Igreja Universal recebeu R$ 72 milhões de chefe de suposta pirâmide com criptomoedas
Dias depois da prisão de Glaidson Acácio dos Santos sob acusação de chefiar um suposto esquema de pirâmide financeira com uso de criptomoedas, a Igreja Universal do Reino de Deus reconheceu ter recebido de Glaidson e de sua empresa, a GAS Consultoria Bitcoin, mais de R$ 72 milhões em doações.
A igreja evangélica, uma das maiores do segmento no Brasil, entrou com uma ação judicial para que Glaidson comprove a origem do dinheiro doado à instituição. Assim, a Igreja Universal tenta se antecipar a uma possível acusação de ter integrado o suposto esquema de pirâmide financeira, que movimentou bilhões de reais.
Glaidson já foi pastor da Universal na Venezuela, informou a igreja. Ele se desligou das funções pastorais, segundo a Universal, por ter alegado “impossibilidade de dedicação exclusiva ao serviço religioso”.
No documento apresentado à Justiça, a denominação evangélica disse que as doações vieram tanto de Glaidson, como pessoa física, quanto da própria GAS Consultoria Bitcoin.
Segundo a igreja, os valores entregues à Universal fogem “totalmente ao padrão de doações dos fiéis”, e que esse estranhamento teria feito com que um bispo da igreja, chamado Jadson Santos, questionasse Glaidson, o chefe de esquemas de pirâmides com cripotmoedas, sobre as doações.
A Universal afirma que Glaidson optou por se desligar da igreja após ser questionado pelo líder eclesiástico, e deixou de frequentar os cultos da igreja em Cabo Frio (RJ), onde Glaidson tinha residência e foi preso na semana passada justamente por causa acusações de montar pirâmides com criptomoedas.
Entre junho e julho, igreja recebeu R$ 30 mi em doações do acusado
“Nesse contexto, embora tenha recebido referidas doações de absoluta boa-fé, com a devida contabilização da entrada de recursos financeiros, a autora tem fundado receio quanto à origem ilícita dos valores”, diz o texto assinado por dezenas de advogados da igreja.
A Igreja Universal afirmou que desconhece a origem dos valores doados por Glaidson e quer tão somente “aferir a lícita procedência dos valores e prestar informações ao COAF ou a qualquer autoridade a respeito da legalidade das doações recebidas”. COAF é o Conselho de Controle de Atividades Financeiras.
Especialista em crimes de pirâmide financeira, o advogado Artêmio Picanço afirmou que a atitude da Igreja Universal representa um “contrassenso”, já que os próprios documentos apresentados pela igreja demonstram que a instituição religiosa já tinha indícios de atividade criminosa relacionadas a Nei Carlos dos Santos, também ex-pastor da igreja e que foi afastado em fevereiro de 2021 por apresentar patrimônio incompatível com a vida pastoral.
Além disso, Nei Carlos dos Santos tinha um escritório de psicologia no mesmo endereço ocupado pela GAS Consultoria em Brasília. Três meses depois de demitir Nei, a Universal solicitou abertura de inquérito policial contra ele. No entanto, a igreja continuou a receber doações de Glaidson e da GAS Consultoria.
Entre junho e julho, a denominação evangélica recebeu R$ 30 milhões em doações do acusado de chefiar o esquema de pirâmide financeira.
“A despeito de ter recebido tais vultosos numerários por mais de um ano, mesmo sabendo da sua origem duvidosa, teve-se a propositura da ação somente após a prisão preventiva de Glaidson”, destaca o advogado.
Prisão de Glaidson por esquema de pirâmide e criptomoedas
Glaidson Acácio dos Santos foi preso pela Polícia Federal na manhã da última quarta-feira (25), na Operação Kryptos. Ele é acusado de integrar um esquema de pirâmide financeira com criptomoedas baseado nas atividades da GAS Consultoria Bitcoin, empresa da qual é dono e cujo nome remete a suas iniciais.
Além de Glaidson, a PF cumpriu outros 14 mandados de busca e apreensão nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Distrito Federal. Há dois anos a GAS Consultoria Bitcoin era investigada pela PF e pelo Ministério Público por supostamente organizar um esquema de pirâmide financeira disfarçado de consultoria em criptomoedas.
Em seus anúncios, a GAS Consultoria Bitcoin prometia ganhos fixos de 10% ao mês com criptomoedas, com aporte mínimo inicial de R$ 10 mil. A empresa não tem registro para operar no mercado financeiro.
A operação da GAS Consultoria Bitcoin com criptomoedas foi denunciada pelo SUNO Notícias como suposta pirâmide financeira em julho de 2020.