Relatório da CPI acusa sócios da 123milhas de transferirem dinheiro da empresa para contas pessoais; empresa nega
O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras destaca que os donos da 123milhas transferiram dinheiro da empresa para contas pessoais e de parentes nas semanas anteriores ao escândalo envolvendo vendas de passagens promocionais pela companhia. A 123milhas nega as acusações.
Segundo o relatório, foram retirados R$ 13,5 milhões das contas da 123milhas nas semanas antes do escândalo. “Já cientes da derrocada da empresa, executaram estratégias para desviar ativos dela para si e para seus parentes”, diz trecho do relatório.
Ainda de acordo com a CPI, após quebra do sigilo dos sócios da 123Milhas e dos seus familiares, foi observada uma grande quantidade de operações bancárias suspeitas realizadas nos últimos anos. Uma delas envolvendo o pai dos sócios, José Augusto Madureira, que solicitou um provisionamento para saque de R$ 839 mil para sua empresa de publicidade que oferecia serviço a 123 milhas.
A CPI enfatiza que a movimentação da 123Milhas era incompatível com o patrimônio e a atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira de Madureira. “Por ora, cabe apenas destacar que o José Augusto Madureira, sócio da Caeli e pais dos sócios da 123milhas, praticou, a partir do fim de 2022, diversas movimentações financeiras classificadas como suspeitas por Relatórios de Inteligência Financeira do Coaf.”
Em relação à venda de passagens promocionais, para o relator da CPI, deputado Ricardo Silva (PSD-SP), a ação da 123milhas se configurou como esquema de pirâmide.
“É possível que a Linha Promo tenha funcionado como um esquema de pirâmide/esquema ponzi, em que o valor obtido com novas compras era utilizado para emitir passagens de clientes mais antigos e, claro, enriquecer os sócios, até o esquema ruir”, cita trecho do relatório.
123milhas nega acusações da CPI
A empresa nega a acusação da CPI:
“A 123milhas informa que é leviana a afirmação de que sócios e parentes realizaram movimentações financeiras ilícitas ou ocultação de patrimônio. Seus balanços, declarações fiscais sempre foram transparentes, legítimos e regulares.
Os pagamentos de empréstimos contabilizados pela 123milhas foram devolvidos pelos seus credores, entre os dias 24 e 28 de agosto, exclusivamente em razão da decisão da empresa de pedir recuperação judicial, protocolada no dia 29 de agosto de 2023.
Tal medida foi tomada para que não houvesse privilégio no pagamento dos credores, como determina a lei. O ato demonstra boa-fé e rigidez de conduta dos sócios, e não o contrário como faz parecer a comissão.”
CPI das pirâmides financeiras solicita indiciamento de sócios
O relator Ricardo Silva (PSD-SP) propôs que o Ministério Público indicie 45 pessoas por crimes contra o sistema financeiro e fraudes, incluindo os donos da 123 milhas.
No caso da agência de viagens, a CPI pede o indiciamento dos sócios Ramiro, Augusto e Cristiane Madureira pelos supostos crimes de estelionato, gestão fraudulenta, organização criminosa, lavagem de dinheiro e contra as relações de consumo.
Além disso, foi solicitado o indiciamento de Tânia Madureira, sócia da HotMilhas (empresa do mesmo grupo econômico) e outros quatro familiares dos donos, entre eles o pai, José Augusto Madureira, que atuava como dono da agência de publicidade Caeli, que prestava serviços para a 123 milhas.
CPI pede indiciamento de ex-jogador de futebol
O relator Ricardo Silva também propôs que o ex-jogador de futebol Ronaldo de Assis Moreira, o “Ronaldinho Gaúcho“, seja processado por estelionato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e operação de instituição financeira sem autorização.
O pedido também se estende ao irmão, Assis Moreira, e a Marcelo Lara, antigo dono da 18K Ronaldinho. Todos são acusados de participarem de um golpe em milhares de pessoas com um esquema de pirâmide que prometia remuneração de 2% ao dia (400% ao mês).
Ainda no texto do relator, foram incluídos dados de um relatório de inteligência financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com “várias operações suspeitas sem justificativa aparente”.
No depoimento à CPI, Ronaldinho e seu irmão negaram ter vínculo com a empresa e acusam uso indevido de imagem. Disseram ainda que o contrato ocorreu apenas para divulgação de uma marca de relógios e que não operou com investimentos.