Bitcoin: Gurus veem bolha e ‘crash’ mas investidores mantêm aposta
A alta muito forte de um ativo ou índice é normalmente acompanhada por alguns mensageiros do caos, que logo apontam a possibilidade de formação de uma bolha que possa transformar todo o valor em pó assim que estourar. Com o rali do bitcoin e outras criptomoedas, que parece ter deixado seu auge no primeiro semestre, não é diferente, apesar de investidores desses ativos manterem a confiança.
Grandes nomes do mercado alertaram investidores do mundo todo de esses ativos poderiam, sim, ser uma bolha e logo sofrer um grande “crash“, com reversão de tendência em direção aos retornos negativos.
Guru da educação financeira, Robert Kiyosaki, autor do livro “Pai Rico, Pai Pobre” foi um dos que vieram à público alertar os investidores sobre o que, na visão dele, pode ser uma bolha das criptomoedas.
Autor de Pai Rico, Pai Pobre fez previsão sobre bitcoin
Kiyosaki disse, na semana passada, que o mercado, chamado por ele mesmo de “maior bolha da história mundial” está cada vez maior e que “o maior acidente da história mundial está chegando”.
O autor informou ainda que está comprando mais ouro e prata e aguarda o preço do Bitcoin chegar a próximo de US$ 24 mil para comprar. “Quedas são o melhor momento para ficar rico. Tomem cuidado”, afirmou.
Biggest bubble in world history getting bigger. Biggest crash in world history coming. Buying more gold and silver. Waiting for Bitcoin to drop to $24 k. Crashes best time to get rich. Take care.
— therealkiyosaki (@theRealKiyosaki) June 19, 2021
Michael Burry fez alerta sobre criptomoedas e ações meme
E não foi só o autor de “Pai Rico, Pai Pobre” que está preocupado em relação ao desempenho das criptomoedas. Michael Burry, famoso gestor norte-americano que previu a crise de 2008, também alertou investidores sobre os riscos do estouro de uma bolha e a desvalorização desses ativos.
Segundo o gestor da Scion Asset Management, que teve sua atuação representada pelo ator Christian Bale no filme “A Grande Aposta”, foi ao Twitter dizer que as perdas com criptmoedas e ações meme, como o caso GameStop, podem ser do “tamanho de países”.
“Todo esse hype/especulação está atraindo o varejo antes da mãe de todos os crashes“, afirmou. “Quando as criptomoedas despencarem trilhões ou as ações meme caírem dezenas de bilhões, as perdas se aproximarão do tamanho de países”, disse na rede social.
De acordo com reportagem da “Bloomberg”, Burry costuma deletar as postagens das redes sociais pouco tempo depois de serem publicadas pois teve problemas com a Securities and Exchange Commission (SEC), que regula o mercado nos EUA.
Burry é reconhecidamente um dos primeiros profissionais a perceber e a lucrar com a bolha das hipotecas, conhecida como crise do subprime, que marcou os Estados Unidos.
Em 2005, já prevendo a bolha do mercado imobiliário dos Estados Unidos estourar, Michael Burry começou a investir em crédito de risco ou subprime, como é conhecido em inglês. Ele estava certo: a crise hipotecária no mercado norte-americano entrou em colapso em 2007.
Ele já tinha vindo à toa ao afirmar que Bitcoin não é nada mais é que um esquema Ponzi. Uma pirâmide financeira. Além disso, também já havia direcionado suas ressalvas à Tesla, que, com ganhos estratosféricos nos últimos anos, também chamaram a atenção dos gurus.
Bitcoin apagou ganhos de 2021
Coincidência ou não, a má fase do Bitcoin chegou e a moeda digital se aproxima do ponto de entrada de Kiyosaki. O Bitcoin apagou os ganhos do ano nesta terça-feira (22), atingindo o menor patamar desde o início de janeiro.
A maior criptomoeda do mundo chegou a ser negociada a US$ 30 mil no início do dia, com o aperto do cerco de autoridades governamentais chinesas, trazendo para baixo a grande maioria das criptomoedas.
