A redução no preço da gasolina, anunciada nesta terça (19) pela Petrobras (PETR4), deve provocar um impacto na inflação medida pelo IPCA. Mas qual seria o tamanho exato dessa diminuição?
O corte de R$ 0,20 no preço da gasolina nas refinarias, comunicado pela Petrobras, deve retirar entre 0,20 e 0,25 ponto porcentual da inflação em 2022, estima o economista-chefe do Banco Alfa, Luís Otávio de Souza Leal. Os efeitos no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) devem ocorrer em julho e, majoritariamente, em agosto.
A projeção de Leal é de deflação entre 0,60% e 0,70% neste mês e de variação próxima de zero no próximo. Para o resultado do IPCA em 2022, a expectativa de 7,30% ainda não foi revisada.
Em relação ao efeito total da redução no preço final da gasolina ao consumidor, o economista afirma que a sequência de alterações no preço em um curto espaço de tempo dificulta o cálculo.
“É tanto impacto junto nos combustíveis que fica difícil mensurar o que vai ficar no fim das contas. Quando a expectativa é de redução de R$ 0,10, cada centavo faz diferença, e o posto pode ser cobrado por isso. Mas quando são quase R$ 2,00 na soma dos ajustes, os centavos acabam perdidos no caminho”, explica.
Abicom: reajuste da gasolina é coerente, mas não dá segurança a importador
O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, definiu a redução de 4,9% no preço da gasolina pela Petrobras como “tecnicamente acertada” e “coerente”, um primeiro sinal de que a atual gestão da estatal pode respeitar o preço de paridade internacional. Ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, porém, ele afirmou que o histórico de preços represados pela companhia nos últimos meses e a proximidade das eleições ainda são empecilhos para que pequenos e médios importadores de combustível retomem suas operações.
“De fato, as janelas para importação estavam abertas para gasolina e para o diesel. Para a gasolina, havia uns seis ou sete dias. Então, faz sentido a movimentação feita pela Petrobras. A companhia foi coerente com o compromisso de praticar o preço de paridade internacional (PPI)”, disse.
Ele faz referência ao momento em que se torna vantajoso ao importador trazer combustível de fora para comercializar no mercado doméstico, justamente quando os preços da Petrobras estão acima ou pelo menos alinhados aos praticados no exterior.
No caso do diesel, a volatilidade mais elevada e o desequilíbrio entre demanda e oferta que pressiona os preços ainda inspiram conduta mais cuidadosa por parte da Petrobras, afirmou Araújo. “É natural que a Petrobras aguarde e tenha mais cautela em fazer qualquer movimentação de preço no diesel nesse momento, mesmo com os preços um pouco mais baixos no exterior.”
Apesar da sinalização de que vai seguir o PPI, Araújo pondera que, na prática, o cenário não muda para os importadores. “Nossos associados ainda se sentem inseguros, exatamente em função do histórico desse 2022, em que a Petrobras esteve consistentemente trabalhando com preços artificiais, abaixo da paridade. Isso coloca uma desconfiança muito grande, além do ambiente pré-eleitoral, que também traz incertezas”, disse.
Segundo Araújo, os dez importadores associados da Abicom não operaram ao longo do ano e não devem se movimentar para importar combustível no curto prazo. “Da mesma forma que se anuncia redução em linha com o preço internacional, esperamos que elevações nesse preço também sejam refletidas em reajustes futuros”, afirmou.
De acordo com a Abicom, nesta terça-feira, antes do reajuste, a gasolina no Brasil estava 8% acima do preço do mercado internacional, o que poderia significar queda de até R$ 0,30 por litro no mercado interno – a Petrobras vai reduzir em R$ 0,20. Em alguns portos, como Suape, em Pernambuco, a defasagem de preços chegava a 10%, segundo a Abicom. Já no diesel, a defasagem média é da ordem de 5% informou a entidade.
(Com informações do Estadão Conteúdo)