Crescimento voltará em 2021, diz Luiz Figueiredo da Mauá Capital

O Brasil deve voltar a ter um crescimento robusto, acima de 3%, só a partir de 20121. A avaliação é de Luiz Fernando Figueiredo, sócio fundador e CEO da gestora de recursos Mauá Capital, empresa de gestão de recursos independentes que tem cerca de R$ 6,5 bilhões sob sua tutela.

Em entrevista exclusiva ao SUNO Notícias, Luiz Fernando Figueiredo, que também foi diretor do Banco Central (BC) e um dos fundadores da Gávea Investimentos, afirmou que os ativos listados na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) estão baratos.

“Só é recorde porque estamos comparando com um país quebrado, é só por isso, não é nenhuma exuberância”, explicou.

Além disso, o CEO da Mauá Capital também prevê problemas para os gestores de fundos brasileiros, acostumados aos produtos de renda fixa atrelados a uma Selic alta, que não deve retornar tão cedo.

“Acho que alguns vão ficar pelo caminho. Não quebrar, mas vão ter problemas até se adaptarem [a realidade de Selic baixa]”, concluiu. Confira a entrevista exclusiva:

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SUNO Notícias: como você começou no mercado financeiro e qual foi sua trajetória profissional até chegar ao Banco Central e a Mauá Capital?
Luis Fernando Figueiredo: comecei no início dos anos 1980, o mercado brasileiro era onde a inteligência financeira estava nas corretoras, os bancos eram muito de serviços, de conta corrente, e eu comecei a trajetória em uma corretora.

A minha formação acadêmica não é das melhores, pelo contrário, é uma formação mais pobre. Eu fiz administração de empresas com especialização em finanças na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), então minha trajetória foi muito com o desenvolvimento do mercado no Brasil.

Eu trabalhei em algumas corretoras, até que eu fui para o JP Morgan, que era um banco dos melhores do mundo em termos de tecnologia de investimentos, tecnologia financeira.

Acabei fazendo uma espécie de MBA lá, onde fiquei até 1992 depois tive uma passagem rápida no banco Nacional. Em 1999, o Armínio Fraga foi convidado para ser presidente do BC e, dentre várias pessoas, ele acabou optando, meio maluco, por me levar e foi uma terceira, digamos, etapa da minha carreira que foi transformacional.

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Por que? Porque, primeiro, diretor de política monetária, na minha visão, até então era eu na terra e esse cara no céu, era um patamar completamente diferente, foi um upgrade inesperado e impressionante e de um aprendizado que não há PHD no MIT que dê, em termos de conhecimento, entendimento do que ocorre no mundo, maturidade.

Então foram quatro anos nos quais o Brasil passou por muitas crises a gente até que saiu direitinho, fizemos muitas coisas legais, uma das coisas bacanas que fiz foi capitanear uma mudança do sistema de pagamentos brasileiro, que é uma revolução no sistema financeiro, algo muito interessante e isso me transformou como profissional e eu tive uma relação praticamente de irmão com o Armínio durante quatro anos.

Daí fundamos a Gávea, uma Asset que faz Brasil, mas é mais global e faz Private Equity.

Isso no começo dos anos 2000? Perto de 2002, 2003, certo?
A partir de 2003 até 2005 nós fundamos e tocamos juntos a Gávea até em 2005, quando sempre por uma questão meio boba. O Armínio queria muito que as coisas estivessem no Rio de Janeiro e eu disse que eu não iria para o Rio, achava tudo bem passar uns dias por lá, mas achava que até pelos business era melhor. No final, ele disse para nós continuarmos amigos e separar. Separamos em 2005, eu continuei sócio da Gávea por mais três anos e foi uma parceria a partir dali, mas com vidas independentes.

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Vivemos esses altos e baixos do Brasil, nos desenvolvemos, e hoje temos vários tipos de negócio, multimercados, fundos de crédito imobiliário em geral. Temos um negócio de ações que vamos falar um pouco, que acaba de fazer dois anos, que está indo espetacularmente bem, tocadas pelo Renato Ometto [sócio da Mauá] e mais cinco pessoas. Eu participo de todos os comitês de investimento, etc, e acho que é uma das áreas que mais tem pessoal, que está se tornando relevante, mas é um processo que vai crescer muito.