Desde o dia 13 de abril deste ano, quando atingiu seu maior patamar, a US$ 64,37 mil, o Bitcoin caiu 52%. Quem comprou a criptomoeda no primeiro dia do ano e segurou até a máxima, estava com um ganho de 117%. Se permaneceu com o ativo até hoje, o lucro é de apenas 5%.
Para Virginia Prestes, professora de finanças da FAAP, a tentativa de prever o próximo grande crash, dessa vez das criptomoedas, fica apenas no campo das possibilidades, já que o mercado ainda é muito volátil e novo e, por isso, ainda não há como medir se há realmente uma bolha ou não nos ativos.
“Acho que é muito difícil e muito preliminar prever qualquer bolha nesse mercado, que é muito novo, de adaptação, os próprios usuários ainda estão tentando encaixar onde as criptos se encaixam melhor. Quando esse mercado começou, há cerca de dez anos atrás, falava-se muito em ser uma nova moeda. Mas, embora ainda se fale nisso, o que tem tomado a cabeça dos investidores é que as criptomoedas são reserva de valor”, disse.
“Acho um pouco precipitado falar sobre isso [o estouro da bolha]. Ninguém tem essa resposta. A cripto são afetadas por declarações do Elon Musk ou de governos, como o da China, que inibem essas cripto, então acho que é muito preliminar qualquer pessoa tentar prever algo nesse sentido”, completou.
Investidores de criptomoedas não temem queda
Apesar dos alertas de pessoas consideradas gurus dos mercados, investidores (ainda) não parecem assustados com as atuais quedas. Para João Canhada, diretor-presidente (CEO) e fundador da Foxbit, o alerta de Kiyosaki demonstra que ele deseja entrar no ativo – mas no preço certo.
“O Robert Kiyosaki é investidor público de Bitcoin e já apontou, em outras declarações, que espera um preço-alvo para o Bitcoin de até US$ 5 milhões de em cinco anos para esse ativo”, disse.
De acordo com Canhada, a queda se torna uma oportunidade de entrada para investidores que aguardavam uma correção nos preços.
“No longo prazo ele, eu e outros entusiastas de criptos continuamos firmes de que Bitcoin é uma ótima reserva de valor, mas enquanto o mercado descobre o preço justo, continuaremos voláteis”, afirmou.
“Acredito que pra quem não diversificou em Bictoin parte de seus investimentos e estava aguardando a oportunidade, estamos exatamente nela, aproveite”, completou o CEO da Foxbit.
Para Prestes, quem se interessa em aportar nesse tipo de ativo deve esperar que a alta volatilidade continue, para além da possibilidade de bolha ou não.
“Já tivemos grandes quedas e também grandes altas. O que o investidor deve esperar é alta volatilidade nesse mercado, como deve ter sido e ainda veremos bastante”, disse.
A queda dos últimos dias parece ter reabilitado o mercado. Nesta quarta-feira (23), o Bitcoin é negociado acima de US$ 34 mil, próximo da marca de quatro semanas atrás.
Queda não inibe lançamentos do mercado
Na ponta corporativa, a queda do Bitcoin parece não assustar a XP. Para além dos ETFs que utilizam as criptomoedas lançados neste ano, a companhia anunciou que, por meio da XP Seguros, um fundo de previdência de criptomoedas.
O Hashdex Criptoativos XP Seguros Prev FIC FIM, nome do fundo de criptomoedas, deverá oferecer uma gestão passiva, com 40% da carteira (o limite máximo) atrelada ao Hashdex Nasdaq Crypto Index e outros 60% na renda fixa.
“O lançamento do fundo de criptoativos atende a uma demanda crescente dos nossos clientes,” disse Roberto Teixeira, head da XP Seguros. O produto é uma alternativa ao investidor qualificado diversificar o portfólio, tendo em vista a rentabilidade de longo prazo, salientou o executivo.
“Além disso, o efeito de descorrelação que esse produto traz para o portfólio do investidor, pode oferecer oportunidades de maior retorno, sem necessariamente aumentar o risco, em um portfólio balanceado”, explicou o diretor da gestora de criptomoedas.