesar da recente correção, a tendência é de desenvolvimento e expansão do mercado de criptomoedas.
“Em termos de mercado, não há motivos para temer, mesmo com um período de queda do valor negociado dos bitcoins. É preciso enxergar isso como uma oportunidade para comprar o ativo por um valor menor. Os investidores leigos têm medo de comprar as moedas digitais na queda e o fazem quando estão subindo. E quanto maior for a procura nos picos, maior será o valor agregado na hora da compra das criptomoedas”, disse Tasso Lago, especialista em criptomoedas e fundador da Financial Move.
Para Gallo Antonio, analista do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, embora ainda existam questões
a serem resolvidas, “os criptoativos são um caminho sem volta”.
Segundo o economista, espera-se crescimento no mercado de bitcoin por conta dos ETFs de criptomoedas, pois abririam as portas para investidores comuns e facilitariam a alocação de capital para gestores. “Numa sociedade que busca cada vez mais privacidade, praticidade e diminuição dos efeitos perversos dos abusos governamentais em matéria de política monetária e creditícia, as criptomoedas parecem uma inovação que veio para ficar.”