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A Mauá tem multimercados, crédito imobiliário, ações, estamos agora começando fundos de crédito e também montamos uma plataforma digital para fazer crédito imobiliários e créditos com garantia, chama-se Pontte, e tem o propósito de tornar a vida de quem toma crédito no Brasil uma vida boa.

Você acha que esse ano que se o governo começar a engatilhar a reforma Tributária, o pacto federativo, reformas que mexam com a burocracia, o senhor acha que ano que vem teremos uma boa surpresa, superior a previsão dos analistas para o PIB?
Acho muito difícil crescer. O nosso número é 2,4% para o ano que vem e acho muito difícil crescer muito mais do que isso. Na nossa visão, crescer mais que 3% é a partir de 2021.

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Ao mesmo tempo das previsões contidas para o crescimento deste ano e do próximo, a Bolsa está muito mais otimista, batendo máximas históricas e cresceu muito em relação ao ano passado. O que você acha? O mercado financeiro está eufórico, otimista demais ou estão prevendo o que vai acontecer e se posicionando antes?
Eu acho que a Bolsa está muito barata, ela está um preço histórico? Claro. Até um ano atrás, até hoje na verdade, o país estava quebrado. Então preço de país quebrado, se passa a um país não quebrado, é outro preço. Só é recorde porque estamos comparando com um país quebrado, é só por isso, não é nenhuma exuberância.

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Então o preço de hoje, se o país minimamente endereçar essa agenda, você está falando de outro tipo de preço. Se você hoje investe em um fundo DI que é de renda fixa, muito parecido com 70%, 80% de uma indústria de fundos que é de quase R$ 5,5 trilhões, você não consegue muito mais que inflação não. Antes, você ganhava 5%, 6%, 7% ao ano, então a realidade mudou.

O que isso quer dizer? Ativos financeiros tendem a perder valor comparados com ativos da economia real. Sempre se olhou muito para o estrangeiro, com razão, porque o estrangeiro foi sempre um investidor marginal, aquele que se o fluxo de entrada, a Bolsa sobe, se o fluxo desce, a Bolsa cai.

Isso mudou pois você tem uma migração, uma mudança muito grande, muito profunda, gradual, mas muito profunda do portfólio dos investidores locais. São quase R$ 6 trilhões, que está 70% em renda fixa, então o investidor marginal desta vez não será o estrangeiro. Só os fundos de pensão, eles estão fritos porque estão todos na renda fixa, todos têm uma passivo atuarial superior a 4% mais inflação, a chance deles chegarem a esse atuarial é zero. E, se não chegar, a patrocinadora tem que aportar capital, não tem conversa.

Você acha que vai ter problema de fundo que não vai conseguir respeitar esses resultados e quebrar?
Quebrar não, mas problemas atuariais serão muitos. Porque eles irão migrar para uma coisa mais decente que é o que acontece com o mundo que é uma rentabilidade maior, com mais risco, de uma maneira saudável, só que esse é um processo lento. Vai dar tempo? Acho que alguns vão ficar pelo caminho. Não quebrar, mas vão ter problemas até se adaptarem.

Sobre essa migração para a Bolsa. Onde você acha que a Bolsa pode chegar, neste ano e no próximo, se tudo ocorrer sem grandes repercussões?
Falar de números é sempre um chute. A chance de acertar é próxima do 0. Mas, para uma noção, eu acho que a Bolsa pode terminar muito bem entre 120 mil e 130 mil pontos. E, no ano que vem, se essa agenda de reformas continuar e lá fora a gente não se esborrachar, você pode ver a Bolsa em 150 mil pontos.

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Essa redução da Selic também está levando muita gente da renda fixa para a variável. Você não acha que é uma questão mais ligada ao baixo crescimento da economia, então é uma questão necessária e não deverá levar a melhora econômica do país?
O que nós estamos vivendo, ainda é uma situação ruim. Quando você tem 12 milhões de desempregados, você não pode falar que estamos numa boa, mas a margem está melhorando, o país está formando mais empregos do que mandando gente embora. Infelizmente, nós ficamos dez, 15 anos para trás, então vamos com calma que é um processo devagar. Crescer mais é para 2021.

Vinicius Pereira

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