Crédito é trunfo dos grandes bancos na briga por clientes com as fintechs
Em um cenário de maior competição bancária com a chegada do open banking, que permitirá que os clientes autorizem o compartilhamento de seus dados com instituições financeiras, os grandes bancos deverão usar o crédito como escudo para a ofensiva das fintechs sobre seus clientes.
Dinheiro, as grandes instituições já têm: os ativos totais dos cinco principais bancos do País – Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11), Banco do Brasil (BBAS3) e Caixa Econômica Federal – somam R$ 7 trilhões. Agora, chegou a hora de aplicar tecnologia e inovação no negócio, para garantir uma “sintonia fina” nas liberações de crédito aos clientes.
Além dos desafios tecnológicos, que incluem a conexão entre as instituições financeiras para o compartilhamento desses dados, os bancos terão de definir o nicho em que são mais competitivos, diz o diretor da área bancária da consultoria alemã Roland Berger, João Bragança.
“As ofertas de crédito precisam ser customizadas e o desafio será esse. Serão necessárias escolhas”, diz. Um dos pontos-chave, para Bragança, é o foco na faixa de clientes na qual o crédito é um trunfo: a renda média, que precisa de financiamentos para automóveis e residências, por exemplo.
Classe média na mira dos créditos dos bancos
“Os bancos precisam olhar para suas fortalezas, os nichos que alcançam e trabalhar esses segmentos. Terão de olhar para cada segmento, tomar essas decisões estratégicas e brigar para preservar a base de clientes”, frisa Bragança.
É necessário que os bancos se preparem para um contexto de maior concorrência para não perder dinheiro para as fintechs. De acordo com o especialista, os grandes bancos têm a vantagem de já terem uma oferta organizada de crédito para a classe média.
Esse é um segmento menos atrativo para as gigantes de investimentos, como XP e BTG (BPAC11), que devem continuar focadas na alta renda. Já a baixa renda, segundo a Roland Berger, deve ser atraída pelos bancos digitais, que oferecem contas gratuitas e serviços de pagamento.
Além disso, é muito difícil para uma fintech ou plataforma conseguir prover crédito no nível dos bancos, dada a necessidade de capital robusto.
Presidente da Xsfera, assessoria de negócios especializada na indústria financeira, Fausto Ferraz de Arruda aponta que os bancos têm um funding (captação de recursos) muito barato, principalmente por meio do depósito à vista, nome dado para o dinheiro que o cliente deixa parado na conta-corrente.
Olhar para dentro
Com o open banking, o cliente de um banco poderá ser constantemente assediado e tentado a levar seu dinheiro a um concorrente. Por isso, especialistas apontam que, se os bancos não melhorarem o leque de produtos e investirem na experiência digital dos clientes, os recursos migrarão – como já ocorreu no caso dos investimentos.
É importante o olhar dos bancos em relação aos próprios clientes – algumas instituições já começaram a adequar produtos ao perfil do cliente e ajustar para cima o limite do cartão de crédito, antes que um concorrente o faça.
Para Jean Lopes, diretor para instituições financeiras da Fitch, o open banking acelera uma agenda que já estava nas mãos dos grandes bancos: a segmentação de seus clientes. “Será um jogo em que vale o poder de adaptação de cada banco, com foco na experiência do cliente. É isso que vai fidelizar”, diz.
Outro trabalho é evitar que o consumidor não seja incomodado por propostas que não têm relação com seu perfil: hoje, é comum pessoas de alta renda receberem ofertas de crédito consignado ou clientes que não têm carro serem impactados por propaganda de seguro de automóvel.
Com informações de Estadão Conteúdo.